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Dec18
DVeras Awards de Literatura 2018
Mais uma vez você não pediu, mas aqui estamos com o DVeras Awards 2018 de Literatura. Este é um concurso hedonista: participam todos os livros que li sem nenhuma obrigação, só por prazer, entre janeiro e dezembro deste ano. Ficam de fora as obras técnicas e de referência, as lidas por motivos profissionais específicos e as não concluídas até 31 de dezembro. As decisões da comissão julgadora – eu mesmo – são irrecorríveis.
Este ano a seleção dos melhores foi dificílima pela alta qualidade dos competidores, nada menos que quatro prêmios Nobel – Mario Vargas Llosa (2010), Alice Munro (2013), Svetlana Alexievitch (2015) e Kazuo Ishiguro (2017), sem falar nos quase premiados Graham Greene e Haruki Murakami, e no genial Julio Cortázar, um gigante literário ignorado pela academia sueca (aliás, na boa companhia de Kafka, Ibsen, Joyce e Nabokov).
Os autores e autoras destes 27 livros são de 13 países: Suíça, Canadá, Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos, Japão, Brasil, Noruega, Argentina, Cuba, Uruguai, Peru e Bielorrúsia. Em 2018 li menos do que gostaria, e poucas mulheres, mas pude conhecer nomes relevantes, como tinha me proposto. Aceito dicas para aumentar o repertório de visões literárias femininas. Os temas e formatos variaram. De reflexões filosóficas sobre a vida amorosa a narrativas sobre a ditadura brasileira, passando por autobiografias, romances policiais e históricos, jornalismo e contos. Veja a lista e, em seguida, conheça os três agraciados:
- The Course of Love, Alain de Botton
- Amiga de juventude, Alice Munro
- O poder do agora, Eckhart Tolle
- O ministério do medo, Graham Greene
- Tiros na noite, Dashiell Hammett
- Kafka à beira-mar, Haruki Murakami
- A noite da espera (o lugar mais sombrio), Milton Hatoum
- O fim do Terceiro Reich, Ian Kershaw
- Midnight Sun, Jo Nesbo
- O livro de Jô, volume 1, Jô Soares
- As armas secretas, Julio Cortázar (releitura)
- Não me abandone jamais, Kazuo Ishiguro
- Noturnos, Kazuo Ishiguro
- A brincadeira favorita, Leonard Cohen
- Hereges, Leonardo Padura
- Máscaras (Verão), Leonardo Padura
- A neblina do passado, Leonardo Padura
- Paisagem de outono, Leonardo Padura
- Uma janela em Copacabana, Luiz Alfredo Garcia-Roza
- A borra do café, Mario Benedetti
- A festa do bode, Mario Vargas Llosa
- Tudo que é belo, The Moth (org.)
- Vida querida, Alice Munro
- In The Country of Last Things, Paul Auster
- Invisível, Paul Auster
- O rio inferior, Paul Theroux
- Vozes de Chernobyl: a história oral do desastre, Svetlana Alexievitch
Todos os finalistas do DVeras Awards 2018 mereciam o prêmio máximo, por seus diferentes méritos. Mas escolhas precisavam ser feitas. O resultado:
Menção honrosa – Não me abandone jamais, Kazuo Ishiguro
Inquietante, distópico, perturbador, agridoce. Estritamente falando, daria para classificar como ficção científica, embora destoasse numa prateleira do gênero. A narrativa acompanha um grupo de colegas em um colégio interno no Reino Unido que aos poucos vão descobrindo o segredo por trás de suas origens e destinos. E mais não conto, pra não dar spoiler. A história virou um filme, que ainda não vi.
Bronze – Vozes de Chernobyl: a história oral do desastre, Svetlana Alexievitch
Relato jornalístico construído a partir de entrevistas com sobreviventes da tragédia nuclear de 1986, em que eles contam suas lembranças e sensações na primeira pessoa. Confesso que levei muito tempo pra terminar – a leitura tem forte carga emocional, o que às vezes me fazia “pedir” pausas. A autora é a única jornalista até hoje premiada com o Nobel. Esta obra tem grande valor histórico e merece ser mais conhecida.
Prata – Vida querida, Alice Munro
A escritora canadense mostra que domina como poucos as artes desse ofício dificílimo que é escrever contos: graça de contar, repertório, “timing”, poder de síntese. O encadeamento narrativo desperta empatia com os personagens (gente “comum”) e vai nos conduzindo com leveza até o desfecho. Que raramente é “extraordinário” como as fórmulas gastas de reversão de expectativas, mas traz algo parecido a uma pequena epifania. Bela escritora, quero conhecer melhor.
Ouro – A borra do café, Mario Benedetti
O que dizer sobre esse autor uruguaio de incrível talento e sensibilidade, morto em 2009? A borra do café reforçou minha impressão que ele é um dos grandes. Nesta novela, Benedetti revisita com nostalgia sua infância e adolescência na Montevidéu do início do século 20, pelos olhos do protagonista Claudio. Sua família, amigos do bairro, iniciação sexual, dilemas de trabalho e carreira. E uma misteriosa mulher que aparece em uma figueira e depois retorna outras vezes, sempre no mesmo horário, às 3 e 10. A história despretensiosa esconde um sofisticado recurso narrativo, uma tensão que vai ganhando velocidade e nos faz decolar até o desfecho inesperado. Taí um livro que eu gostaria de ter escrito!
Espero que vocês apreciem essas sugestões de leitura. Recomendo também Kafka à beira-mar, de Murakami (uma espécie de realismo fantástico japonês), A festa do bode, de Vargas Llosa (relato romanceado do último dia de vida do ditador dominicano Trujillo, baseado em muita pesquisa histórica), e O poder do agora, de Eckart Tolle (traz tantos insights bacanas que seria injusto desprezar apressadamente como “auto-ajuda”). Ah, um senão: achei O ministério do medo bem fraco, Graham Greene tem outros melhores.
25
Apr17
Sugestões de livros
- Agripa Alexandre – A lista dos prêmios de nobel de literatura desde 1950.
- Raul Ribeiro – “Estranhas Catedrais”. Ótimo para entender a histórias das empreiteiras e a participação nos governos desde a ditadura. Ou antes.
- Paulo Evangelista – Eu sempre recomendo dois livros: Memórias do Subsolo, do Dostoievski e O Livro dos Abraços, do Galeano. O motivo é simples: os dois, em épocas diferentes, marcaram a minha vida.
- Dorva Rezende – Tiger! Tiger!, do Alfred Bester, porque a ficção científica e a poesia podem te levar a grandes saltos pelo universo.
- Tatiana Kinoshita – Recomendo O que Jamais Dizer a uma Mulher Grávida, da Chiado Editora. Porque sou a autora.
- Janine Motta – Haiti depois do inferno, de Rodrigo Alvarez, correspondente da Globo. A união da imprensa mundial em prol da notícia me surpreendeu, mas chorei em várias páginas também.
- Ana Paula Lückman – “Você vai voltar pra mim”, do Bernardo Kucinski. O título não é o que parece.
- Nei Duclós – Terra do Fogo, de Francisco Coloane.
- Carlos Moura – Sangre de Mestizos. Augusto Céspedes. Lê – se achares – e depois me diz… Ou vai no Obras Completas do Murilo Rubião… Pq realidade e história são conceitos flexíveis…
- Gastão Cassel – O Quinteto de Buenos Aires. Manuel Vázquez Montalbán. Porque é literatura no seu modo mais essencial. Ele é um contador de histórias, precursor de vários seguidores pelo mundo no seu estilo de narração policial – Andrea Camilleri, Luiz Alfredo Garcia-Roza (para citar um brasileiro). O personagem Pepe Carvalho é impagável.
- Jean Mafra – “Ninguém” de Ieda Magri. Pois ela é uma autora contemporânea dona de uma ironia necessária, que nos apresenta um livro potente. Pois ela é mulher, é do interior de SC, mas também por isso não fazer a menor diferença diante do que apresenta.
- Ana Cadengue – Amo Saramago, mas já que é só um, lá vai: O Conto da Ilha Desconhecida. Ah, pura identificação mesmo. Me sinto sempre naquele barco. Ou naquela porta…
- Fábio Brüggemann – ‘não contem com o fim do livro”, uma conversa muito legal do umberto eco com o jean-claude carrière.
- Paulo Arenhart – Cem sonetos de amor, Pablo Neruda. Fábulas completas, Esopo. Fábulas nos fazem pensar fora da casinha! Número zero, Umberto Eco. De Umberto Eco recomendo todos! E este foi o último!
- Svetlana Lana – O mestre e a margarida, Mikhail Bulgakov. é misterioso, não só por coisas que acontecem lá. Já li várias vezes em russo e cada vez é diferente, você vai descobrindo algo de novo. Cada vez que tentavam gravar um filme baseado no livro aconteciam coisas misteriosas e até mesmo trágicas. É difícil para ler mesmo em russo. Então se não o conseguires, temos que parar e voltar mais tarde, até que o livro te “aceite”. já me contarás…
- Tadeu Meyer – O círculo, Dave Eggers. Distopia do presente, sobre a onipresença da tecnologia e a indução à exposição total. Na pior em paris e londres. Eric Blair vivendo como mendigo na década de 20, antes de virar George Orwell.
- Clóvis Scherer – Estou lendo e gostando de “Os versos satânicos”. Pelo tipo de literatura fantástica no contexto do islamismo.
- Sandra Werle – Teoria Geral do Esquecimento, de José Eduardo Agualusa. É um romance histórico, gênero que eu gosto. Fala sobre Angola e a guerra pela independência de Angola o que, para mim, é novo – não tenho muitas leituras a respeito dos outros colonizados portugueses como nós, brasileiros. Mas principalmente por Ludo. A personagem principal, sua solidão, sua condição de mulher, sua imaginação e paixão pelos livros… ela me trouxe várias identificações, sofri profundamente com ela e refleti demais sobre os “esquecimentos” aos quais somos submetidos ou impomos a nós mesmos. Já gostava de Agualusa, mas fiquei impactada com esse romance.
- Luiz Fernando Pereira – Reality Hunger: a manifesto, David Shields. O livro é uma coleção de tópicos do David Shields a respeito da nossa tendência cultural e comportamental recente de buscar realidade por causa do “excesso de não-realidade”, observando o que vem acontecendo na cultura geral, entretenimento, literatura, mídia e psiquismo. Mas a busca por realidade também é algo esquisito, por vezes fake e ambíguo, pois também passa a ser fabricado e encenado. O que está em jogo é sempre uma espécie de sede de realidade (daí o título). Leitura muito interessante que sinto ter a ver contigo, com o fato de você ser um jornalista aberto e investigativo, e com tua busca por visão ampla multidisciplinar sobre as coisas. David Shields é uma espécie de pensador da literatura, mas que nesse livro extrapola totalmente para a filosofia da realidade (apesar dele partir de e falar muito de arte e literatura).
- Rodrigo Leite – Sidarta, Hermann Hesse. É uma linda jornada de iluminação. Uma narrativa que transborda a beleza simples das coisas sábias.
- Delana Macedo Veras – Pollyanna menina [Eleanor Porter]. Por causa do jogo do contente.
- Paulo Brito Canção do Mar [Amanda Hocking], porque gostei.
- Sergio Giron – A guerra não tem rosto de mulher. Svetlana Alekiévitch…. depoimentos de emocionar sobre as mulheres russas na 2 grande guerra/guerra da vitória. Nobel 2015. imperdível no meu humilde conceito.
- Roseméri Laurindo – Analectos (Confúcio). Porque ainda há tempo e o tempo é curto.
- Angélica Elisa Sonaglio – A amiga genial, o primeiro da trilogia de Helena Ferrante. Porque te envolvem demais!!!
- Cândido Rodrigo Gomes da Silva – Viagem ao fim da noite. Pq é um livro do Céline.
- Camillo Veras – Getúlio, de Lira Neto. Pra quem quer conhecer a história do Brasil.
- Patricia Pratts – O Casamento – Nicholas Spark. Fala de um regaste da paixão/conquista, depois de mais de 20 anos de casados… Um romance maduro e muito próximo da realidade atual, em que os amores são rasos e descartáveis.
- Ana Paula Barreto – O Homem que amava os cachorros, do cubano Leonardo Padura. A história nos faz refletir sobre muitas das nossas “crenças” ideológicas. E nos faz ter certeza que o melhor caminho possível ainda é a democracia.
- Daniel Eduardo Guilhamet – Nunca Mas (Informe de la Comisión Nacional sobre la Desaparición de Personas).
- Celso Vicenzi – A Tolice da Inteligência Brasileira, de Jessé Souza. São 20 anos de pesquisas e nunca ninguém mostrou, de maneira tão clara, documentada e convincente o papel dos intelectuais brasileiros para construir uma imagem distorcida do Brasil e fazer com que o povo aceite, submisso, privilégios injustos eternizados entre nós. Depois, pra curar a “ressaca”, Poemas Escolhidos, de Mia Couto e uma poeta polonesa magnífica: Wislawa Szymborska. Livro: Poemas.
- Mauro Sniecikowski A montanha mágica de Thomas Mann – pq está em meu top 3.
- João Carlos Dalmagro Júnior “Desonra”, do J. M. Coetzee, porque soube, como poucos e com uma linguagem envolvente, explorar a descrença na humanidade de forma absolutamente contemporânea.
- Cassiano Fagundes – Cidade em Chamas, Garth Risk Hallberg.
- Cecilia Revisartese – “Se questo è un uomo” (Primo Levi), porque vivi no campo de concentração com ele, levada pelos detalhes, de um modo que foi muito especial, para mim. “Tempo entre costuras” (María Dueñas), pela ideia de como fazer a costureira virar espiã. “Um homem chamado Ove” (Fredrik Backman), porque me diverti. “O 11o mandamento” (Abraham Verghese), porque não queria que o livro terminasse.
- Antonio Rocha – The book of Joy with Dalai Lama and Desmond Tutu. It makes you and the world feel good.
- Mario Rocha – Deserto dos Tártaros, do Dino Buzzati. Li há muitos anos e considero um livro obrigatório, entre muitos, tantos outros.
- Sergio Farias Homens imprudentemente poéticos de Valter Hugo Mãe. Uma ode à língua portuguesa.
- Raquel Eltermann Cinco grandes reportagens que têm em comum o fato de retratarem fatos históricos e locais altamente estigmatizados da Europa no século XX. Guernica, Chernobil, Transilvânia, Lourdes e Auschwitz são os cenários; e a proposta do jornalista catalão Álvaro Colomer é refletir como se vive atualmente nessas paragens do Velho Continente marcadas por feridas que chocaram e refletem ainda hoje no mundo (não só) Ocidental . “Guardianes de la memória – Recorriendo las cicatrizes de la Vieja Europa” (Ed. Martínez Roca, Madrid, 2008; 255 págs).
- Carlos Tonet – 100 Anos de Solidão. Porque foi a melhor coisa que já li.
- Henrique Finco – Arrisco indicar o “É isto um homem?”, do Primo Levi – e também o “A Trégua”, do mesmo autor. Para completar, o “A guerra não tem rosto de mulher”, da Svetlana Aleksievitcht. No primeiro, Primo Levi descreve sua sensação de não mais pertencer à Humanidade quando estava preso em Auschwitz; no segundo, seu retorno para casa após ser libertado pelo Exército Vermelho. O Svetlana tem os depoimentos de algumas das mais de um milhão de mulheres que serviram no Exército Vermelho durante a segunda guerra mundial. O que os três têm em comum é a denúncia do fascismo, o que me parece fundamental nos dias que correm. Abraço.
- Dagomir Marquezi – 50 Pilotos: A Arte de se Iniciar uma Série.
- Ivi Brasil – Ensaio sobre a lucidez, José Saramago. A população que foi acometida anos antes pela cegueira branca decide nao votar naa eleições, levando a democracia ocidental à bancarrota. O estado cerca a cidade mas nem assim os eleitores votam…
- Ivana Medeiros Zoccoli – Pais Inteligentes Formam Sucessores, Não Herdeiros. Autor: Augusto Cury. Porque nos faz refletir sobre a maneira como estamos criando nossos filhos e escrito com muito clareza e envolve muito amor.
- Marcello Castro – O tabuleiro de damas – Trajetória do menino ao homem feito, de Fernando Sabino. Memórias. Se ainda não leu, corra! “Morrer tem pelo menos três vantagens: não precisa mais ir ao dentista, declarar imposto de renda e cortar unha do pé.” (Hélio Pelegrino, citado por Fernando Sabino em “O tabuleiro de damas, p. 53)
- Shirley Bilro – Uma nova tradução de Satyricom que nos leva ao inusitado banquete de Trimalquião…
- Roberto Solino – recomendo “obras completas (y otros cuentos)”, de augusto monterroso, infelizmente sem tradução para o português. é um livro curto mas com verdadeiras obras primas, inclusive o seu conto mais famoso, o micro “el dinosaurio”. um dos contos que gosto mais (literatura sobre literatura) é “leopoldo (sus obras)”.
- GR – O livro que me mudou para sempre: O IDIOTA, Fiódor Dostoiévski.
- Joenilson – O Estrangeiro Albert Camus. Esse é fantástico.
- Josimey Costa – Quase conto.
- Laura Tuyama – O Amor de uma Boa Mulher (2013), Alice Munro. Indico pela força da narrativa curta. Em poucas palavras ela consegue te apresentar personagens complexos e situações perturbadoras.
25
Aug16
Os 10 melhores filmes do século XXI
Via Vincent Pasquier.
Os 10 melhores filmes do século XXI segundo 177 críticos do mundo todo:
1. Mulholland Drive (David Lynch, 2001)
2. In the Mood for Love (Wong Kar-wai, 2000)
3. There Will Be Blood (Paul Thomas Anderson, 2007)
4. Le Voyage de Chihiro (Hayao Miyazaki, 2001)
5. Boyhood (Richard Linklater, 2014)
6. Eternal Sunshine of the Spotless Mind (Michel Gondry, 2004)
7. The Tree of Life (Terrence Malick, 2011)
8. Yi Yi (Edward Yang, 2000)
9. Une Séparation (Asghar Farhadi, 2011)
10. No Country for Old Men (Joel and Ethan Coen, 2007)
20
Nov11
28 filmes sobre jornalismo
Estou fazendo um delicioso curso de extensão na UFSC com o professor Francisco Karam: Jornalismo, Jornalistas e Cinema: representações. Durante seis encontros, vamos conversar sobre dezenas de filmes em que a profissão de jornalista é retratada, às vezes de maneira exagerada ou caricata – com seus dilemas éticos, aventuras e tragédias, glamour, decadência, bebedeiras, manipulações, idealismos. Só o tema já valeria o curso. E quando temos um professor do quilate do Karam pra mediar essa exploração, tudo fica ainda mais interessante.
Boa parte das obras que ele cita estão nesta lista do ObjEthos, com mais de cem filmes sobre jornalismo. A maioria é acompanhada de resenhas. Desses cento e tantos, vi 27 – a vida é curta pra tanto filme bom. Aproveito pra compartilhar esta minha lista, que tem um bonus track de Fellini. A ordem da lista é aleatória e irrelevante. Recomendo todos. Os que estiverem em negrito são recomendações especiais.
- A montanha dos sete abutres (Ace in the Hole, EUA, 1951, Billy Wilder). Um clássico do cinema, com a magistral interpretação de Kirk Douglas como jornalista inescrupuloso que prolonga uma tragédia pra vender mais jornal.
- Boa noite e boa sorte
- Capote
- Cidadão Kane (Citizen Kane, EUA, 1941, Orson Welles). Pra muitos, o melhor filme já feito. Não sei se chega a isso, mas vale conferir, sem dúvida.
- Diamantes de sangue
- Frost-Nixon
- Herói por acidente
- Intrigas de Estado
- Leões e cordeiros
- Medo e delírio
- O americano tranquilo (The Quiet American, EUA, 2002, de Philip Noyce, com Michael Caine). Belo filme ambientado no Vietnã durante a Guerra Fria, é a segunda adaptação do romance de Graham Greene.
- O diabo veste Prada
- O dossiê Pelicano
- O informante
- O povo vs. Larry Flint
- O show de Truman (The Truman Show, EUA, 1998, Peter Weir), sobre um homem que vive em um reality show sem saber. Com Jim Carrey, quase sem caretas.
- Os gritos do silêncio (The Killing Fields, Inglaterra, 1984, Roland Joffé). Amizade entre dois repórteres durante o conflito do Camboja.
- Profissão: repórter (The Passenger, 1975, Michelangelo Antonioni). Questionamento sobre o tédio existencial, a verdade e o papel da imprensa. O protagonista é o grande Jack Nicholson.
- Quase famosos
- Quizz Show
- Salvador, o martírio de um povo (1981, EUA, Oliver Stone). Filmaço sobre a cobertura do conflito de El Savador, com o grande ator James Woods.
- Sob fogo cerrado
- Talk Radio – Verdades que matam (Talk Radio, EUA, 1988, Oliver Stone). A polêmica levada ao extremo num programa de rádio. Muito bom. O curioso é que ele foi quase todo filmado em um estúdio e mesmo assim mantém o pique até o fim.
- Terra de ninguém
- Todos os homens do presidente (1976, EUA, Alan J. Pakula). Clássico sobre a investigação do escândalo de Watergate pelos dois repórteres do Washington Post, em excelente interpretação de Robert Redford e Dustin Hoffmann.
- Tropa de Elite 2
- Um grito de liberdade
- A doce vida (1960, Federico Fellini). Clássico, must-see. O repórter interpretado pelo genial Marcello Mastroianni ganha a vida cobrindo celebridades. O personagem do fotógrafo deu origem ao termo “papparazzi”.
05
Jan11
Dez coisas que NÃO pretendo fazer em 2011
Depois da lista de modestas intenções pra este Ano Novo, vem agora a lista de dez coisas que NÃO pretendo fazer em 2011:
- Assinar cheques escrevendo 2010 (o último foi hoje)
- Comprar produtos e serviços não solicitados
- Tomar tequila
- Ficar de ressaca
- Perder o sono com o que não merece
- Entrar em caverna
- Paraquedismo
- Lipoaspiração
- Pintar o cabelo de acaju
- Ver o Fantástico
27
Dec10
DVeras Awards 2010: livros
Poucas e boas leituras em 2010. Apontar três destaques é tarefa árdua. Entre eles podiam estar os ótimos “road-books filosóficos” Um adivinho me disse, de Tiziano Terzani (indicado pela @ladyrasta) e Teoria da Viagem, de Michel Onfray, assim como o hilário infanto-juvenil A volta às aulas do Pequeno Nicolau. Mas escolhi outros três, adotando como critérios principais o impacto que as obras provocaram em mim, a importância dos temas e a qualidade das narrativas. Os finalistas são:
- As benevolentes (Jonathan Littell)
- O espírito do zen (Alan Watts)
- Pobre nação: as guerras do Líbano no século XX (Robert Fisk)
As benevolentes me foi indicado pelo amigo Yan Boechat, com quem compartilho o interesse por histórias da Segunda Guerra Mundial. O romance narra, em primeira pessoa, a trajetória de um oficial SS, gay, que participa da campanha da Rússia e depois atua em campos de concentração. Um tratado sobre cinismo, loucura coletiva e personificação do mal.
O espírito do zen é um livro fininho, com uma densidade e poder de síntese impressionantes. Indicado pra quem busca as primeiras informações básicas sobre o zen – cuja compreensão no sentido mais profundo não se dá por meio do intelecto. Abriu-me as portas para novas descobertas que quero fazer nessa área.
Pobre nação é uma magistral aula de jornalismo sobre o Oriente Médio. O livro aborda os acontecimentos do Líbano no século 20, em especial nas décadas de 1970 e 80. Guerra civil entre cristãos e muçulmanos, conflito com palestinos, invasão síria, invasão israelense com apoio americano… Uma sucessão banhos de sangue cometidos em nome de conceitos fugidios como paz, segurança e combate ao “terrorismo”. Não é um livro fácil de ler. Nem tanto pelas suas quase mil páginas, mas pela intensidade e precisão às vezes dolorida – mas nunca com pieguismo – com que o jornalista faz a História passar diante dos olhos do leitor. Confesso que parei algumas vezes para intercalá-lo com leituras mais amenas, mas o volume estava sempre por perto, exercendo forte atração.
Robert Fisk morou anos em Beirute e conhece bem aquela realidade, que cobriu para a imprensa britânica enfrentando cotidianamente o risco de vida. Ao publicar seu relato detalhado sobre a tragédia libanesa e o conflito israelense-palestino, prestou tributo valioso aos milhares de inocentes que morreram e aos que continuam oprimidos. Deu também uma contribuição inestimável para que a verdade prevaleça acima dos factoides. Por esses motivos, Pobre nação é o escolhido para receber o DVeras Awards de melhor livro lido em 2010.
17
Sep10
Mais 15 livros em 15 minutos
A @anitadutra não resistiu e fez uma lista “remix” com outros 15 livros marcantes que ficaram de fora da sua primeira lista, pra que não venham mais puxar no pé dela durante o sono. Então tomo a liberdade de citar mais 15 que também podiam ter entrado na minha primeira:
1. Rayuela (Cortázar)
2. Amor nos tempos do cólera (Garcia Marquez)
3. Sagarana (Guimarães Rosa)
4. Viva o povo brasileiro (João Ubaldo Ribeiro)
5. Meu último suspiro (Luis Buñuel com Jean-Claude Charrière)
6. As flores do mal (Baudelaire)
7. Luna caliente (Mempo Giardinelli)
8. Memórias póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis)
9. Nada de novo no front (Eric Maria Remarque)
10. Olhai os lírios do campo (Érico Verissimo)
11. Feliz ano novo (Rubem Fonseca)
12. O nome da rosa (Umberto Eco)
13. Conversa na catedral (Vargas Llosa)
14. O aleph (Jorge Luis Borges)
15. A invenção da solidão (Paul Auster)
16
Sep10
15 amigos em 15 minutos
Recebi esse comentário do amigo Maderfrânio, que me deixou muito feliz por estar na lista. Os nomes de 6 a 15 são de irmãos dele.
15 AMIGOS EM 15 MINUTOS ( NA0 NECESSARIAMENTE NESTE ORDEM )
1- dauro veras
2- andre veras
3-camilo veras
4-flavio
5-etemistocles
6-mazotopisteles
7-mequistapache
8-marcolandio
9-merempedes
10-milhomens
11-mupamixades
12-modlipelinda
13-mansglio
14-maridinagema
15-marilandia
16
Sep10
15 músicas em 15 minutos
Essa é mais difícil que listar discos. Taí a minha, sem pensar muito.
1. A sua estupidez (Roberto Carlos)
2. Maria Isabel (Roberto Livi)
3. Hey Jude (Beatles)
4. Metamorfose ambulante (Raul Seixas)
5. Vassourinhas (Matias da Rocha e Joana Batista Ramos)
6. Insensatez (Tom Jobim)
7. Jamming (Bob Marley)
8. Gente humilde (Garoto, Chico Buarque e Vinicius de Moraes)
9. Imagine (John Lennon)
10. Nervos de Aço (Lupicínio Rodrigues)
11. The Godfather Theme (Nino Rota)
12. Dia branco (Geraldo Azevedo)
13. Stand by Me (por John Lennon)
14. Bohemian Raphsody (Queen)
15. Bachianas Brasileiras nº 4 (Heitor Villa-Lobos)
1, 2 e 3, ouvi muito na infância. A sua estupidez foi meu primeiro compacto, aos quatro anos. Vassourinhas tá no meu sangue pernambucano (força de expressão, pois apesar de ter nascido em Recife, sou geneticamente 100% cearense). Gente humilde é a cara de um Brasil que eu amo. A 14 me lembra um amigo querido de adolescência e minha primeira viagem a Brasília. A de Villa-Lobos é um encanto. Todas, em diferentes momentos da vida, foram belas trilhas sonoras.
15
Sep10
15 livros em 15 minutos
Mais um meme que respondi no Facebook. Mesmo esquema: escreva a nota com 15 livros marcantes, sem pensar muito, e passe nas marcações a 15 amigos, incluindo meu nome.
- Grande sertão – veredas (Guimarães Rosa)
- O fio da navalha (Somerset Maugham)
- Pergunte ao pó (John Fante)
- Misto-quente (Charles Bukowski)
- O estrangeiro (Albert Camus)
- O jogador (Dostoievski)
- O pequeno príncipe (Saint-Éxupery)
- Encontro marcado (Fernando Sabino)
- Paula (Isabel Allende)
- Histórias extraordinárias (Edgar Allan Poe)
- Huckleberry Finn (Mark Twain)
- O falecido Mattia Pascal (Luigi Pirandello)
- Crônica de uma morte anunciada (García Márquez)
- On the road (Jack Kerouac)
- Relato de um certo oriente (Milton Hatoum)
“Essa lista vale um post no blog pra comentar as escolhas”, escrevi lá. Há muitas diferenças entre estilos e temas. Em comum, a emoção provocada pela leitura. E, me dou conta agora, a busca do autoconhecimento – às vezes de maneiras tortuosas. O romance de Rosa é uma catedral, das melhores obras que a literatura mundial já produziu. Os contos de Poe eu conheci na adolescência, enquanto aprendia inglês, e me impressionaram. Paula, obra forte que só o amor+dor de mãe pode produzir. Mattia Pascal e o desejo de se reinventar também me impactaram na adolescência. Ouvi ecos da Amazônia de minha infância no romance de Hatoum. Misto-quente e Pergunte ao pó têm uma simplicidade enganosa, mas foram resultado de uma hábil carpintaria narrativa. E que protagonistas! Aliás, o Larry de O fio da navalha é um personagem especial.