31
Dec21
DVeras Awards de Literatura 2021
Chegou a hora de anunciar os resultados da 15a. edição do DVeras Awards de Literatura, celebração anual da leitura por prazer, promovida pelo blog DVeras em Rede. Nosso patrono (ele ainda não sabe) é Daniel Pennac, autor da lista com os dez direitos inalienáveis do leitor. Em 2021 eu exerci quatro deles de forma continuada e sem culpa: o direito de não terminar um livro; o de reler; o de ler qualquer coisa, e o de ler uma frase aqui e outra ali. Portanto, não espere uma lista muito extensa.
No segundo ano da praga viral e terceiro da peste familiciana, concluí 18 livros, igualando a marca de 2020 e a média de um livro a cada três semanas. Os temas foram da ficção científica ao crime, passando por política e amor, música e História, filosofia e ciência, humor e autoconhecimento. Por gênero, foram nove romances, duas grandes reportagens, duas coletâneas de contos, duas de ensaios e uma de crônicas, além de um livro de poemas e uma biografia. Os países de origem dos 15 autores homens e quatro mulheres são Austrália, Argentina, Brasil, Estados Unidos, Japão, Peru, Rússia e Suécia. Algumas menções honrosas por categoria:
- De pirar o cabeção: Quarantine, sci-fi de Greg Egan
- Caliente: hai quases, poemas de Lilian Schmeil
- Melhor leitura de banheiro: Vai dar merda, crônicas de Cláudio Schuster
- Releitura: A invenção de Morel, sci-fi de Bioy Casares
- Pra ler ouvindo música: Can’t Buy Me Love, biografia dos Beatles por Jonathan Gould
- Necessário: A república das milícias: dos esquadrões da morte à era Bolsonaro, reportagem de Bruno Paes Manso
-
Dava um filme: Baixo esplendor, romance de Marçal Aquino, empatado com Nove histórias errantes, contos de Márcia Feijó
A lista de concorrentes, pela ordem cronológica em que foram concluídos:
- A invenção de Morel, Adolfo Bioy Casares
- A república das milícias: dos esquadrões da morte à era Bolsonaro, Bruno Paes Manso
- Quarantine, Greg Egan
- Mossad: os carrascos do kidon, Eric Frattini
- Crime e castigo, Fiódor Dostoiévski
- Homens sem mulheres, Haruki Murakami
- South of the Border, West of the Sun, Haruki Murakami
- After Dark, Haruki Murakami
- Pontos de fuga: o lugar mais sombrio, Milton Hatoum
- O homem que sorria, Henning Mankell
- Can’t Buy Me Love, Jonathan Gould
- Um casamento americano, Tayari Jones
- Baixo esplendor, Marçal Aquino
- A Field Guide to Getting Lost, Rebecca Solnit
- Algoritmos para viver: a ciência exata das decisões humanas, Brian Christian e Tom Griffths
- Nove histórias errantes, Márcia Feijó
- hai quases, Lilian Schmeil
- Vai dar merda, Cláudio Schuster
E os três premiados são…
28
Mar21
Voluntário da Pátria: um conto de Camillo Veras
15
Mar21
Focinho de bezerro
24
Feb21
Lendo: Up In The Old Hotel
Up In The Old Hotel. Coletânea de perfis escritos por Joseph Mitchell para a New Yorker entre o fim da década de 1930 e 1964. Uma aula de jornalismo. Dica do Yan Boechat.
07
Jan21
Leituras de 2021: A invenção de Morel
No Dia Nacional do Leitor, mais um registro de leitura finalizada.
3) A invenção de Morel. Este romance do argentino Adolfo Bioy Casares (1914-1999), publicado em 1940, combina realismo fantástico com ficção científica numa história que nos faz mergulhar, junto com o narrador, numa lógica alucinada. Ele é um homem condenado à prisão perpétua que foge para uma ilha deserta, famosa por conter uma praga que mata os visitantes em poucos dias. Lá, começa a encontrar várias pessoas perambulando – por uma igreja, um museu e outros espaços -, mas não consegue fazer contato. Apaixona-se por uma das aparições, Faustine, linda mulher que vai todos os dias contemplar o mar, mas também é ignorado por ela. Esse mundo estranho tem duas luas (assim como universo paralelo da trilogia 1Q84, de Haruki Murakami), dois sóis e marés descontroladas. O homem começa a refletir sobre a sua solidão, a finitude da vida, a realidade e os simulacros. Sua busca para a explicação do que acontece é explicada pelo título. A invenção de Morel foi descrita por Jorge Luis Borges, o mestre dos labirintos metafísicos, como “perfeita”.
05
Jan21
Leituras de 2021: Um casamento americano e Paraízo-Paraguay
Comecei o ano com dois romances brilhantes, ambos relacionados a racismo em contextos bem diferentes. O primeiro, de uma autora americana negra, tem um triângulo amoroso como pano de fundo. O segundo, de um romancista estreante de Blumenau, detona a idealização do passado glorioso dos imigrantes alemães.
1) Um casamento americano (Arqueiro, 2019), de Tayari Jones, conta a história de Celestial e Roy, casal afroamericano de classe média que tem a vida virada do avesso quando ele é condenado a 12 anos de prisão por um crime que não cometeu. A outra ponta do triângulo é André, também negro, amigo de infância de Celestial, que a apresentou a Roy e conforta a amiga durante os anos de encarceramento do marido. A narrativa em primeira pessoa alterna as vozes das três personagens, acompanhando a tempestade emocional que desaba na vida delas e as escolhas difíceis que precisam tomar. Publicado em 2018, este é o quarto romance de Tayari Jones, professora universitária de Atlanta. No ano seguinte, ganhou o Women’s Prize for Fiction, um dos prêmios literários mais prestigiados do Reino Unido. A obra foi incluída no clube do livro de Oprah Winfrey e elogiada pelo ex-presidente Barack Obama.
2) Em seguida li Paraízo-Paraguay (Caiaponte, 2019), primeiro livro de prosa do blumenauense Marcelo Labes. Seu romance histórico é um mergulho incômodo na memória da imigração alemã em Santa Catarina. Acompanhamos a trajetória de Wilhelm, trambiqueiro que desembarca no Brasil em busca da fortuna e se vê obrigado a ir à Guerra do Paraguai como “voluntário da pátria”. A história é recordada por Olga, uma velha que revisita o passado enquanto agoniza, para constrangimento do filho Hans e da nora Anna. As vilanias de Wilhelm/Guilherme e seus descendentes ajudam a desmontar a idealização do passado grandioso dos colonizadores. Escravidão, massacres de indígenas, apoio ao nazismo apagado da história oficial, isolamento e flerte com a loucura, todos esses ingredientes fazem do romance de Labes uma viagem vertiginosa e necessária. Paraízo-Paraguay ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura em 2020 e o segundo lugar no Prêmio Literário da Biblioteca Nacional em 2019.