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Jan

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Leituras de 2021: Um casamento americano e Paraízo-Paraguay

paraizo-paraguayComecei o ano com dois romances brilhantes, ambos relacionados a racismo em contextos bem diferentes. O primeiro, de uma autora americana negra, tem um triângulo amoroso como pano de fundo. O segundo, de um romancista estreante de Blumenau, detona a idealização do passado glorioso dos imigrantes alemães.

1) Um casamento americano (Arqueiro, 2019), de Tayari Jones, conta a história de Celestial e Roy, casal afroamericano de classe média que tem a vida virada do avesso quando ele é condenado a 12 anos de prisão por um crime que não cometeu. A outra ponta do triângulo é André, também negro, amigo de infância de Celestial, que a apresentou a Roy e conforta a amiga durante os anos de encarceramento do marido. A narrativa em primeira pessoa alterna as vozes das três personagens, acompanhando a tempestade emocional que desaba na vida delas e as escolhas difíceis que precisam tomar. Publicado em 2018, este é o quarto romance de Tayari Jones, professora universitária de Atlanta. No ano seguinte, ganhou o Women’s Prize for Fiction, um dos prêmios literários mais prestigiados do Reino Unido. A obra foi incluída no clube do livro de Oprah Winfrey e elogiada pelo ex-presidente Barack Obama.

2) Em seguida li Paraízo-Paraguay (Caiaponte, 2019), primeiro livro de prosa do blumenauense Marcelo Labes. Seu romance histórico é um mergulho incômodo na memória da imigração alemã em Santa Catarina. Acompanhamos a trajetória de Wilhelm, trambiqueiro que desembarca no Brasil em busca da fortuna e se vê obrigado a ir à Guerra do Paraguai como “voluntário da pátria”. A história é recordada por Olga, uma velha que revisita o passado enquanto agoniza, para constrangimento do filho Hans e da nora Anna. As vilanias de Wilhelm/Guilherme e seus descendentes ajudam a desmontar a idealização do passado grandioso dos colonizadores. Escravidão, massacres de indígenas, apoio ao nazismo apagado da história oficial, isolamento e flerte com a loucura, todos esses ingredientes fazem do romance de Labes uma viagem vertiginosa e necessária. Paraízo-Paraguay ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura em 2020 e o segundo lugar no Prêmio Literário da Biblioteca Nacional em 2019.

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