21
Feb17
Mais Raduan Nassar
Agora em Lavoura Arcaica, citado no blog de Pádua Fernandes.
– E fica também mais pobre o pobre que aplaude o rico, menor o pequeno que aplaude o grande, mais baixo o baixo que aplaude o alto, e assim por diante. Imaturo ou não, não reconheço mais os valores que me esmagam [...] a vítima ruidosa que aprova seu opressor se faz duas vezes prisioneira, a menos que faça essa pantomina atirada por seu cinismo.
15
Mar15
Marcelo Rubens Paiva, no sábado…
…sobre as manifestações do dia 13 e do dia 15:
Saí dum restaurante na Paulista, uma senhora perguntou: ‘Vc vem amanhã?’. Não. “Ah, vc veio ontem?” Tb não, respondi. Só tem duas opções?
— Marcelo Rubens Paiva (@marcelorubens) March 15, 2015
20
May14
Conversas com Maria Adélia Aparecida de Souza
Algumas anotações de um seminário na UFSC com a brilhante geógrafa Maria Adélia Aparecida de Souza, 75 anos e 54 de academia, professora titular da USP na área de planejamento urbano. Orientanda de Celso Furtado, ela é considerada herdeira do trabalho de Milton Santos. Depois do seminário, realizado na quarta 14/5, tive ainda o privilégio de acompanhar na sexta-feira sua arguição a uma tese de doutorado na Geografia (contundente, mas generosa e bem-humorada) e acompanhá-la numa visita de campo a Rancho Queimado. Foi uma semana valiosa.
Sustentabilidade
“Nada se sustenta! As pessoas precisam deixar de ser cínicas. O capitalismo é movido pela insustentabilidade”.
Educação ambiental
“O problema não está no mico-leão, está na voracidade das elites do mundo, que não respeitam a vida”.
O lugar e a vida
“Duas semanas antes de morrer, Milton me disse: ‘Por favor, cuide da questão do lugar’. O ponto de partida da geografia renovada é o significado de lugar. Nele nasce a vida de relações, logo a região, o mundo, toda a complexidade contemporânea. O lugar é a síntese da dinâmica do mundo nas relações sociais”.
“A descrição é sempre passado. O lugar não é morto, portanto, não é passível de descrição”.
Mobilidade urbana
“Para estudar mobilidade, deve-se considerar a segregação socioespacial”.
Críticas à academia
“A gente (geógrafos) não conhece absolutamente nada sobre como os pobres estão se virando nas periferias das cidades”.
“Eu responsabilizo os professores universitários pela decadência da universidade brasileira. Depois vêm os alunos, que abraçaram a mediocridade.”
“Publicar artigo com aluno é uma imoralidade, a não ser que ele já tenha doutorado. O aluno tem que ter a segurança de caminhar sozinho”.
“Os medíocres se agarram na forma”.
16
Apr14
As eleições e as energias renováveis
Entrevistei por telefone o físico Heitor Scalambrini Costa, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFPE. Ele é especialista em energias renováveis e ativista por uma nova política energética no Brasil. Nesse trechinho da nossa longa conversa, ele compartilha suas impressões sobre a corrida presidencial:
“Do ponto de vista das energias alternativas, o cenário eleitoral é triste. A Marina fez uma aliança pragmática com um candidato que defende a energia nuclear. Nesses sete anos de governo Eduardo Campos em Pernambuco, vimos um modelo predador. Nunca se desmatou tanto. Aécio é um candidato amorfo. O governo Dilma não tem princípios nessa área, ela é movida essencialmente pelos interesses de poder. Um exemplo: ela recebeu pressão e abriu a possibilidade para leilões de usinas de carvão mineral, uma das fontes mais poluidoras que existem. O Plano Decenal de Energia 2013-2022 prevê somente 1.400 megawatts de geração fotovoltaica – isso é irrisório e inibe o mercado. O Brasil hoje corre o risco de perder a corrida do ouro pela energia solar, por falta de uma política industrial para o setor. As mudanças vão depender de pressão social”.
24
Feb13
“Não utilizar a energia do sol é burrice”
O especialista em energias renováveis Heitor Scalambrini Costa, físico e professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Pernambuco, é entusiasta do uso da energia solar para geração de eletricidade – a tecnologia fotovoltaica. É também um áspero crítico do que qualifica de “cegueira” do governo brasileiro pela falta de uma política consistente de aproveitamento dessa riqueza. Hoje a participação da energia do sol na matriz energética nacional é quase nula, menos de 0,02% da potência instalada. Ele defende que o assunto não fique restrito a decisões técnicas e seja discutido democraticamente pela sociedade, na busca de uma matriz elétrica sustentável. “A diversidade e a complementaridade são as palavras chaves”, diz. Autor de dezenas de artigos, publicou em 2002 o livro de coletâneas “Equívocos de uma política energética” e, 2008, “Insatisfação além da conta”. Entrevistei o professor Scalambrini para uma reportagem sobre energia fotovoltaica que publiquei no jornal Valor Econômico. A íntegra da nossa conversa está neste link.
21
Jan13
Visita aos palestinos do campo de Aida
Primos Ricardo Gomes e Renilza Violante estão agora na Guatemala, quase na reta final da sua volta ao mundo que começou em fevereiro de 2012, quando “chutaram o balde” da estabilidade como engenheiros em Minas Gerais pra pegar a estrada. Em outubro e novembro eles percorreram alguns países do Oriente Médio. Pouco depois de passarem pelo Irã, fizeram uma visita ao campo de refugiados palestinos de Aida, em Belém. Nada de neutralidade aqui. Embora a passagem por Aida tenha sido rápida, deu novos elementos para confirmar a simpatia do casal pela causa palestina. Como bons viajantes de olhos e corações abertos, eles pensam como o veterano jornalista britânico Robert Fisk, que há anos cobre conflitos na região: “Você tem de estar do lado da justiça, do equilíbrio, da decência, tem de se posicionar”. Um resumo da nossa conversa:
A visita foi planejada ou de improviso? Foi difícil o acesso?
Ricardo - Improviso. Antes de Aida imaginávamos que campos de refugiados eram lugares isolados, com pessoas vivendo em tendas, sem estrutura alguma. Mas isto é o caso de campos provisórios e recém-criados. Não sabíamos disso. Fomos a Belém para conhecer a Igreja da Natividade e bem próximo a ela está o Centro de Paz Belém. Fomos lá e pegamos algumas informações. Eles nos encorajaram a visitar algum campo. Vimos que seria fácil tomar um táxi até Aida e decidimos ir.
Qual foi a primeira impressão?
Renilza – Sentimos um pouco de medo. Apesar do enorme “Welcome to Aida Camp” na entrada, estávamos preocupados com nossa situação depois desta visita perante as autoridades de Israel. Isto porque antes de entrar em Israel fomos alertados de que não deveríamos dizer que iríamos visitar territórios palestinos e realmente os israelenses nos questionaram isto na imigração. E a forte presença do enorme muro que Israel construiu separando Aida do resto do mundo é muito opressora.
Como foi a experiência de terem sido recebidos como hóspedes pelas famílias palestinas?
Ricardo - Caminhamos bastante pelo campo (entenda o campo como um bairro pobre em uma grande cidade, por exemplo). Um grupo de crianças que acabava de sair da escola nos seguiu por um tempão, falando de futebol, perguntando sobre Brasil, dizendo que os israelenses são loucos, tudo isso num “mutirão de inglês”. Quando passamos pelos soldados que faziam a segurança de uma entrada, trocamos algumas palavras com eles e um civil que estava no meio nos convidou para tomar um chá. Topamos. Conhecemos sua esposa, filho e batemos papo um tempão. O cara estava desempregado, mas é músico e graduado em hotelaria. A casa é simples, com retratos de um tio e do pai, que morreu na última intifada. Como é praticamente impossível conversar com um palestino sem falar na relação com Israel, este acabou sendo o assunto predominante.
Quais são as principais carências dos palestinos no campo?
Renilza - Eu diria que seriam o pleno direito de ir e vir, empregos e perspectivas. Como disse em um momento o nosso anfitrião, ele, que nasceu no campo, acorda todos os dias e, ao olhar pela janela, a única coisa que pode ver é o muro. Este rapaz nos disse que há mais de 14 anos ele não visita Jerusalém, que fica a poucos minutos de sua casa.
Há muita tensão no ar?
Ricardo - Muita. Tente imaginar que aquele é um cenário de um povo muito poderoso dominando outro e ambos são muito orgulhosos de si e existe um ódio que não é possível disfarçar. A qualquer momento um adolescente, por exemplo, pode atirar uma pedra em um soldado, que responderá com tiros e isso tudo pode gerar mais uma guerra. A tensão é muito grande e nós mesmos fomos vítimas. Assim que entramos no campo, depois de caminhar uns 150 metros, um veículo militar parou na porta por onde entramos e quatro soldados desceram. Pensamos que eram israelenses e que nos dariam uma geral quando saíssemos. Ficamos com medo. Mas nos informamos e eram palestinos. Depois acabamos batendo um papo muito legal com os caras.
Como é o lazer em Aida?
Ricardo - Vimos uma escola com uma quadra e mais nada. Mas a galera se vira. Conversando com os soldados palestinos, vimos que são jovens normais, mulherengos, gozadores, usam facebook, gostam de futebol…
Como eles veem o futuro?
Ricardo – O jovem que nos recebeu em sua casa nos disse que não consegue pensar em um futuro que vá além de uma semana. Ao mesmo tempo em que faltam perspectivas, várias pessoas nos disseram que o que querem é paz. Quase ninguém gostaria de ver uma guerra do Irã com Israel, pois sabem que vai sobrar é para eles. Acredito que o fato de o Irã ser xiita e eles serem sunitas tem um peso importante. Os que são mais religiosos não veem com bons olhos os “favores” prestados pelo Irã. Entendi que o que todos querem é poder trabalhar e levar a vida. Para isto é preciso, antes de tudo, paz. Ir trabalhar ou viver fora, como na Jordânia, por exemplo, seria uma solução para muita gente.
Vocês conversaram de política internacional? Como eles se referem a Israel, Estados Unidos, Brasil?
Ricardo - Contra Israel só há ódio. Um senhor nos disse que Israel foi o presente maldito deixado pelos ingleses. Um garoto de uns 11 anos nos disse que os israelenses são loucos. Os Estados Unidos, ao mesmo tempo em que os atrapalham ajudando Israel, são uma fonte de esperança, pois se um dia eles mudarem de ideia, tudo mudaria para os palestinos em questão de meses. Alguns estavam temerosos com a possiblidade de vitória do Romney [a visita ocorreu antes das eleições presidenciais nos Estados Unidos]. Outros diziam que, ganhasse quem ganhasse, não mudaria nada. O Brasil é muito admirado e amado. O futebol ajuda muito, mas a aproximação promovida no governo Lula foi muito importante. Como exemplo, o local onde foi construído o mausoléu de Yasser Arafat em Ramallah fica na Avenida Brasil. Segundo um palestino que conhecemos, o motivo é que o governo brasileiro ajudou na construção das ruas que dão acesso ao monumento, que é um dos mais vistosos da cidade.
Como vocês perceberam a realidade feminina no campo de refugiados?
Renilza - Na verdade, dentro do campo tivemos contato com poucas pessoas. As ruas estavam bem vazias. Na casa que visitamos a esposa não tinha emprego nem muitas perspectivas, assim como o marido. Mas fora do campo, vimos as mulheres palestinas bem ativas, trabalhando, estudando, passando pela dura rotina de atravessar os pontos de controle diariamente. Acredito que, dentre os que são muçulmanos, os palestinos são menos conservadores que seus vizinhos árabes. Isto porque as mulheres se vestem de forma um pouco mais liberal, andam sozinhas, trabalham e estudam.
Qual é o balanço dessa experiência?
Ricardo – Foi um dos pontos mais emocionantes da viagem. Desde minha adolescência acompanho por livros, revistas e outras fontes o conflito árabe-israelense. Posso dizer que desde o início me posicionei do lado palestino. Visitar Israel, duas cidades palestinas, Aida, ser tratado com desprezo na imigração por ter ido ao Irã, passar pelos postos de controle duas vezes junto com os palestinos, sentir de perto a opressão concretizada pelos muros, ser extremamente bem tratado pelos palestinos e não receber sequer um olá de um judeu, talvez por eu ser parecido com os árabes, tudo isso me deixou muito aliviado, com a sensação de que escolhi o lado certo. Conhecer de perto dois povos que praticamente estão em guerra e suas realidades me forçou a ver de uma forma mais madura e menos romantizada como é viver em estado de guerra.
Como vocês avaliam o reconhecimento da Palestina pela ONU, ocorrido algumas semanas depois dessa visita?
Ricardo - Foi um passo importante. Isto legitima os anseios dos palestinos. Mais importante do que ser aceito, o fato de terem tido 138 votos a favor contra apenas nove contrários evidencia que ali ocorre uma grande injustiça. A curto prazo não muda nada, mas este reconhecimento é uma mensagem dada pela grande maioria dos povos, que reconhecem a Palestina como um Estado com os mesmos direitos dos demais. Israel recebeu uma mensagem em letras garrafais de que eles não são os donos da Palestina e que a insistência neste caminho poderá levar a um isolamento.
Fotos: acervo pessoal de Ricardo Gomes e Renilza Violante.
20
Dec12
Entrevista com Anwar Ibrahim, líder da oposição malaia
No 12º e último episódio da série, Julian Assange conversa via videolink com Anwar Ibrahim, o mais proeminente e provocador líder da oposição na Malásia.
Em busca de ideias poderosas que podem transformar o mundo, o fundador do WikiLeaks se depara com um caso que guarda semelhanças com a sua própria trajetória.
Após ter sido vice primeiro-ministro da Malásia na década de 90, Anwar Ibrahim foi expulso da política e preso por acusações de corrupção e crimes sexuais – no caso, sodomia, considerada ilegal no país asiático. Após seis anos no cárcere, ele foi inocentado das acusações. Mas, em 2008, teve que enfrentar novas acusações por crimes sexuais e encarar uma batalha legal de quatro anos. Só foi inocentado em janeiro de 2012.
Para ele, seu país é ainda menos democrático do que o vizinho Burma. Ele descreve democracia como “um judiciário independente, uma mídia livre e uma política econômica que pode promover crescimento e a economia de mercado”. Com essa plataforma, seu partido está ganhando mais apoio da população, chegando a ser uma ameaça ao atual governo nas próximas eleições gerais de 2013.
Agora, Ibrahim é acusado de ter participado em uma marcha por reformas eleitorais – reuniões não autorizadas também são consideradas crime – o que pode comprometer suas ambições eleitorais. Mas, durante a entrevista, ele se mostra otimista quando relembra a última campanha, em 2008. “Ganhamos 10 dos 11 mandatos parlamentares, então acredito que estamos maduros para um tipo de Primavera Malaia através do processo eleitoral”, diz.
Assista a entrevista a seguir, ou clique aqui para baixar o texto na íntegra.
Esta é a última de uma série de 12 entrevistas que o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, fez com líderes e pensadores contemporâneos. DVeras em Rede publica O Mundo Amanhã em parceria com a Agência Pública e o WikiLeaks.
Republicadores da série O Mundo Amanhã:
Anonymous Brasil * Agora Sustentabilidade * Baixa Cultura * Blog Brasil Acadêmico * Coletivo Catarse * Coletivo Digital * Desculpe a Nossa Falha * Diário de S. Paulo * DVeras em Rede * EBC* Estadão Online * Estado de Minas * Felipe Cabral * Jornal Informação * Jornal Mercadão *Nota de Rodapé * Opera Mundi * Papo de Homem * Portal Administradores * Portal Desacato *Revista Babel * Revista Fórum * Revista Samuel * Revista Sina * TV Unochapecó * TVT *Yahoo Brasil
12
Dec12
Entrevista: Noam Chomsky e Tariq Ali
Assange recebe Noam Chomsky e Tariq Ali para conversar sobre as mudanças políticas recentes ao redor do globo. Os dois analisam: para onde será que o mundo caminha?
Ninguém poderia tê-las previsto. Mas ainda com o mundo sob o efeito das revoluções no Oriente Médio, Assange se reuniu com dois pensadores de peso para saber o que eles pensam sobre o futuro.
Noam Chomsky, renomado linguista e pensador rebelde, e Tariq Ali, romancista de revoluções e historiador militar, encontram na Primavera Árabe questões sobre a independência das nações, a crise da democracia, sistemas políticos eficientes (ou não) e a legião de jovens ativistas que tem se levantado para protestar no mundo todo. “A democracia é como uma concha vazia, e é isso que está revoltando a juventude, ela sente que faça o que fizer, vote em quem votar, nada vai mudar. Daí todos esses protestos”, explica Ali.
“O que temos na política ocidental não é a extrema esquerda e nem a extrema direita, mas um extremo centro”, continua ele. “E esse extremo centro engloba tanto a centro-direita quanto a centro-esquerda, que concordam em fundamentos: travando guerras no exterior, ocupando países e punindo os pobres, punindo por meio de medidas de austeridade. Não importa qual o partido no poder, seja nos Estados Unidos ou no mundo ocidental… “.
Segundo o próprio Ali, a grande crise da democracia está pulsando nas mãos das corporações. “Quando você tem dois países europeus, como a Grécia e a Itália, e os políticos abdicando e dizendo ‘deixem os banqueiros comandar’… Para onde isso está indo? O que nós estamos testemunhando é a democracia se tornando cada vez mais despida de conteúdo”, critica o ativista.
Mas após as revoluções, as conquistas vêm da construção de novos modelos políticos, inventados. Chomsky cita a Bolívia como exemplo. “Eu não acho que as potências populares preocupadas em mudar suas próprias sociedades deveriam procurar modelos. Deveriam criar os modelos”. Para ele, a chegada da população indígena ao poder político através da figura de Evo Morales está se replicando no Equador e no Peru. “É melhor o Ocidente captar rápido alguns aspectos desses modelos, ou então ele vai se acabar”, alerta Chomsky.
Por outro lado, está na mãos dos jovens perceber a necessidade de agir, segundo Tariq Ali. “Não desistam. Tenham esperança. Permaneçam céticos. Sejam críticos com o sistema que tem nos dominado. E mais cedo ou mais tarde, se não essa geração, então nas próximas, as coisas vão mudar”.
Assista a entrevista a seguir, ou clique aqui para baixar o texto na íntegra.
05
Dec12
A guerra não declarada no Paquistão
No décimo episódio da série O Mundo Amanhã, Julian Assange encontra Imran Khan, candidato à presidência do Paquistão, para discutir o futuro de um dos países mais afetados pela Guerra ao Terror
Ao longo de 25 minutos, Julian Assange recebe Imran Khan, que nos anos 70 e 80 foi capitão do vitorioso time de críquete do Paquistão, para conversar sobre corrupção, Osama Bin Laden, soberania e bombas atômicas. Isso porque hoje Khan está na corrida para se tornar o próximo presidente do país nas eleições de 2013, liderando a oposição com o partido que criou, o Movimento para Justiça, que combate a corrupção no país.
O Paquistão tem uma dívida acumulada de 12 trilhões. “Metade do nosso PIB vai para o pagamento de dívidas, 600 bilhões vão para o exército e assim 180 milhões de pessoas têm 200 bilhões de rúpias para sobreviver. Então, claramente, o país está inviabilizado”, pndera o político. A crise é sentida na pele pela população: em áreas urbanas, não há eletricidade por até 15 horas durante o dia, e os apagões chegam a durar 18 horas nas áreas rurais.
Khan se tornou a principal voz crítica ao fazer denúncias sobre o governo do Paquistão, um dos países mais afetados pela Guerra ao Terror promovida pelos EUA. “Quarenta mil paquistaneses foram mortos em uma guerra com a qual não temos nada a ver. Basicamente, nosso próprio exército matando nosso povo e eles fazendo ataques suicidas a civis paquistaneses. O país já perdeu 70 bilhões de dólares nessa guerra. A ajuda humanitária total tem sido de menos de US$ 20 bilhões”, diz Khan.
Mas como Khan levaria a relação com os Estados Unidos caso fosse eleito? “Não deveria ser uma relação de cliente-patrão, e pior ainda, o Paquistão como pistoleiro contratado, sendo pago para matar inimigos da América. Nós somos um Estado independente e soberano e a relação com os EUA deve ser de dignidade e respeito mútuo, não mais uma relação de cliente-patrão”, diz. Resta saber se, caso ele vença, cumprirá suas palavras.
Assista a entrevista a seguir, ou clique aqui para baixar o texto na íntegra.
Esta é a décima de uma série de 12 entrevistas que o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, fez com líderes e pensadores contemporâneos. DVeras em Rede publica O Mundo Amanhã em parceria com a Agência Pública e o WikiLeaks.
29
Nov12
O Mundo Amanhã: a guerra virtual, parte 2
Na segunda parte do episódio com os Criptopunks, o debate é sobre a arquitetura da internet, a liberdade de expressão e as consequências da luta por novas políticas na web
Na luta pela liberdade na web, os Criptopunks lançam algumas luzes sobre a guerra virtual entre o compartilhamento livre e o roubo, o poder dos governos em intervir versus a liberdade de expressão – e as consequências dessa batalha.
“A arquitetura é a verdade. E isso vale para a internet em relação às comunicações. Os chamados ‘sistemas legais de interceptação’, que são só uma forma branda de dizer ‘espionar pessoas’. Certo?”, cutuca Jacob. “Você apenas coloca “legal” após qualquer coisa porque quem está fazendo é o Estado. Mas na verdade é a arquitetura do Estado que o permite fazer isso, no fim das contas. É a arquitetura das leis e a arquitetura da tecnologia assim como a arquitetura dos sistemas financeiros”.
O debate segue apoiado nas possíveis perspectivas para o futuro. Para os Criptopunks, as políticas devem se pautar na sociedade e nas mudanças que seguem com ela, não o contrário.
“Temos a impressão, com a batalha dos direitos autorais, de que os legisladores tentam fazer com que toda a sociedade mude para se adaptar ao esquema que é definido por Hollywood. Esta não é a forma de se fazer boas políticas. Uma boa política observa o mundo e se adapta a ele, de modo a corrigir o que é errado e permitir o que é bom”, diz Jeremie.
Mas a busca por novas políticas e uma nova arquitetura tem seu preço. Jacob, detido várias vezes em aeroportos americanos, conta: “Eles disseram que eu sei por que isso ocorre. Depende de quando, eles sempre me dão respostas diferentes. Mas geralmente dão uma resposta, que é a mesma em todas instâncias: ‘porque nós podemos’”.
E provoca: “A censura e vigilância não são problemas de ‘outros lugares’. As pessoas no Ocidente adoram falar sobre como iranianos e chineses e norte-coreanos precisam de anonimato, de liberdade, de todas essas coisas, mas nós não as temos aqui”.
Assista a entrevista a seguir, ou clique aqui para baixar o texto na íntegra.
Esta é a nona de uma série de 12 entrevistas que o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, fez com líderes e pensadores contemporâneos. DVeras em Rede publica O Mundo Amanhã em parceria com a Agência Pública e o WikiLeaks.