Posts de 2020

29

Dec

20

DVeras Awards de Literatura 2020

livros2020_web

Eis uma nova edição do DVeras Awards de Literatura, há 14 anos celebrando o direito humano universal ao prazer da leitura ociosa. Li pouco neste Ano das Pestes de 2020. Acompanhar os capítulos da novela grotesca chamada Brasil me provocou certa dificuldade de concentração. Mas até mesmo num ano de merda, houve espaço pra descobertas alentadoras. Livros são grandes companheiros na tormenta, portais no espaço-tempo e vacinas antiestupidez com alta eficácia. Pelo menos, não conheço nenhum leitor voraz que seja terraplanista e faça ozonioterapia retal.

Repasso as regras deste concurso hedonista. O DVeras Awards de Literatura, promovido pelo blog DVeras em Rede (que em julho completou 20 anos), elege anualmente os melhores livros que li por prazer. Ficam excluídas as obras de propósito utilitário, as inacabadas até 31 de dezembro e as hors concours. Amigas e amigos leitores são incentivados a também compartilharem suas listas. Este ano o prêmio tem duas categorias: “ficção” e “não-ficção”, com aspas, cada uma com três nominados e um vencedor. O melhor de todos ganha o Grand Prix DVeras.

Em 2020, li 18 obras que atenderam os critérios do certame – um livro a cada três semanas, bem aquém da média usual. Os temas variaram da guerra à antropologia, da psicologia à criminalidade, da filosofia à sátira da autoajuda, da imigração à violência digital, em gêneros como realismo fantástico, jornalismo literário e divulgação científica. Os autores são de dez países: Alemanha, Angola, Argentina, Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, Islândia, Israel, Japão e Líbano. Há somente seis mulheres na lista. Esta retrospectiva me ajuda a definir alguns desafios factíveis para 2021:

  • ler um livro por semana

  • ler mais mulheres

  • ler mais autores da América Latina e África

  • ler mais em espanhol e inglês

  • explorar mais temas e formatos

 Vamos ao que interessa:

Hors concours

Siddartha, publicado em 1922 por Herman Hesse, que ganhou o Nobel de literatura em 1946. Obra bela e poética sobre a busca de autoconhecimento de um indiano contemporâneo de Buda. Demorei anos pra encarar a leitura, o que foi bom, pois o tempo me deixou mais receptivo. Recomendo. Lido em inglês.

“Não-ficção”

  • The Last Battle. Cornelius Ryan, 1966. Relato sobre o avanço das tropas aliadas sobre a Alemanha nos últimos dias da 2a.Guerra Mundial, baseado em documentos históricos. Ajuda a entender como se deu a repartição do país entre americanos e soviéticos, que definiu a geopolítica europeia pós-guerra. Lido em inglês.

  • Rápido e devagar: duas formas de pensar, Daniel Kahneman. O psicólogo israelense, ganhador do Nobel de Economia em 2002 por suas teorias sobre economia comportamental, questiona de maneira bem fundamentada a ideia de que a nossa tomada de decisões é exclusivamente racional. Lido em inglês.

  • Você não merece ser feliz: como conseguir mesmo assim, Craque Daniel. Os humoristas Daniel Furlan e Pedro Leite, do Falha de Cobertura, criaram uma paródia de manual de autoajuda que ironiza a mania das pessoas de perseguir a felicidade. “Se você quiser, se você se esforçar, se você treinar, se você entrar de cabeça, se você se concentrar, nada garante que você vai conseguir”, resumem. Ri muito.

  • A guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime, Bruno Paes Manso e Camila Caldeira Nunes Dias. Livro-reportagem sobre os bastidores do Primeiro Comando da Capital, suas disputas com outras facções criminosas, a expansão pra outros países e a falência da segurança pública no Brasil. Bem apurado, mas às vezes repetitivo.

  • Uma história da guerra, John Keegan. O historiador britânico dá uma aula sobre a natureza humana ao examinar as origens dos conflitos bélicos, suas motivações, rituais e evoluções tecnológicas, dos guerreiros de Átila aos ianomâmi, dos bôeres na África do Sul aos soldados das guerras globais do século 20.

  • Diário de Berlim Ocupada: 1945-1948, Ruth Andreas-Friedrich. Relato em primeira pessoa sobre a barbárie do pós-guerra por uma jornalista alemã. Ela se vê sitiada em situação precária num apartamento com amigos, passando fome e frio enquanto tropas russas e aliadas ocupam a cidade e a guerra fria começa a se instalar.

  • A lógica do cisne negro, Nassim Nicholas Taleb. Publicado em 2007 pelo matemático e consultor financeiro de origem libanesa, o livro mostra como estamos constantemente à mercê de acontecimentos imprevisíveis que são a base de quase tudo o que acontece no mundo. Muito atual.

  • A máquina do ódio: notas de uma repórter sobre fake news e violência digital, Patrícia Campos Mello. A jornalista conta como as redes sociais são manipuladas por líderes populistas, afetando processos eleitorais e minando a democracia. A obra é uma ampliação de reportagens publicadas na Folha de S. Paulo. Leia.

  • O mundo até ontem: o que podemos aprender com as sociedades tradicionais?, Jared Diamond. O biólogo evolucionário, fisiologista e biogeógrafo nos conduz ao cotidiano de sociedades tradicionais – povos das ilhas do Pacífico e do deserto Kalahari, inuítes, índios da Amazônia, entre outros, mostrando que temos muito a aprender com eles, sem idealizar seu estilo de vida.

“Ficção”

  • Manual prático de levitação, José Eduardo Agualusa. O volume reúne 20 contos organizados em três partes: Angola, Brasil e Outros lugares de errância. Gostei demais. Tenho especial predileção pelo gênero e, neste meu primeiro contato com o autor angolano, percebi grande talento e domínio técnico. Quero mais.

  • Murilo Rubião, obra completa. Coleção dos 33 contos do brilhante autor mineiro que antecipou o gênero literário do realismo fantástico, popularizado depois por García Márquez e Julio Cortázar. Rubião passou anos reescrevendo sua obra.

  • Killing Commendatore (O assassinato do comendador, em português), Haruki Murakami. Pintor recém-separado sai numa road-trip pelo norte do Japão e depois vai morar numa casa na montanha. Lá encontra um quadro misterioso no sótão e conhece um vizinho rico solitário que guarda um segredo. Lido em inglês.

  • O álibi perfeito e outras histórias, Patricia Highsmith. Contos de uma das autoras mais reconhecidas do gênero crime e mistério. Não estão à altura dos excelentes O talentoso Ripley e O amigo americano, matérias-primas de duas boas adaptações no cinema.

  • Love, Stephen King. A viúva de um escritor famoso começa a receber ameaças de um maluco, fã do autor e obcecado pelo acervo inédito supostamente guardado por ela. King nos conduz ao passado do casal e a um segredo terrível da infância do escritor, que abre o portal para uma realidade fantástica.

  • O segredo do lago, Arnaldur Indridason. O esqueleto de um homem é encontrado no fundo de um lago islandês que começou a perder água por causa de uma fissura geológica. Junto dele está um equipamento de rádio de origem soviética. A narrativa acompanha a investigação policial do caso, que desvenda memórias da guerra fria.

  • Plata quemada, Ricardo Piglia. Ficção entre grandes aspas. O autor baseia a narrativa numa história verídica sobre assaltantes argentinos que, depois de um sangrento roubo a banco em 1965, escapam para Montevidéu. Lá são cercados em um apartamento pela polícia uruguaia e decidem resistir a bala. Lido em espanhol.

  • Intérprete de males, Jhumpa Lahiri. A autora inglesa naturalizada americana ganhou o Pulitzer de literatura em 2000 com este volume de contos, seu primeiro livro. São histórias de indianos ou descendentes tentando se adaptar à vida nos Estados Unidos ou em seu cotidiano na Índia. Bem bom.

Resultados

Na categoria “não-ficção”, foram nominados Rápido e devagar, A máquina do ódio e O mundo até ontem. O livro de Patrícia Campos Mello é fundamental pra entender o momento político que vivemos hoje no Brasil e o contexto em que isso ocorre. O de Jared Diamond é uma rica oportunidade para os interessados em antropologia conhecerem as pesquisas do autor com sociedades caçadoras-coletoras e refletir sobre o estilo de vida urbano ocidental.

E o escolhido é…

Rápido e devagar: duas formas de pensar. O psicólogo comportamental Daniel Kahneman apresenta as pesquisas sobre o funcionamento da mente que o fizeram virar referência em economia. A partir de diversos experimentos, ele mostra como tendemos a nos comportar em temas como aversão à perda, excesso de confiança em escolhas estratégicas, dificuldade de prever o que vai nos fazer felizes no futuro e identificação de riscos. Aula magna sobre a natureza humana, serve também de alerta para não apostarmos demais na intuição. Sim, a intuição falha, e mais vezes do que gostaríamos de crer. Livraço.

Na categoria “ficção”, os nominados são Murilo Rubião: obra completa, Killing Commendatore e Plata quemada. O volume de histórias fantásticas de Rubião ganhou menção honrosa, mas poderia estar tranquilamente ao lado de Siddharta como hors-concours. Dos contos, destaco o belo Bárbara, sobre a mulher que pedia coisas extravagantes ao marido, e Teleco, o coelhinho, sobre um coelho falante que muda de forma. O romance de Piglia representa a literatura argentina com louvor, bebendo do jornalismo para trazer ao leitor uma narrativa ágil e de grande interesse humano.

E o escolhido é…

Killing Commendatore, de Haruki Murakami, que também leva o Grand Prix DVeras de melhor livro lido em 2020. O autor de Kafka à beira-mar e da trilogia 1Q84 nos presenteia com sua concepção peculiar de realismo fantástico, desta vez mergulhando na pintura como forma de expressão. O assassinato do comendador se aproxima da obra de Murilo Rubião quanto à falta de espanto das personagens diante de situações extraordinárias. Seu protagonista, um pintor de retratos com 36 anos, vive uma experiência invulgar na casa isolada que alugou numa montanha: em certas madrugadas, escuta o som de um pequeno sino vindo da floresta próxima. A maneira como ele lida com esse mistério, ajudado por um vizinho milionário e solitário (ecos de O Grande Gatsby, de Fitzgerald) e por uma adolescente, conduz a história a uma fascinante investigação da natureza humana e da arte. As palavras de Murakami deslizam espontâneas como água de riacho, numa narrativa repleta de camadas de reflexão sobre o sentido da vida e da arte.

Boa leitura!

 

Bookmark and Share


08

Dec

20

Kjeld Jakobsen, presente!

O mundo fica mais pobre sem Kjeld Jakobsen, uma pessoa especial que a vida me deu a sorte de encontrar. Conheci o Kjeld em 2002 quando fui contratado pelo Instituto Observatório Social, que ele presidia – um belo projeto de cooperação internacional envolvendo a CUT e centrais sindicais da Holanda, Alemanha e Estados Unidos.
Em poucos meses de trabalho, me coube a missão de acompanhá-lo a Santiago do Chile para um evento de trabalhadores de países hermanos. Tempo de esperança na possível eleição de Lula, que concorria à presidência pela quarta vez, e na mudança dos ventos na América Latina, que de fato ocorreu. Tivemos longas conversas sobre geopolítica e acompanhei atento a sua participação no encontro, um grande aprendizado de como é possível focar no que aproxima as pessoas, em vez de insistir nas diferenças.
Nos quatro anos em que trabalhamos juntos, embora em cidades diferentes – ele em São Paulo, eu em Floripa – convivemos em inúmeras ocasiões. Ele tinha o o talento inato de articulador, a habilidade de mediar conflitos de forma serena e fundamentada, costurar acordos difíceis que ampliaram direitos dos trabalhadores em várias empresas multinacionais com operações no Brasil. Chefe competente e ponderado, tinha um conhecimento tão vasto quanto a sua generosidade com os colegas, sua simplicidade e vontade de fazer do mundo um lugar mais justo.
Kjeld acreditou no jornalismo como instrumento relevante pra investigação de denúncias de violações de direitos humanos. Graças ao seu apoio decisivo, publicamos várias reportagens na Revista do Observatório Social sobre temas como trabalho escravo e infantil, assédio moral, mutilação na indústria, desmatamento ilegal e exploração de imigrantes, vinculando essas violações à cadeia produtiva de grandes corporações multinacionais. Não raras vezes, o desgaste da reputação dessas empresas provocou pressões que levaram a mudanças concretas nas relações de trabalho e na vida das pessoas. Os prêmios conquistados com a revista (Esso, Vladimir Herzog e outros) foram consequência do trabalho de uma galera idealista, que vivia dando risada, sabendo que o chefe nos incentivava e apoiava. Em retrospecto, vejo hoje que foi a redação dos sonhos. E ele sonhava com a gente.
Não tenho palavras boas o bastante pra expressar a tristeza com essa perda, pra contar da importância que o Kjeld teve na minha trajetória profissional e na de tantos outros. Morreu um homem de valor, parceiro dos que resistem. Meu abraço à família e a todos que foram tocados por sua presença. Seguimos.
Bookmark and Share


29

Oct

20

O novo Murakami

comendadorDia Nacional do Livro. Deixe uma sugestão de leitura e diga por que gostou.
A minha é O assassinato do comendador, de Haruki Murakami, inspirado em O grande Gatsby, de Scott Fitzgerald.
A narrativa é contada em primeira pessoa por um pintor de retratos de 36 anos que se separou da mulher. Depois de um tempo viajando de carro pelo norte do Japão, vai morar numa casa isolada no alto de uma montanha, pertencente a um pintor famoso já aposentado e senil. Um dia ele sobe ao sótão, onde encontra a pintura que dá nome ao romance.
O protagonista vive uma experiência estranha na casa: em algumas madrugadas, escuta o som de um pequeno sino vindo da floresta próxima. A maneira como ele lida com esse mistério, com a ajuda de um vizinho milionário e solitário, conduz a história a uma fascinante investigação da natureza humana e da arte, com toques de realismo fantástico.
Li em volume único na tradução em inglês, bem fácil de entender, com prosa fluida e coloquial. No original em japonês e na tradução em português, o livro é dividido em duas partes. Sem dúvida, um dos melhores de Murakami.
Bookmark and Share


21

Sep

20

Hablismo

Leitura da aula de conversação em espanhol sobre “hablismo”, uma tradução do inglês “accentism”. Como seria em português a palavra pra discriminação por sotaque? Sotaquismo?

Bookmark and Share


04

Sep

20

Ouvido não é penico

Ontem eu sintonizava a CBN no rádio do carro e mais uma vez fui recordado do motivo por que escuto rádio aberto cada vez menos. Um esquete supostamente humorístico chamado “Corneta do Tarrafa”, que faz piadas ruins apoiado no estereótipo do sotaque manezinho da ilha, apresentou um quadro infame por cerca de dois minutos.
Inspirados nos memes sobre as referências da deputada Flordelis ao som dos tiros que mataram seu marido, os dois locutores fizeram um paralelo com três jingles/músicas contendo “pá, pá, pá, pá, pá”. Da primeira vez foi bizarro, da segunda, grotesco e da terceira senti até o cheiro de esgoto.
Essa estética de comunicação focada no mundo cão, tão a gosto da indigência mental do bolsonarismo, tem produzido espetáculos constrangedores. Quem me conhece sabe que tenho uma visão bastante aberta quanto aos limites do humor, mas o gozo com a miséria humana, definitivamente, ultrapassa o tolerável.
Esquetes-lixo como esse contribuem pra afastar os ouvintes dos diversos conteúdos de qualidade que a CBN ainda tem na sua grade. Quase tão ruins quanto isso são os longos debates vazios enchendo linguiça sobre futebol. Ponto pros podcasts, em que os ouvintes têm um controle bem maior sobre a qualidade do que escutam.
p.s.: Aproveito pra recomendar o ótimo podcast Fronteiras invisíveis do futebol, um programa de História que aborda as realidades de vários países usando o esporte como pretexto.
Bookmark and Share


06

Apr

20

Coletiva de imprensa pelo Zoom é hackeada por neonazistas

BIZARRO! Coletiva de imprensa com imunologistas do Brasil e EUA, organizada pela Sociedade Brasileira de Imunologia e Agência Bori, com apoio da RedeComCiência, acaba de ser hackeada por neonazistas! Estávamos no Zoom com Karina Bortoluci, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia, Daniel Mucida, professor e líder do Laboratório de Imunologia das Mucosas da Rockefeller University; Marina Caskey, do Laboratório de Imunologia Molecular da Rockefeller University; Ana Caetano Faria, pesquisadora da UFMG; e Cristina Caldas, diretora de pesquisa científica do Instituto Serrapilheira. Aos 50 min de conferência, começaram a entrar fotos de Hitler, vozes estranhas e pichações na imagem. A conexão caiu.

Definitivamente, não usem o Zoom.

Bookmark and Share


31

Mar

20

Jornalistas divulgam material produzido sobre a ditadura militar para furar censura na EBC

Compartilhando:

~
31 de março de 2020. Há 56 anos o Brasil entrava em um dos períodos mais sombrios de sua história. Tantos anos depois, no entanto, é cada dia mais evidente que os crimes da ditadura não acabaram. Eles seguem reverberando. Afinal, a posição de membros do governo de Jair Bolsonaro é de enaltecimento das mortes, torturas e crimes da ditadura militar brasileira.
️ Na EBC, a forma que os jornalistas encontraram de furar a censura colocada na empresa – hoje impedida de se referir ao período como “ditadura militar” – foi publicar os conteúdos de quando ela era pública, pertencente à sociedade, não dirigida por militares. Abaixo, você confere uma lista com esses materiais produzidos pelos jornalistas da casa. Escolha suas preferidas e revisite a história nos termos em que ela deve ser revisitada: como ditadura militar. Para que nunca esqueçamos. Para que nunca se repita.
1) Cronologia do Golpe Militar de 1964 http://www.ebc.com.br/cronologia-do-golpe
2) Vlado: resistir é preciso http://www.ebc.com.br/vlado-resistir-e-preciso
3) Brasil, 1964. Os militares derrubam o presidente João Goulart e assumem o poder https://www.youtube.com/watch?v=ey-Wamp9M8A
4) Caminhos da Reportagem: o que sabem os jovens brasileiros sobre a ditadura militar do país? https://www.youtube.com/watch?v=63zK6DR5QBE
5) Caminhos da Reportagem: Comissão Nacional da Verdade – os crimes da ditadura https://www.youtube.com/watch?v=YgG5lN6KVvA
6) Caminhos da Reportagem: como foi o racismo durante a ditadura https://www.youtube.com/watch?v=UHCQpM2IK14&feature=emb_title
7) Especial traz seleção musical de ex-presos políticos da ditadura http://radioagencianacional.ebc.com.br/direitos-humanos/audio/2014-03/especial-traz-selecao-musical-de-ex-presos-politicos-na-ditadura
8) Máira Heinen fala sobre matéria ganhadora do Prêmio Vladimir Herzog https://www.youtube.com/watch?v=KYU57B-Tf0Y
9) Reportagem da Rádio Nacional da Amazônia ganha prêmio nacional de jornalismo http://memoria.ebc.com.br/radioagencianacional/materia/2012-10-11/reportagem-da-r%C3%A1dio-nacional-da-amaz%C3%B4nia-ganha-pr%C3%AAmio
10) Repórter da Rádio Nacional da Amazônia fala sobre conquista http://www.ebc.com.br/noticias/politica/galeria/audios/2012/10/reporter-da-radio-nacional-da-amazonia-fala-sobre-conquista
11) Ato em Salvador protesta contra impeachment com música e gritos de ordem https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2016-03/ato-em-salvador-protesta-contra-impeachment-com-musica-e-gritos-de-ordem
12) Integrantes das Mães da Praça de Maio é homenageada na universidade https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2016-07/integrante-das-maes-da-praca-de-maio-e-homenageada-em-universidade
13) Especial resgata histórias de centro clandestino de tortura na ditadura militar http://radioagencianacional.ebc.com.br/direitos-humanos/audio/2014-09/especial-resgata-historias-de-centro-clandestino-de-tortura-na
14) Sobreviventes apontam Major Curió como principal torturador em Marabá http://radioagencianacional.ebc.com.br/direitos-humanos/audio/2014-09/sobreviventes-apontam-major-curio-como-principal-torturador-em-maraba
15) Vítimas da ditadura eram obrigadas a ajudar militares em Marabá http://radioagencianacional.ebc.com.br/direitos-humanos/audio/2014-09/vitimas-da-ditadura-eram-obrigadas-ajudar-militares-em-maraba
16) TV Brasil: como a censura afetou o teatro durante a ditadura militar https://youtu.be/-ANFOwLUu_s
17) TV Brasil: censura do cinema durante a ditadura militar https://youtu.be/KuNw2BkjUU4
18) TV Brasil: como a censura afetou a produção musical durante a ditadura militar https://youtu.be/LPmHHH1rBh4
19) Série da TV Brasil: Semana do Proibido: último episódio https://youtu.be/5rNMVpvQAvI
20) Poemas e receitas: os protestos da imprensa contra a censura https://youtu.be/te1jTluBFvs
21) História hoje: há 48 anos campus da UnB era invadido por militares da ditadura http://radioagencianacional.ebc.com.br/geral/audio/2016-08/historia-hoje-ha-48-anos-campus-da-unb-era-invadido-por-militares-da-ditadura
22) História hoje: frei Tito foi preso político e lutou pelos direitos humanos http://radioagencianacional.ebc.com.br/geral/audio/2016-09/historia-hoje-frei-tito-foi-preso-politico-e-lutou-pelos-direito-humanos
23) História hoje: conheça a trajetória de Carlos Marighella no combate a ditadura http://radioagencianacional.ebc.com.br/politica/audio/2016-11/historia-hoje-conheca-trajetoria-de-carlos-marighella-no-combate-ditadura
24) História hoje: mortes de Edson Luis há 50 anos ficou marcada como dia nacional de luta dos estudantes http://radioagencianacional.ebc.com.br/direitos-humanos/audio/2018-03/historia-hoje-morte-de-edson-luis-ha-50-anos-ficou-marcada-como-dia
25) Comissão de Anistia pede desculpas a professores vítimas da ditadura http://radioagencianacional.ebc.com.br/geral/audio/2015-10/comissao-de-anistia-pede-desculpas-professores-vitimas-na-ditadura
26) Comissão Estadual da Verdade apresenta provas do assassinato de Rubens Paiva https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2014-02/comissao-estadual-da-verdade-apresenta-provas-do-assassinato-de
27) Debate discute resquícios da ditadura no Brasil https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-03/debate-discute-resquicios-da-ditadura-no-brasil-atual
28) Comissão da Verdade ouve agentes da repressão no Rio https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2014-07/comissao-da-verdade-ouve-agentes-da-repressao-no-rio
29) Professor diz que Anísio Teixeira pode ter sido morto por torturadores https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-03/professor-diz-que-anisio-teixeira-pode-ter-sido-morto-por-torturadores
30) Filhos e netos de perseguidos políticos debatem violência do regime militar https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2014-12/filhos-e-netos-de-perseguidos-politicos-debatem-violencia-do-regime
31) Documentos liberados provam que EUA sabiam de torturas durante ditadura militar https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2015-07/documentos-liberados-provam-que-eua-sabiam-de-torturas-durante
32) Serie: Operação Condor – https://tvbrasil.ebc.com.br/tags/serie-operacao-condor
33) Serie: Operação Condor – ep. 01 https://www.youtube.com/watch?v=IZRsz2xgtOQ
34) MPF reabre investigações sobre assassinato de Vladimir Herzog https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2018-07/mpf-reabre-investigacoes-sobre-assassinato-de-vladimir-herzog
35) MPF denuncia seis pela morte do jornalista Vladimir Herzog https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2020-03/mpf-denuncia-seis-pela-morte-do-jornalista-vladimir-herzog
36) Geisel autorizou execuções de opositores durante ditadura, diz CIA https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2018-05/geisel-autorizou-execucoes-de-opositores-durante-ditadura-diz-cia
37) País ainda não “passou a limpo” período da ditadura, diz procuradora https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2018-05/pais-ainda-nao-passou-limpo-periodo-da-ditadura-diz-procuradora
38) Especial Memórias Reveladas – Projeto do Arquivo Nacional amplia o acesso aos documentos da ditadura nas comemorações dos 30 anos da anistia http://memoria.ebc.com.br/radioagencianacional/materia/2009-09-06/especial-mem%C3%B3rias-reveladas-%E2%80%93-projeto-do-arquivo-nacional-amplia-o-acesso-aos-doc
Bookmark and Share


28

Mar

20

Crônicas na quarentena: dia 11

Décimo-primeiro dia da quarentena do coronavírus. Só agora começo este registro. Não sei se vai ser um diário. Talvez um devezenquandário, como tem sido a atualização deste blog há alguns anos desde que as redes sociais nos sequestraram. Os posts em blogs não voltados a propósitos comerciais se tornaram mensagens em garrafas jogadas ao mar. Talvez um dia os bilhetes sejam lidos numa praia distante, mas convém que o náufrago não coloque muitas expectativas, para evitar frustrações. Instalado em minha ilha deserta, escrevo durante a tempestade invisível da Covid-19, que no mundo inteiro já arrasta muitas embarcações para as profundezas. Em um mundo de tanta desigualdade social, os barquinhos de pesca e os veleiros são os mais vulneráveis, mas nem os transatlânticos estão seguros.

Esse início de confinamento foi de ajustes familiares à nova rotina. Como eu já trabalhava em casa há anos, pra mim foi mais fácil, mas a sensação de estar em prisão domiciliar é um tanto sufocante pra quem como eu, adora pedalar e caminhar. Continuamos dividindo os trabalhos domésticos, como sempre. Todos tentamos desenvolver projetos coletivos e individuais para vencer o tédio quando ele tenta se insinuar em nossos espíritos. Tenho estudado programação em Python pelo youtube, divulgado informações de relevância pública pelas redes e lido bastante. No momento estou concluindo o fantástico (literalmente) Murilo Rubião: obra completa e iniciando Manual prático de levitação, de José Eduardo Agualusa – nunca se sabe quando a habilidade de levitar vai ser necessária. Às vezes teclo com amigos e parentes ou fazemos conversas em vídeo.

Começamos uma pequena horta. A cada dia avançamos um pouco. Pela minha janela, enquanto escrevo, vejo duas bananeiras com cachos quase no ponto da colheita. No quintal, ao lado da rede, todos os dias um beija-flor vem fazer sua refeição nas lanternas-japonesas. Ultimamente também temos recebido visitas esporádicas de um sagui adolescente que adora goiabas e não demonstra muito medo dos humanos. As bromélias têm crescido bastante e o limoeiro promete uma safra generosa pra breve. Descrever o ambiente da nossa micro-floresta chega a soar quase uma ostentação agora. Impossível não pensar em como somos privilegiados por dispor de terra pra pisar com os pés descalços, árvores frutíferas, espaço pra se recolher em silêncio. O confinamento pra quem mora numa favela, cortiço ou apartamento minúsculo deve estar sendo de grande sofrimento.

O mundo nunca mais vai ser como antes. Novas formas de organização social e de poder estão brotando como resultado da epidemia, com consequências que nem mesmo com bola de cristal é possível prever. O discurso liberal se tornou repentinamente anacrônico diante da necessidade imperiosa de que os Estados injetem enormes recursos para salvar a economia da bancarrota. A violência e o caos podem estar na esquina, espreitando. Da capacidade de as sociedades e os indivíduos se reinventarem vai depender tanto a sobrevivência individual quanto coletiva. A solidariedade, a cooperação e a colaboração ressurgem como necessidades vitais. Trabalho remoto e ensino a distância vão ganhar força. O mito do desenvolvimentismo, do crescimento a qualquer custo, também deve sofrer um forte abalo. A cabeça roda nas noites de insônia, tentando adivinhar de onde virá o trabalho como autônomo nesse cenário de incertezas. Muitas perguntas sem resposta. Os dois cachorros e a gata ignoram solenemente a pandemia. Seguimos e resistimos.

Bookmark and Share


25

Jan

20

Adeus, irmão

camillo_armacaoEm família de jornalistas, quando um irmão dobra a esquina, o que fica precisa enxugar as lágrimas e dar a notícia. O repórter caçula foi embora, sobrou pra mim. Nosso querido Camillo Veras morreu hoje, pouco antes das 8h da manhã, no Hospital São Carlos em Fortaleza, por complicações resultantes de um AVC que teve no início de dezembro. Ele tinha 47 anos e lidava há tempo com as sequelas da radioterapia em um tumor na base da hipófise, que foi lhe prejudicando aos poucos a audição, visão e equilíbrio. Mas nunca perdeu o humor, a inteligência rápida, a generosidade e a coragem com que encarava as limitações.

Se ele pudesse me dar agora umas aspas pra colocar neste texto, diria que a morte é parte natural da vida, “é dobrar uma esquina”. E ia tentar nos alegrar com seu enorme repertório de piadas e causos. Camillo foi uma das pessoas mais incríveis, bondosas, engraçadas e tolerantes que já conheci. Para a nossa irmã Lubelia Freire, ele disse recentemente: “Eu não tenho inimigos e se vier a ter vai ser só de uma mão, de lá pra cá, porque daqui pra lá nunca…”

Deixa a companheira Aline Paiva, a quem abraço com carinho e admiração; os irmãos Lubélia, Leonardo Camillo, Dauro, André, Janara e Cristiane; a rede preferida, Estefânia; e uma legião de amigos e admiradores. Sua ex-companheira e amiga eterna Regina Luna – mãe da filha deles Bruninha, que partiu antes – nos lembra que o Camillo pediu aos amigos pra gritarem: “Companheiro, Camillo! Presente, agora e sempre!” A despedida (velório é um nome horrível, né? Outra coisa que ele diria) vai ser no Jardim Metropolitano a partir das 16h de hoje, e a cremação às 16h de amanhã.

Camillo amava viajar. O AVC o pegou no dia 12 de dezembro, em São Paulo, dois dias depois de nos encontrarmos. Ele estava a caminho de Montevidéu e Buenos Aires e na volta passaria aqui por Floripa. Há poucos dias ele mandou um recado pra mim e pro Leo: nos intimava a fazer juntos uma viagem de carro. Vamos ter que mudar os planos, maninho, mas você vai sempre nos acompanhar.

Bookmark and Share