14
Feb19
O Brasil que pedala
Recebi da Aliança Bike este livro delicioso organizado pelos pesquisadores e cicloativistas André Soares e Daniel Guth. A equipe de autores aborda a cultura da mobilidade urbana no Brasil a partir do cotidiano de 11 cidades pequenas: Afuá (PA), Antonina (PR), Cáceres (MT), Gurupi (TO), Ilha Solteira (SP), Mambaí (GO), Pedro Leopoldo (MG), Pomerode (SC), São Fidélis (RJ), Tamandaré (PE) e Tarauacá (AC). Já estou na metade da leitura e encantado com o resultado.
“O Brasil que pedala” (ed. Jaguatirica, 2018) combina rigor metodológico e bons infográficos com crônicas sobre um Brasil profundo que se move em outro ritmo. Um país que às vezes até esquecemos que existe e resiste. O uso da bicicleta nas cidades com até 100 mil habitantes tem muito a ensinar sobre planejamento urbano nos grandes centros. Parabéns à Aliança Bike, Bicicleta para Todos, União dos Ciclistas do Brasil, Bike Anjo e a todas as organizações locais de ciclistas que viabilizaram a obra.
13
Nov17
Leituras: Meia-noite e vinte
Leitura encerrada: Meia-noite e vinte, de Daniel Galera. A história, ambientada em Porto Alegre e São Paulo, é narrada por três personagens – uma doutoranda em biologia, um jornalista freelancer e um publicitário. Eles retomam o contato ao reviver as lembranças da convivência com um amigo em comum, escritor assassinado num assalto, com quem fizeram um fanzine nos tempos de faculdade. Os fragmentos dessas memórias e os rastros digitais deixados por eles traçam o quadro vívido de toda uma geração, das ilusões pré-virada do milênio aos desencantos depois das manifestações de 2013. Gostei. Galera se firma como um dos principais nomes da literatura brasileira contemporânea.
Uma boa resenha do livro por Matheus Pichonelli, na Carta Capital.
04
Sep16
São Paulo, agosto de 2016
Imagens da manifestação contra o golpe e da violenta repressão da PM, por Yan Boechat.
#foratemer
20
Sep15
Ainda sob impacto de Que horas ela volta?. Filmaço! Diz tanto sobre a história do Brasil e sobre a condição da mulher. Sensível, inteligente, bem humorado e sem discurso panfletário. Sem dúvida, um dos melhores filmes da década. De baixo orçamento e poucas locações, sem tiros, sem efeitos especiais e sem perseguições de carro. Pleno de vigor, com roteiro e interpretações primorosas. Gostei muito dos detalhes sutis que ajudam a contar a história, como a cuba de gelo vazia no congelador e “o sorvete de Fabinho”. Fico curioso pra saber como vai ser visto em outros países. Essa herança escravagista misturada com cordialidade hipócrita deve ser meio difícil de entender por quem não é brasileiro. “Que horas…” vai além disso, aponta pra mudanças. Vejam, e levem os filhos, pais, maridos, namorados e alunos.
22
Mar15
O valor estratégico da pegada hídrica
Reportagem que publiquei no Valor Econômico em 20 de março:
O total de água incorporada aos produtos que saem pelos portos brasileiros chega a 112 trilhões de litros anuais, equivalentes a 45 milhões de piscinas olímpicas, segundo estudo da Unesco. Esse volume coloca o Brasil em quarto lugar no ranking de exportadores brutos do recurso, atrás dos Estados Unidos, China e Índia.
Embora ainda não seja contabilizada nas trocas comerciais, a água virtual tende a ganhar valor estratégico em um cenário mundial de escassez hídrica. Isso abre oportunidades para o protagonismo do Brasil, que dispõe do recurso em abundância, mas precisa avançar na sua conservação.
Um instrumento de pesquisa relevante na área é a “pegada hídrica” (“water footprint”, em inglês), criada em 2002 pelo pesquisador Arjen Hoekstra, da Universidade de Twente, Holanda, para calcular o uso direto e indireto da água, tanto por produtores quanto por consumidores na cadeia produtiva. A pegada hídrica média do consumidor brasileiro é de 5.550 litros por dia, uma vez e meia superior à média global, principalmente por causa do grande consumo de carne. (…)
Leia mais: reportagem | entrevista com Arjen Hoekstra
15
Mar15
Marcelo Rubens Paiva, no sábado…
…sobre as manifestações do dia 13 e do dia 15:
Saí dum restaurante na Paulista, uma senhora perguntou: ‘Vc vem amanhã?’. Não. “Ah, vc veio ontem?” Tb não, respondi. Só tem duas opções?
— Marcelo Rubens Paiva (@marcelorubens) March 15, 2015
03
Mar15
Cooperação Brasil-Cuba-Haiti
Um acordo de cooperação técnica entre Brasil, Cuba e Haiti está possibilitando a formação de profissionais haitianos para atuar na atenção primária à saúde neste país caribenho, o mais pobre das Américas, que foi devastado por um forte terremoto em 12 de janeiro de 2010. Em quatro anos de atividades, já foram titulados mais de 1.300 agentes de saúde comunitários, auxiliares de enfermagem, inspetores sanitários e agentes de saúde ambiental.
Da parte brasileira, a gestão é realizada pelo Ministério da Saúde, em parceria o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e com três instituições de ensino e pesquisa: a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O acordo tripartite deu continuidade à atuação solidária do Brasil com o Haiti nas áreas de segurança e reconstrução da infraestrutura, iniciada logo após o desastre sísmico.
Coube à UFSC, com apoio administrativo da Fapeu, assumir a qualificação dos recursos humanos de nível médio na área da saúde. O Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da instituição já tem um histórico de parcerias bem sucedidas com o governo federal nessa área. A UFRGS contribuiu com a organização da rede de serviços e a Fiocruz, com a atuação nos campos de epidemiologia, imunização, comunicação e informação. Em torno de R$ 5 milhões foram investidos na formação desses profissionais.
SUS é referência
“Estamos implantando um modelo inspirado na estratégia de saúde da família no Brasil”, diz a gestora operacional do projeto e coordenadora do Departamento de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC, Flávia Regina Ramos. Essa estratégia, adotada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), enfatiza a atenção à família no local onde ela vive, valorizando as ações de promoção e proteção da saúde, a prevenção de doenças e a atenção integral às pessoas. Ela se contrapõe ao modelo tradicional e ineficiente, focado na supervalorização da assistência curativa, especializada e hospitalar.
Flávia destaca que a tônica da ação brasileira sempre foi desenvolver um projeto estruturante, isto é, evitar ações paliativas como as que foram realizadas pontualmente por diversos países após o terremoto de 2010. O objetivo é trabalhar junto com as autoridades haitianas e os médicos cubanos para desenvolver competências locais que ajudem a restaurar o sistema de saúde do país caribenho. “Isso significa fazer junto”, afirma. Cuba tem participação fundamental na parceria, pois atua há muitos anos no Haiti, onde mantém hospitais e profissionais de saúde experientes.
Em maio de 2014, o Brasil inaugurou uma rede hospitalar no entorno de Porto Príncipe, a capital do país. Com investimento de R$ 25 milhões, ela é composta pelo Hospital Comunitário de Bon Repos, pelo Instituto Haitiano de Reabilitação e pelo Laboratório de Órteses e Próteses. Outros dois hospitais comunitários de referência estão em construção. Somados, eles podem atender 300 mil pacientes, um apoio significativo para o país de 10 milhões de habitantes, que tem o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do continente.
Bolsa de estudos
Durante o curso, os alunos recebem do governo brasileiro uma bolsa de estudos para que tenham condições de alimentação e transporte e possam se dedicar integralmente à formação. Quando eles se titulam, continuam recebendo a bolsa por seis a 12 meses, para que tenham tempo de ser inseridos profissionalmente na rede pública. “A formação é feita por haitianos, que são capacitados, supervisionados e acompanhados por brasileiros”, explica Flávia.
“A ajuda técnica e financeira do Brasil tem sido fundamental”, disse a enfermeira Guerline Bayas, especializada em saúde comunitária e diretora de uma escola técnica em Porto Príncipe. Em outubro de 2014, ela esteve em Brasília com outros dois profissionais de saúde haitianos para participar de um seminário internacional de avaliação dos quatro anos de atividades do projeto. Os resultados superam as expectativas. Em seguida, o grupo visitou uma escola técnica em Blumenau e o Hospital Universitário da UFSC em Florianópolis.
“Esperamos renovar o convênio, pois o Haiti sozinho não tem condições de construir a estrutura necessária”, afirmou, acrescentando que a meta é formar pelo menos 10 mil profissionais de saúde para oferecer cobertura em todo o país. (…)
Publiquei esta reportagem na Revista da Fapeu 2014. Leia aqui a íntegra em pdf.
16
Apr14
As eleições e as energias renováveis
Entrevistei por telefone o físico Heitor Scalambrini Costa, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFPE. Ele é especialista em energias renováveis e ativista por uma nova política energética no Brasil. Nesse trechinho da nossa longa conversa, ele compartilha suas impressões sobre a corrida presidencial:
“Do ponto de vista das energias alternativas, o cenário eleitoral é triste. A Marina fez uma aliança pragmática com um candidato que defende a energia nuclear. Nesses sete anos de governo Eduardo Campos em Pernambuco, vimos um modelo predador. Nunca se desmatou tanto. Aécio é um candidato amorfo. O governo Dilma não tem princípios nessa área, ela é movida essencialmente pelos interesses de poder. Um exemplo: ela recebeu pressão e abriu a possibilidade para leilões de usinas de carvão mineral, uma das fontes mais poluidoras que existem. O Plano Decenal de Energia 2013-2022 prevê somente 1.400 megawatts de geração fotovoltaica – isso é irrisório e inibe o mercado. O Brasil hoje corre o risco de perder a corrida do ouro pela energia solar, por falta de uma política industrial para o setor. As mudanças vão depender de pressão social”.
24
Sep13
O som ao redor
Vi e gostei demais de “O som ao redor”. Uma crônica urbana sutil sobre o Brasil “Casa Grande e Senzala” do século 21, que se passa num bairro de classe média do Recife. Nasci e passei parte da infância na capital pernambucana, então o filme me despertou vários flashbacks e identificações (mas não é preciso ser nordestino pra ter a mesma impressão, acho). Longe de ser um panfleto, é um retrato do encontro do velho com o novo. Das relações sociais que parecem mudar, mas continuam as mesmas, e das que tinham tudo pra não mudar, mas evoluem. Pra quem ainda não viu, esta observação do José Geraldo Couto pode evitar frustração de expectativas: “Depois de tanto aplauso e elogio, muitos espectadores talvez entrem no cinema esperando ver algo espetaculoso (como foram Cidade de Deus e Tropa de elite, por exemplo). E a qualidade maior de O som ao redor é, justamente, a sutileza, o subtom, a entrelinha”.
24
Feb13
“Não utilizar a energia do sol é burrice”
O especialista em energias renováveis Heitor Scalambrini Costa, físico e professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Pernambuco, é entusiasta do uso da energia solar para geração de eletricidade – a tecnologia fotovoltaica. É também um áspero crítico do que qualifica de “cegueira” do governo brasileiro pela falta de uma política consistente de aproveitamento dessa riqueza. Hoje a participação da energia do sol na matriz energética nacional é quase nula, menos de 0,02% da potência instalada. Ele defende que o assunto não fique restrito a decisões técnicas e seja discutido democraticamente pela sociedade, na busca de uma matriz elétrica sustentável. “A diversidade e a complementaridade são as palavras chaves”, diz. Autor de dezenas de artigos, publicou em 2002 o livro de coletâneas “Equívocos de uma política energética” e, 2008, “Insatisfação além da conta”. Entrevistei o professor Scalambrini para uma reportagem sobre energia fotovoltaica que publiquei no jornal Valor Econômico. A íntegra da nossa conversa está neste link.