28
Mar21
Voluntário da Pátria: um conto de Camillo Veras
17
Jul19
Três microcontos bem black mirror
Usou o app de se ver mais velho; viu a viúva já bem alegre.
~
Usou o app de se ver mais velho; viu-se aposentado com meio salário mínimo.
~
Não usou o app de se ver mais velho; mais tarde, fazendo a barba, viu-se mais velho.
19
Jan19
Manual da faxineira
Comecei bem o ano de leituras com o Manual da Faxineira, extraordinário livro de contos sugerido pela Laura. Lucia Berlin (1936-2004) escrevia de um jeito compassivo, engraçado, agridoce e direto ao leitor, não deixando nada a dever a mestres da narrativa curta como John Fante, Raymond Carver, Paul Auster, Alice Munro, Rubem Braga.
As histórias dessa coletânea, todas de inspiração autobiográfica, apresentam a vida movimentada de uma criança solitária nascida no Alasca e criada no Novo México, adolescente de elite no Chile, boêmia hipster em Nova York, enfermeira em Oakland nos 70 e, no final da vida, professora universitária. Foi também faxineira e professora de crianças, casou três vezes, teve quatro filhos, um caso tórrido com um rapaz de 17 anos, amigo de um deles, e passou anos enfrentando o alcoolismo.
Seus personagens vêm e vão ao longo das histórias, apresentados por pontos de vista diferentes em várias situações cotidianas. Um recorrente é a irmã mais nova, que está com câncer terminal e com quem ela passa um tempo na Cidade do México. A maneira como ela descreve a personalidade do seu namorado adolescente se aplica muito bem ao tom das narrativas:
“Ele não era gentil. ‘Gentil’ é uma palavra como ‘caridade’; implica um esforço. Como aquela frase de para-choque de caminhão que fala de gestos aleatórios de gentileza. Gentil deveria ser o modo como uma pessoa é sempre, não um gesto que ela opta por fazer. Jesse tinha uma curiosidade compassiva em relação a todo mundo”.
Quando eu crescer, quero escrever como Lucia Berlin.
31
Dec18
DVeras Awards de Literatura 2018
Mais uma vez você não pediu, mas aqui estamos com o DVeras Awards 2018 de Literatura. Este é um concurso hedonista: participam todos os livros que li sem nenhuma obrigação, só por prazer, entre janeiro e dezembro deste ano. Ficam de fora as obras técnicas e de referência, as lidas por motivos profissionais específicos e as não concluídas até 31 de dezembro. As decisões da comissão julgadora – eu mesmo – são irrecorríveis.
Este ano a seleção dos melhores foi dificílima pela alta qualidade dos competidores, nada menos que quatro prêmios Nobel – Mario Vargas Llosa (2010), Alice Munro (2013), Svetlana Alexievitch (2015) e Kazuo Ishiguro (2017), sem falar nos quase premiados Graham Greene e Haruki Murakami, e no genial Julio Cortázar, um gigante literário ignorado pela academia sueca (aliás, na boa companhia de Kafka, Ibsen, Joyce e Nabokov).
Os autores e autoras destes 27 livros são de 13 países: Suíça, Canadá, Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos, Japão, Brasil, Noruega, Argentina, Cuba, Uruguai, Peru e Bielorrúsia. Em 2018 li menos do que gostaria, e poucas mulheres, mas pude conhecer nomes relevantes, como tinha me proposto. Aceito dicas para aumentar o repertório de visões literárias femininas. Os temas e formatos variaram. De reflexões filosóficas sobre a vida amorosa a narrativas sobre a ditadura brasileira, passando por autobiografias, romances policiais e históricos, jornalismo e contos. Veja a lista e, em seguida, conheça os três agraciados:
- The Course of Love, Alain de Botton
- Amiga de juventude, Alice Munro
- O poder do agora, Eckhart Tolle
- O ministério do medo, Graham Greene
- Tiros na noite, Dashiell Hammett
- Kafka à beira-mar, Haruki Murakami
- A noite da espera (o lugar mais sombrio), Milton Hatoum
- O fim do Terceiro Reich, Ian Kershaw
- Midnight Sun, Jo Nesbo
- O livro de Jô, volume 1, Jô Soares
- As armas secretas, Julio Cortázar (releitura)
- Não me abandone jamais, Kazuo Ishiguro
- Noturnos, Kazuo Ishiguro
- A brincadeira favorita, Leonard Cohen
- Hereges, Leonardo Padura
- Máscaras (Verão), Leonardo Padura
- A neblina do passado, Leonardo Padura
- Paisagem de outono, Leonardo Padura
- Uma janela em Copacabana, Luiz Alfredo Garcia-Roza
- A borra do café, Mario Benedetti
- A festa do bode, Mario Vargas Llosa
- Tudo que é belo, The Moth (org.)
- Vida querida, Alice Munro
- In The Country of Last Things, Paul Auster
- Invisível, Paul Auster
- O rio inferior, Paul Theroux
- Vozes de Chernobyl: a história oral do desastre, Svetlana Alexievitch
Todos os finalistas do DVeras Awards 2018 mereciam o prêmio máximo, por seus diferentes méritos. Mas escolhas precisavam ser feitas. O resultado:
Menção honrosa – Não me abandone jamais, Kazuo Ishiguro
Inquietante, distópico, perturbador, agridoce. Estritamente falando, daria para classificar como ficção científica, embora destoasse numa prateleira do gênero. A narrativa acompanha um grupo de colegas em um colégio interno no Reino Unido que aos poucos vão descobrindo o segredo por trás de suas origens e destinos. E mais não conto, pra não dar spoiler. A história virou um filme, que ainda não vi.
Bronze – Vozes de Chernobyl: a história oral do desastre, Svetlana Alexievitch
Relato jornalístico construído a partir de entrevistas com sobreviventes da tragédia nuclear de 1986, em que eles contam suas lembranças e sensações na primeira pessoa. Confesso que levei muito tempo pra terminar – a leitura tem forte carga emocional, o que às vezes me fazia “pedir” pausas. A autora é a única jornalista até hoje premiada com o Nobel. Esta obra tem grande valor histórico e merece ser mais conhecida.
Prata – Vida querida, Alice Munro
A escritora canadense mostra que domina como poucos as artes desse ofício dificílimo que é escrever contos: graça de contar, repertório, “timing”, poder de síntese. O encadeamento narrativo desperta empatia com os personagens (gente “comum”) e vai nos conduzindo com leveza até o desfecho. Que raramente é “extraordinário” como as fórmulas gastas de reversão de expectativas, mas traz algo parecido a uma pequena epifania. Bela escritora, quero conhecer melhor.
Ouro – A borra do café, Mario Benedetti
O que dizer sobre esse autor uruguaio de incrível talento e sensibilidade, morto em 2009? A borra do café reforçou minha impressão que ele é um dos grandes. Nesta novela, Benedetti revisita com nostalgia sua infância e adolescência na Montevidéu do início do século 20, pelos olhos do protagonista Claudio. Sua família, amigos do bairro, iniciação sexual, dilemas de trabalho e carreira. E uma misteriosa mulher que aparece em uma figueira e depois retorna outras vezes, sempre no mesmo horário, às 3 e 10. A história despretensiosa esconde um sofisticado recurso narrativo, uma tensão que vai ganhando velocidade e nos faz decolar até o desfecho inesperado. Taí um livro que eu gostaria de ter escrito!
Espero que vocês apreciem essas sugestões de leitura. Recomendo também Kafka à beira-mar, de Murakami (uma espécie de realismo fantástico japonês), A festa do bode, de Vargas Llosa (relato romanceado do último dia de vida do ditador dominicano Trujillo, baseado em muita pesquisa histórica), e O poder do agora, de Eckart Tolle (traz tantos insights bacanas que seria injusto desprezar apressadamente como “auto-ajuda”). Ah, um senão: achei O ministério do medo bem fraco, Graham Greene tem outros melhores.
12
Mar18
Anotações do quintal
Um passeio pelo quintal. Verde em mudança permanente. Nos quase doze anos em que convivemos, quantas faces já teve. Vida e morte cambiantes numa dança cósmica, bem aqui neste microcosmo do sul da Ilha de Nossa Senhora dos Aterros, como diz o qrido Fabio Brüggemann. Espaço de presenças, e de presença da ausência. Como a das árvores mortas. Uma se foi de velhice. Sua filha, que vi neném, hoje é frondosa e galhuda, se exibe no outono com sementes redondas que os papagaios adoram. Árvore-aquarela com trilha de algazarra. Duas foram derrubadas pelo vento, outras quatro morreram por causa de um aterro de drenagem. Entre elas um presente do inesquecível Augusto Tuyama, a fantástica nim – suas folhas servem pra mais de cem aplicações, como xampu antipulgas e chá pra ressaca.
Tantas outras nascidas ou transplantadas. A pitangueira nativa, germinada no pé de outra árvore. As bananeiras, todas filhas da muda que nos deu o Edson Campos. A amoreira que podei com amor e cresceu linda. Já podei outras com amor e morreram, coisas da vida. Hoje com copa espalhada, é sempre generosa de frutas e tem galhos baixinhos pra criança pequena pegar. Fonte de amora pra suco, vitamina, geleia, tempero, e em breve, sorvete. Ultimamente reparo que tá tendo uma “safrinha” fora da época, observação corroborada pelo Mauro Sniecikowski, também cuidador de amoreira no Sul da Ilha. À sombra dela, nenhum mato cresce, mas uma guabiroba insiste em existir. Miúda, humilde, sempre pegou pouco sol e cresce devagar, mas sólida. Dá uns poucos frutos por ano, como que dizendo “são especiais” e, entre filosófica e irônica, “espere pra ver” e “por que você me antropomorfiza?”.
O limoeiro adolescente sem espinhas, mas com muitos espinhos, produziu seus primeiros seis limões neste verão. As primas tangerinas – uma poncã, outra montenegrina – são meninas, ainda não chegou a hora de dar frutos. O abacateiro também é fiote. Tudo a seu tempo. Tem o tempo dos saguis, ou soins, como dizem lá na minha terra. Eles vêm, acampam, têm filhotes e vão embora quando a comida acaba. Tem que ficar ligado pra não entrarem na cozinha e fazerem bagunça, né Deborah Figueiredo? Tem o tempo das aracuãs, das aves de migração. Das abelhas, das vespas. E tem os moradores fixos, por assim dizer: bem-te-vis, sabiás, curiós. Uns beija-flores que gostam de beijar uma lanterna-japonesa bem do lado da minha rede.
As formigas moram na área, mas aparecem tão pouco que quando chegam a gente pensa que é visita. Às vezes elas encasquetam com uma árvore e ficam trabalhando nela direto por dias a fio, podando as folhas. Meio estressadas, as formigas. Quintal também de minhocas e bactérias, de coisas e seres enterrados, de nosso gato Branquito que aqui descansa em paz. Quintal de Bóris, o lagarto, que morava embaixo do antigo barracão de ferramentas e anda meio sumido. De Lavínia, a lagartixa que encontrei fazendo faxina do depósito. Eu fazia a faxina, no caso. Sementes brotando, maracujás se espalhando, pimenteiras fabricando ardências e temperos. A vida pulsa no quintal e a louça espera na pia da cozinha.
17
Jan18
A borra do café
Ainda impactado com A Borra do Café, de Mario Benedetti, que terminei de ler esta madrugada. É uma abordagem ficcional da sua infância, adolescência e entrada na idade adulta em Montevidéu. Mudanças de casa, amigos, parentes e cotidiano do bairro, a morte da mãe, descoberta do sexo e do amor… e as misteriosas coincidências de um momento exato no relógio, 3 e 10 da tarde. Texto límpido, coloquial, bem humorado e poético. A narrativa teria tudo pra ser banal se escrita por outras mãos, mas ganha uma dimensão emocional profunda e única na voz do grande escritor uruguaio. Amei ler este livro.
01
Jan18
DVeras Awards 2017: livros
Minhas leituras no ano passado renderam bons momentos, a maior parte do tempo na rede do alpendre, mas também no ônibus, na cama, na fila do mercado e em outras salas de espera da vida. Foram poucos os desapontamentos e várias surpresas deliciosas. Os temas variaram do romance histórico às narrativas de viagem, espionagem e gângsters, passando pela ficção científica, autobiografia e contos. As origens dos autores também são bem diversas: Suíça, Islândia, Estados Unidos, Brasil, Noruega, Chile, Japão, Reino Unido, Cuba, Peru, Argentina e Israel. Como ponto em comum, todos conseguiram me conduzir da primeira a última página, o que não é pouca coisa pra um leitor volúvel. Segue uma lista de 27 obras, com os títulos no idioma do exemplar lido. Não incluí reportagens, contos isolados, livros de referência, leituras parciais nem obras técnicas de interesse restrito. Revendo a lista, percebo que há várias lacunas a preencher daqui pra frente: incluir mais mulheres, mais autores africanos e latino-americanos, mais variedade de temas, alguns clássicos. Bom, foi o que deu pra fazer no conturbado ano da graça de 2017. Espero que essas sugestões possam inspirar suas leituras. Ao final, conheça os contemplados com as medalhas de bronze, prata e ouro no DVeras Awards.
- The course of love, Alain de Botton
- Invierno ártico, Arnaldur Indridason
- 10% mais feliz, Dan Harris
- Meia-noite e vinte, Daniel Galera
- Getting things done, David Allen
- O homem que buscava sua sombra, David Lagercrantz
- World gone by, Dennis Lehane
- Pssica, Edyr Augusto
- Tierra del fuego, Francisco Coloane
- Pinball, Haruki Murakami
- A legacy of spies, John Le Carré
- Liberdade, Jonathan Franzen
- 14 contos de Kenzaburo Oe
- O homem que amava os cachorros, Leonardo Padura
- Passado perfeito, Leonardo Padura
- Vento sudoeste, Luiz Alfredo Garcia-Roza
- Cinco Esquinas, Mario Vargas Llosa
- Los cuadernos de Don Rigoberto, Mario Vargas Llosa
- A Segunda Guerra Mundial: os 2.174 dias que mudaram o mundo, Martin Gilbert
- Um solitário à espreita, Milton Hatoum
- Diário de inverno, Paul Auster
- Androides sonham com ovelhas elétricas?, Philip K. Dick
- Alvo Noturno, Ricardo Piglia
- Calibre 22, Rubem Fonseca
- O seminarista, Rubem Fonseca
- Homo Deus, Yuval Noah Harari
- Sapiens: A Brief History of Humankind, Yuval Noah Harari
A escolha dos três melhores no DVeras Awards foi bem difícil, dada a qualidade dos “concorrentes”. Por isso, nesta edição aponto também três menções honrosas: The course of love, de Alain de Botton, é um mergulho filosófico criativo sobre o amor entre um homem e uma mulher, ao mesmo tempo sensível às sutilezas do relacionamento a dois e demolidor do mito do amor romântico. Liberdade, de Jonathan Franzen, disseca as contradições da classe média americana ao acompanhar a história de uma família e um triângulo amoroso. Pssica, de Edyr Augusto, é uma história vertiginosa sobre o tráfico de mulheres na Amazônia. Sua linguagem crua, concisa, e a narrativa cinematográfica nada deixam a dever aos textos de Rubem Fonseca.
Sem mais delongas, vamos aos premiados de 2017:
- Bronze: Sapiens. Com simplicidade e humor, o professor de História Yuval Harari dá uma aula magistral sobre nossas origens, da idade da pedra ao presente. Um convite à reflexão sobre coisas cotidianas que fazemos sem pensar. Se gostar, emende no excelente Homo Deus, que aponta pro futuro dominado pela inteligência artificial e pela ambição humana da imortalidade.
- Prata: Diário de inverno. Paul Auster, um dos meus autores favoritos, chega à maturidade revisitando a própria vida a partir da perspectiva agridoce do corpo e suas cicatrizes (sabia que ele sobreviveu a um raio aos 14 anos de idade?). Um livro especial, agora que tenho uma cicatriz no pescoço a me lembrar todos os dias que sobrevivi ao câncer de tireoide.
- Ouro: O homem que amava os cachorros, de Leonardo Padura, foi o melhor livro que li no ano passado. Talvez não seja novidade pra você, pois foi lançado em 2013 e já conquistou vários prêmios. Mas se ainda não teve a oportunidade de ler, recomendo muito. Neste romance histórico, o escritor cubano reconstrói as trajetórias de duas personagens marcantes do século 20: o revolucionário russo Leon Trótski e seu assassino Ramón Mercader. É daqueles que, mesmo já conhecendo o final, a gente não consegue largar antes do fim.
13
Nov17
Leituras: Meia-noite e vinte
Leitura encerrada: Meia-noite e vinte, de Daniel Galera. A história, ambientada em Porto Alegre e São Paulo, é narrada por três personagens – uma doutoranda em biologia, um jornalista freelancer e um publicitário. Eles retomam o contato ao reviver as lembranças da convivência com um amigo em comum, escritor assassinado num assalto, com quem fizeram um fanzine nos tempos de faculdade. Os fragmentos dessas memórias e os rastros digitais deixados por eles traçam o quadro vívido de toda uma geração, das ilusões pré-virada do milênio aos desencantos depois das manifestações de 2013. Gostei. Galera se firma como um dos principais nomes da literatura brasileira contemporânea.
Uma boa resenha do livro por Matheus Pichonelli, na Carta Capital.
26
Apr17
No bar Savoy
Meu pai costumava citar o refrão desse poema do pernambucano Pena Filho.
CHOPP
Carlos Pena Filho (1929-1960)
Na avenida Guararapes,
o Recife vai marchando.
O bairro de Santo Antonio,
tanto se foi transformando
que, agora, às cinco da tarde,
mais se assemelha a um festim,
nas mesas do Bar Savoy,
o refrão tem sido assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.
Ah, mas se a gente pudesse
fazer o que tem vontade:
espiar o banho de uma,
a outra amar pela metade
e daquela que é mais linda
quebrar a rija vaidade.
Mas como a gente não pode
fazer o que tem vontade,
o jeito é mudar a vida
num diabólico festim.
Por isso no Bar Savoy,
o refrão é sempre assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.
25
Apr17
Sugestões de livros
- Agripa Alexandre – A lista dos prêmios de nobel de literatura desde 1950.
- Raul Ribeiro – “Estranhas Catedrais”. Ótimo para entender a histórias das empreiteiras e a participação nos governos desde a ditadura. Ou antes.
- Paulo Evangelista – Eu sempre recomendo dois livros: Memórias do Subsolo, do Dostoievski e O Livro dos Abraços, do Galeano. O motivo é simples: os dois, em épocas diferentes, marcaram a minha vida.
- Dorva Rezende – Tiger! Tiger!, do Alfred Bester, porque a ficção científica e a poesia podem te levar a grandes saltos pelo universo.
- Tatiana Kinoshita – Recomendo O que Jamais Dizer a uma Mulher Grávida, da Chiado Editora. Porque sou a autora.
- Janine Motta – Haiti depois do inferno, de Rodrigo Alvarez, correspondente da Globo. A união da imprensa mundial em prol da notícia me surpreendeu, mas chorei em várias páginas também.
- Ana Paula Lückman – “Você vai voltar pra mim”, do Bernardo Kucinski. O título não é o que parece.
- Nei Duclós – Terra do Fogo, de Francisco Coloane.
- Carlos Moura – Sangre de Mestizos. Augusto Céspedes. Lê – se achares – e depois me diz… Ou vai no Obras Completas do Murilo Rubião… Pq realidade e história são conceitos flexíveis…
- Gastão Cassel – O Quinteto de Buenos Aires. Manuel Vázquez Montalbán. Porque é literatura no seu modo mais essencial. Ele é um contador de histórias, precursor de vários seguidores pelo mundo no seu estilo de narração policial – Andrea Camilleri, Luiz Alfredo Garcia-Roza (para citar um brasileiro). O personagem Pepe Carvalho é impagável.
- Jean Mafra – “Ninguém” de Ieda Magri. Pois ela é uma autora contemporânea dona de uma ironia necessária, que nos apresenta um livro potente. Pois ela é mulher, é do interior de SC, mas também por isso não fazer a menor diferença diante do que apresenta.
- Ana Cadengue – Amo Saramago, mas já que é só um, lá vai: O Conto da Ilha Desconhecida. Ah, pura identificação mesmo. Me sinto sempre naquele barco. Ou naquela porta…
- Fábio Brüggemann – ‘não contem com o fim do livro”, uma conversa muito legal do umberto eco com o jean-claude carrière.
- Paulo Arenhart – Cem sonetos de amor, Pablo Neruda. Fábulas completas, Esopo. Fábulas nos fazem pensar fora da casinha! Número zero, Umberto Eco. De Umberto Eco recomendo todos! E este foi o último!
- Svetlana Lana – O mestre e a margarida, Mikhail Bulgakov. é misterioso, não só por coisas que acontecem lá. Já li várias vezes em russo e cada vez é diferente, você vai descobrindo algo de novo. Cada vez que tentavam gravar um filme baseado no livro aconteciam coisas misteriosas e até mesmo trágicas. É difícil para ler mesmo em russo. Então se não o conseguires, temos que parar e voltar mais tarde, até que o livro te “aceite”. já me contarás…
- Tadeu Meyer – O círculo, Dave Eggers. Distopia do presente, sobre a onipresença da tecnologia e a indução à exposição total. Na pior em paris e londres. Eric Blair vivendo como mendigo na década de 20, antes de virar George Orwell.
- Clóvis Scherer – Estou lendo e gostando de “Os versos satânicos”. Pelo tipo de literatura fantástica no contexto do islamismo.
- Sandra Werle – Teoria Geral do Esquecimento, de José Eduardo Agualusa. É um romance histórico, gênero que eu gosto. Fala sobre Angola e a guerra pela independência de Angola o que, para mim, é novo – não tenho muitas leituras a respeito dos outros colonizados portugueses como nós, brasileiros. Mas principalmente por Ludo. A personagem principal, sua solidão, sua condição de mulher, sua imaginação e paixão pelos livros… ela me trouxe várias identificações, sofri profundamente com ela e refleti demais sobre os “esquecimentos” aos quais somos submetidos ou impomos a nós mesmos. Já gostava de Agualusa, mas fiquei impactada com esse romance.
- Luiz Fernando Pereira – Reality Hunger: a manifesto, David Shields. O livro é uma coleção de tópicos do David Shields a respeito da nossa tendência cultural e comportamental recente de buscar realidade por causa do “excesso de não-realidade”, observando o que vem acontecendo na cultura geral, entretenimento, literatura, mídia e psiquismo. Mas a busca por realidade também é algo esquisito, por vezes fake e ambíguo, pois também passa a ser fabricado e encenado. O que está em jogo é sempre uma espécie de sede de realidade (daí o título). Leitura muito interessante que sinto ter a ver contigo, com o fato de você ser um jornalista aberto e investigativo, e com tua busca por visão ampla multidisciplinar sobre as coisas. David Shields é uma espécie de pensador da literatura, mas que nesse livro extrapola totalmente para a filosofia da realidade (apesar dele partir de e falar muito de arte e literatura).
- Rodrigo Leite – Sidarta, Hermann Hesse. É uma linda jornada de iluminação. Uma narrativa que transborda a beleza simples das coisas sábias.
- Delana Macedo Veras – Pollyanna menina [Eleanor Porter]. Por causa do jogo do contente.
- Paulo Brito Canção do Mar [Amanda Hocking], porque gostei.
- Sergio Giron – A guerra não tem rosto de mulher. Svetlana Alekiévitch…. depoimentos de emocionar sobre as mulheres russas na 2 grande guerra/guerra da vitória. Nobel 2015. imperdível no meu humilde conceito.
- Roseméri Laurindo – Analectos (Confúcio). Porque ainda há tempo e o tempo é curto.
- Angélica Elisa Sonaglio – A amiga genial, o primeiro da trilogia de Helena Ferrante. Porque te envolvem demais!!!
- Cândido Rodrigo Gomes da Silva – Viagem ao fim da noite. Pq é um livro do Céline.
- Camillo Veras – Getúlio, de Lira Neto. Pra quem quer conhecer a história do Brasil.
- Patricia Pratts – O Casamento – Nicholas Spark. Fala de um regaste da paixão/conquista, depois de mais de 20 anos de casados… Um romance maduro e muito próximo da realidade atual, em que os amores são rasos e descartáveis.
- Ana Paula Barreto – O Homem que amava os cachorros, do cubano Leonardo Padura. A história nos faz refletir sobre muitas das nossas “crenças” ideológicas. E nos faz ter certeza que o melhor caminho possível ainda é a democracia.
- Daniel Eduardo Guilhamet – Nunca Mas (Informe de la Comisión Nacional sobre la Desaparición de Personas).
- Celso Vicenzi – A Tolice da Inteligência Brasileira, de Jessé Souza. São 20 anos de pesquisas e nunca ninguém mostrou, de maneira tão clara, documentada e convincente o papel dos intelectuais brasileiros para construir uma imagem distorcida do Brasil e fazer com que o povo aceite, submisso, privilégios injustos eternizados entre nós. Depois, pra curar a “ressaca”, Poemas Escolhidos, de Mia Couto e uma poeta polonesa magnífica: Wislawa Szymborska. Livro: Poemas.
- Mauro Sniecikowski A montanha mágica de Thomas Mann – pq está em meu top 3.
- João Carlos Dalmagro Júnior “Desonra”, do J. M. Coetzee, porque soube, como poucos e com uma linguagem envolvente, explorar a descrença na humanidade de forma absolutamente contemporânea.
- Cassiano Fagundes – Cidade em Chamas, Garth Risk Hallberg.
- Cecilia Revisartese – “Se questo è un uomo” (Primo Levi), porque vivi no campo de concentração com ele, levada pelos detalhes, de um modo que foi muito especial, para mim. “Tempo entre costuras” (María Dueñas), pela ideia de como fazer a costureira virar espiã. “Um homem chamado Ove” (Fredrik Backman), porque me diverti. “O 11o mandamento” (Abraham Verghese), porque não queria que o livro terminasse.
- Antonio Rocha – The book of Joy with Dalai Lama and Desmond Tutu. It makes you and the world feel good.
- Mario Rocha – Deserto dos Tártaros, do Dino Buzzati. Li há muitos anos e considero um livro obrigatório, entre muitos, tantos outros.
- Sergio Farias Homens imprudentemente poéticos de Valter Hugo Mãe. Uma ode à língua portuguesa.
- Raquel Eltermann Cinco grandes reportagens que têm em comum o fato de retratarem fatos históricos e locais altamente estigmatizados da Europa no século XX. Guernica, Chernobil, Transilvânia, Lourdes e Auschwitz são os cenários; e a proposta do jornalista catalão Álvaro Colomer é refletir como se vive atualmente nessas paragens do Velho Continente marcadas por feridas que chocaram e refletem ainda hoje no mundo (não só) Ocidental . “Guardianes de la memória – Recorriendo las cicatrizes de la Vieja Europa” (Ed. Martínez Roca, Madrid, 2008; 255 págs).
- Carlos Tonet – 100 Anos de Solidão. Porque foi a melhor coisa que já li.
- Henrique Finco – Arrisco indicar o “É isto um homem?”, do Primo Levi – e também o “A Trégua”, do mesmo autor. Para completar, o “A guerra não tem rosto de mulher”, da Svetlana Aleksievitcht. No primeiro, Primo Levi descreve sua sensação de não mais pertencer à Humanidade quando estava preso em Auschwitz; no segundo, seu retorno para casa após ser libertado pelo Exército Vermelho. O Svetlana tem os depoimentos de algumas das mais de um milhão de mulheres que serviram no Exército Vermelho durante a segunda guerra mundial. O que os três têm em comum é a denúncia do fascismo, o que me parece fundamental nos dias que correm. Abraço.
- Dagomir Marquezi – 50 Pilotos: A Arte de se Iniciar uma Série.
- Ivi Brasil – Ensaio sobre a lucidez, José Saramago. A população que foi acometida anos antes pela cegueira branca decide nao votar naa eleições, levando a democracia ocidental à bancarrota. O estado cerca a cidade mas nem assim os eleitores votam…
- Ivana Medeiros Zoccoli – Pais Inteligentes Formam Sucessores, Não Herdeiros. Autor: Augusto Cury. Porque nos faz refletir sobre a maneira como estamos criando nossos filhos e escrito com muito clareza e envolve muito amor.
- Marcello Castro – O tabuleiro de damas – Trajetória do menino ao homem feito, de Fernando Sabino. Memórias. Se ainda não leu, corra! “Morrer tem pelo menos três vantagens: não precisa mais ir ao dentista, declarar imposto de renda e cortar unha do pé.” (Hélio Pelegrino, citado por Fernando Sabino em “O tabuleiro de damas, p. 53)
- Shirley Bilro – Uma nova tradução de Satyricom que nos leva ao inusitado banquete de Trimalquião…
- Roberto Solino – recomendo “obras completas (y otros cuentos)”, de augusto monterroso, infelizmente sem tradução para o português. é um livro curto mas com verdadeiras obras primas, inclusive o seu conto mais famoso, o micro “el dinosaurio”. um dos contos que gosto mais (literatura sobre literatura) é “leopoldo (sus obras)”.
- GR – O livro que me mudou para sempre: O IDIOTA, Fiódor Dostoiévski.
- Joenilson – O Estrangeiro Albert Camus. Esse é fantástico.
- Josimey Costa – Quase conto.
- Laura Tuyama – O Amor de uma Boa Mulher (2013), Alice Munro. Indico pela força da narrativa curta. Em poucas palavras ela consegue te apresentar personagens complexos e situações perturbadoras.