28
Mar21
Voluntário da Pátria: um conto de Camillo Veras
19
Jan19
Manual da faxineira
Comecei bem o ano de leituras com o Manual da Faxineira, extraordinário livro de contos sugerido pela Laura. Lucia Berlin (1936-2004) escrevia de um jeito compassivo, engraçado, agridoce e direto ao leitor, não deixando nada a dever a mestres da narrativa curta como John Fante, Raymond Carver, Paul Auster, Alice Munro, Rubem Braga.
As histórias dessa coletânea, todas de inspiração autobiográfica, apresentam a vida movimentada de uma criança solitária nascida no Alasca e criada no Novo México, adolescente de elite no Chile, boêmia hipster em Nova York, enfermeira em Oakland nos 70 e, no final da vida, professora universitária. Foi também faxineira e professora de crianças, casou três vezes, teve quatro filhos, um caso tórrido com um rapaz de 17 anos, amigo de um deles, e passou anos enfrentando o alcoolismo.
Seus personagens vêm e vão ao longo das histórias, apresentados por pontos de vista diferentes em várias situações cotidianas. Um recorrente é a irmã mais nova, que está com câncer terminal e com quem ela passa um tempo na Cidade do México. A maneira como ela descreve a personalidade do seu namorado adolescente se aplica muito bem ao tom das narrativas:
“Ele não era gentil. ‘Gentil’ é uma palavra como ‘caridade’; implica um esforço. Como aquela frase de para-choque de caminhão que fala de gestos aleatórios de gentileza. Gentil deveria ser o modo como uma pessoa é sempre, não um gesto que ela opta por fazer. Jesse tinha uma curiosidade compassiva em relação a todo mundo”.
Quando eu crescer, quero escrever como Lucia Berlin.
05
Apr12
Os defuntos do poço
Cresci ouvindo papai contar e recontar esta história. O mano Camillo também. Há algum tempo, durante o enterro de um parente, ele teve a oportunidade de ouvi-la outra vez de um primo, na porta do cemitério.
O poço
Camillo Veras
Depois de toda uma tarde modorrenta, mais que morna, o velório acabou e finalmente o caixão partiu. Nesses tempos já não era obrigação nem costume usar preto em cerimônias como essa e muitos chegaram ao local de mangas curtas. Somente as mulheres mais velhas mantinham os vestidos longos e negros. Lento, o cortejo levou quase um quarto de hora para percorrer aquelas centenas de metros entre a casa e o cemitério, encoberto pela poeira levantada pelos passos arrastados e ainda castigado pelo sol de vários meses de seca. (…)
28
Apr10
Agenda de hoje em Floripa
Uma quarta-feira animada por quatro eventos que são ótimos pretextos pros amigos se encontrarem. Os horários de alguns são mais ou menos simultâneos, o que é pena, pois eu gostaria de ir a todos.
Às 19h, na Assembleia Legislativa, um bate-papo com o escritor Flávio José Cardozo, que comemora 40 anos de seu livro de contos Singradura.
Também às 19h, na Casa da Cultura (Rua Padre Miguelinho, 58, atrás do Banco do Brasil do centro), exibição e debate do documentário Espírito de Porco, que codirigi com Chico Faganello.
Às 19h30, no espaço cultural da Assembleia Legislativa, Cesar Valente lança o livro De Olho na Capital, com os melhores momentos de sua coluna no Diarinho do Litoral.
A partir das 21h, no Let’s Rock, Lagoa da Conceição, aniversário do Frank e festa das fraldas da Clara, que tá chegando. Jam session com vários amigos músicos.
25
Sep09
#tuiteumcurta
Versão ultra-curta para twitter do meu conto Pura Sorte – que já é bem enxuto:
Matava a tiro. Preso, quebralham-lhe 5 dedos. Fugiu. Menino curioso: – Que foi? Ele: – Acidente de trabalho. Mas sou canhoto.
11
Sep09
Grandes autores catarinas
Regininha Carvalho, que dia desses cometeu bloguicídio pra se dedicar mais tempo à literatura, volta a atacar na blogolândia, agora com Grandes autores catarinas, aproveitando material de pesquisa que está fazendo pra um livro sobre seu avô. Diz ela:
Não existe, atualmente, melhor meio pra divulgação que a internet, temos que reconhecer… Colocarei poetas, contistas e cronistas, talvez ensaístas, desde que tenham sido publicados em livro, sem pensar em se estão vivos ou mortos. Basta que sejam bons! Acho que ‘cês vão gostar dele!
Adorei. Regininha aceita sugestões de autores e textos. E de cara, compartilha um conto belíssimo de Flávio José Cardozo, lido pelo autor durante uma oficina na Academia Catarinense de Letras: Eles apenas saíram, publicado no livro Guatá, de 2005. Sou pai de dois meninos, impossível não chorar. O início:
Eu muitas vezes penso que eles apenas saíram. Foram levar as marmitas e não tiveram vontade de ir para a escola, então saíram para um passeio pelos eucaliptos, por aqueles morros. Saíram por distração, travessura. Foram olhar nossas casas mais do alto e a Serra um pouquinho mais de perto, logo estarão de volta.Dulcídia não conhece tristes cantares de outras terras, canções para outros meninos. O que sabe, com murmúrios e silêncios, é que seus meninos apenas saíram. Estão por aí, pelos morros, pelos eucaliptos. (…)
03
Apr09
Os 140 caracteres como desafio pros microcontos
Do blog Twitteratura:
Robson
“Pescaria? Como eu fui deixar a Lu me convencer?” Perguntava-se, enquanto esperava que a isca fosse mordida. Mal sabia que o peixe era ele.
12
Sep08
Oficina de Conto, primeiro dia
Ontem foi o primeiro dia da Oficina de Conto que a Academia Catarinense de Letras está promovendo no Centro Integrado de Cultura. Achei o formato meio cansativo – a tradicional fórmula de longas exposições, seguidas de debate rápido, que termina rendendo menos do que poderia. Mas sempre se aprende e se revê. O professor Lauro Junkes falou sobre o enredo. A importância do conflito pra mover a história, a tensão que se projeta no leitor. A montagem de ações que forma a sintaxe narrativa. Os princípios de unidade artística: concatenação, verossimilhança, coerência, necessidade. As funções do espaço e da atmosfera na ficção. Cada tópico desses renderia dias inteiros de conversa. Falou também sobre a diluição das fronteiras rígidas entre as diferentes formas de expressão literária: crônica, conto, poema, novela, romance. E fez uma recomendação óbvia, mas muitas vezes esquecida pelos aspirantes a contista: ler os mestres, ler muito. E praticar.
Em seguida os escritores Silveira de Souza e João Nicolau Carvalho falaram sobre seus processos de criação. Gostei especialmente da apresentação de Silveira de Souza, um velhinho simpático e tímido que escreve relatos muito bons. Consultando anotações no papel, ele nos levou ao túnel do tempo de suas memórias de criança, quando descobriu o encantamento da leitura nas obras de Monteiro Lobato, Júlio Verne e depois, Maupassant, Poe, Flaubert, Machado de Assis, Chekov. Lembrou da mesa em que se reunia à noite com os pais e as irmãs pra leituras em voz alta. Contou que dá bastante importância ao ritmo e costuma se inspirar em outras formas de expressão artística, como a música e a pintura. Recordou-nos do ensinamento de Poe, que aponta três características importantes para o conto:
- A narrativa deve provocar no leitor um efeito pré-determinado.
- Deve-se excluir tudo o que não contribui para tal efeito.
- A narrativa deve ser curta, mas não a ponto de impedir que se atinja tal efeito.
João Nicolau Carvalho contou da influência que as histórias familiares tem sobre sua obra, em especial de seu trisavô e seu bisavô longevos. Recordou os tempos de estudante no sul de Santa Catarina e também os de jornalista no Rio de Janeiro, quando, inspirando-se em ícones como Hemingway, aprendeu a limar os excessos no texto. Disse que alguns contos seus surgiram de matérias jornalísticas recusadas pelos editores. Que escreve bem devagar e que perdeu dezenas de contos na famosa enchente que arrasou Tubarão na década de 70. Comentou sobre seu flerte com o realismo fantástico, questionando o cânone da verossimilhança. Sobre seu estilo de trabalho, contou que não faz esquemas antes de começar a construir uma narrativa. Em geral parte de um insight, escreve a história inteira e a guarda na gaveta por alguns meses. Depois retoma o texto e o vai esmerilhando aos poucos até ficar pronto.
p.s.: Ontem fiz um exercício de microconto, mas não sei se me atrevo a mostrá-lo aos acadêmicos. Talvez comentem que “é uma boa idéia a ser desenvolvida”… Enquanto pensam “que sujeito mandrião”. Provavelmente têm razão nos dois pontos
p.s.2: Falar em mandrião, veja que bela crônica da Regininha!
10
Sep08
Oficina de conto
Regininha dá o toque e passo adiante. A partir de amanhã, em quatro encontros às quintas-feiras das 17h às 19h30, no auditório da Academia Catarinense de Letras, vai se realizar uma oficina de contos. Oportunidade boa pra quem se interessa por literatura e quer ampliar os horizontes trocando idéias com profissionais do ofício e fazendo exercícios práticos.
04
Aug08
Segundeiras
Coisas do jornalismo: passei metade da tarde numa interessante conversa sobre polímeros e reciclagem, com um especialista da Engenharia de Materiais da UFSC.
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Descobri hoje o blog do Zeca Camargo, aquele do Fantástico. Escreve bem o rapaz. Bem articulado, viajado, culto. Um tanto verborrágico pro meu gosto, mas tem o que dizer.
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O DVD Bob Esponja – O Filme, está passando uma temporada de quatro dias aqui em casa. Repetições incansáveis, entretenimento garantido.
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No fim de semana vimos Um Bonde Chamado Desejo (A Streetcar Named Desire, de Elia Kazan, 1951), adaptação da peça de Tennessee Williams. Marlon Brando arrebenta.
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Terminei de ler Contos de Crime (PocketOuro, 2008), coletânea de Flávio Moreira da Costa. Muita coisa boa. Gostei muito de Marjorie Daw, de Thomas Bailey Aldrich (EUA, 1835-1907).
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Costa da Lagoa no domingo, com Miguel e com meu sobrinho Érico. Sol e vento sul, anchovinha grelhada no Bela Ilha. Caminhada curta, 40 min, e o restante de barco.
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Amar é… se molhar todo com um jato de vômito do filho e não sentir um pingo de nojo.
E vamos em frente, que a semana só começou.