25
Jan20
Adeus, irmão
Em família de jornalistas, quando um irmão dobra a esquina, o que fica precisa enxugar as lágrimas e dar a notícia. O repórter caçula foi embora, sobrou pra mim. Nosso querido Camillo Veras morreu hoje, pouco antes das 8h da manhã, no Hospital São Carlos em Fortaleza, por complicações resultantes de um AVC que teve no início de dezembro. Ele tinha 47 anos e lidava há tempo com as sequelas da radioterapia em um tumor na base da hipófise, que foi lhe prejudicando aos poucos a audição, visão e equilíbrio. Mas nunca perdeu o humor, a inteligência rápida, a generosidade e a coragem com que encarava as limitações.
Se ele pudesse me dar agora umas aspas pra colocar neste texto, diria que a morte é parte natural da vida, “é dobrar uma esquina”. E ia tentar nos alegrar com seu enorme repertório de piadas e causos. Camillo foi uma das pessoas mais incríveis, bondosas, engraçadas e tolerantes que já conheci. Para a nossa irmã Lubelia Freire, ele disse recentemente: “Eu não tenho inimigos e se vier a ter vai ser só de uma mão, de lá pra cá, porque daqui pra lá nunca…”
Deixa a companheira Aline Paiva, a quem abraço com carinho e admiração; os irmãos Lubélia, Leonardo Camillo, Dauro, André, Janara e Cristiane; a rede preferida, Estefânia; e uma legião de amigos e admiradores. Sua ex-companheira e amiga eterna Regina Luna – mãe da filha deles Bruninha, que partiu antes – nos lembra que o Camillo pediu aos amigos pra gritarem: “Companheiro, Camillo! Presente, agora e sempre!” A despedida (velório é um nome horrível, né? Outra coisa que ele diria) vai ser no Jardim Metropolitano a partir das 16h de hoje, e a cremação às 16h de amanhã.
Camillo amava viajar. O AVC o pegou no dia 12 de dezembro, em São Paulo, dois dias depois de nos encontrarmos. Ele estava a caminho de Montevidéu e Buenos Aires e na volta passaria aqui por Floripa. Há poucos dias ele mandou um recado pra mim e pro Leo: nos intimava a fazer juntos uma viagem de carro. Vamos ter que mudar os planos, maninho, mas você vai sempre nos acompanhar.
20
Mar18
RT @alejodorowsky
“¿Maestro, cómo hacer para vivir hasta tan viejo?”
“Nunca contradigo a alguien”
“¡No es posible!”
“¡Sí, no es posible!”.
22
Feb17
20
Feb17
16
Feb17
Suicídio: informação salva vidas
12
Jan16
Trinta anos hoje
Há trinta anos, às 10h de uma manhã de sol como esta, eu desembarcava no Terminal Rodoviário Rita Maria, em Florianópolis, vindo de Natal. Paixão à primeira vista que se transformou em amor duradouro. São tantas descobertas, tantas histórias… As melhores nunca vão ser escritas, mas quem as viveu comigo, sabe. Fui acolhido com muito afeto e riso nesta cidade-ilha que escolhi como minha. Aqui dormi de janela aberta e tomei banho de mar em praias limpas que hoje estão poluídas. Aqui, no Hospital Universitário da UFSC, nasceram meus dois filhos. Aqui me formei em jornalismo e aprendi a amar essa profissão. Aventura vertiginosa de aprendizado com uma linda “família ampliada” com quem criei vínculos eternos. O sentimento é de gratidão a todos que me iluminaram e iluminam o caminho. Parabéns pra vocês também.
12
Sep15
Correria de sexta-feira
Chego em casa, o telefone tocando, o alarme entra na contagem regressiva de 30 segundos pra disparar, desligo o alarme e corro pra atender, aí um aviso começa a piscar no micro – restam 5% de bateria, a tomada tá mal colocada -, procuro os óculos e falo amenidades enquanto tento ligar a pessoa ao projeto correto (quem nunca?), a gata começa a miar, encontro os óculos, abro uma planilha e busco por palavra-chave, 4%, consigo fazer a conexão pessoa-projeto, a gata continua miando, 3%, me agacho pra ajeitar o plugue na tomada embaixo da mesa sem soltar o telefone, mais miados, fim do telefonema. Bem-vinda, tarde de sexta-feira no home-office. Vou ali botar a comida da gata.
26
Feb14
Por uma vida mais off-line
Excelente entrevista de Dani Arrais com David Baker, professor na School of Life e ex-editor da versão inglesa da Wired. Ele vive uma descoberta existencial semelhante à minha, embora em ritmos e contextos diferentes. Na pauta, o excesso de informação proporcionado pela internet, o desafio de viver a solidão (“solitude” em oposição a “loneliness”) de forma significativa e criativa, o trabalho como algo prazeroso e não escravizante, o contato face a face com as pessoas, enfim, a vida simples de quem aprendeu a valorizar as delícias do mundo analógico. ~ via Laura Tuyama e Ligia Moreiras Sena.
Trecho:
- Como você organiza sua rotina para dar conta de fazer tudo?
Acredito muito que devemos trabalhar o mínimo possível, da maneira mais esperta que der. Acho que somos capazes de coisas maravilhosas, mas, especialmente no trabalho, fazemos com que ele dure muito mais. É o sistema. Nós pagamos as pessoas por hora, dia, mês. Elas não são encorajadas a trabalhar com rapidez, mas sim devagar. Eu trabalho pra mim. Se alguém me pede pra fazer uma coisa, é uma vantagem se eu fizer rapidamente. Quanto mais espaço você tem na sua vida, mais coisas boas acontecem. Eu tomei uma decisão há alguns anos de trabalhar menos, ganhar menos e gastar menos. Vivo confortavelmente, não sou um milionário. Entre os meus amigos, provavelmente, sou o que ganha menos, mas sou o que tem mais tempo. E pra mim essa troca foi bonita. Como resultado, quando trabalho, faço isso de maneira esperta e satisfatória para mim e para as outras pessoas.
Em casa, meu ritmo. Descobri recentemente que gosto de acodar cedo. Vou para cama às 22h30, acordo às 7h. Sou inglês, preparo um chá, levo meu laptop pra cama, passo umas duas horas, faço o primeiro turno de emails. Escrevo alguma coisa. Está tudo calmo lá fora, não tem ninguém por perto. Como resultado, a maioria das coisas que preciso fazer estão acabadas às 9h. Gosto de, todo dia, estar em um lugar analógico. Gosto de nadar em água fria num lugar aberto. Pego minha bicicleta. Tem água, floresta, pássaros, é o oposto da internet, é analógico. E gosto de passar tempo nesse mundo. Quando volto, faço o segundo turno de emails e o dia chega ao fim. Em escritórios nós perdemos tempo. Não precisamos ser escravos. Especialmente pessoas que todos os dias ficam até tarde no trabalho. Eu não acredito que elas tenham tanto para fazer todos os dias.
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