29
Dec07
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Dec07
Notícias de Cáceres
Augusto foi operado para aliviar a pressão do higroma subdural. Traduzindo: com o impacto do acidente, houve derramamento de um líquido sob a membrana dural, a mais externa que recobre o cérebro. Os médicos estavam aguardando o momento ideal pra cuidar disso e o momento foi hoje. Na cirurgia desta tarde foi feito um furinho pra drenar esse líquido. Tudo ocorreu conforme o planejado. A intervenção foi feita por um casal de neurocirurgiões, dra. Olga e dr. José Roberto, num hospital particular de Cáceres, o São Luís. Em seguida ele foi reconduzido à UTI do Hospital Regional (SUS), onde continua em coma. A médica disse que esse procedimento cirúrgico aumenta as chances de ele se recuperar mais rápido. Em quanto tempo, por enquanto é impossível prever. Estamos otimistas.
29
Dec07
Na estrada: Vilhena
Escrevo de Vilhena, primeira cidade de Rondônia pra quem vem por terra a partir de Mato Grosso. Ontem, depois de dez dias em Cáceres (MT), Laura, eu e os meninos seguimos viagem de carro até nosso destino original: Rolim de Moura (RO). Resolvemos dividir o time em dois pra melhor atender meus sogros. Augusto permanece na UTI em Cáceres, acompanhado por Carlos, Sônia e Neto. Nilza, acompanhada de Ana e Cristina, foi levada de carro a Cuiabá, onde pegou um avião pra Ji-Paraná e de lá foi de carro a Rolim de Moura, onde terá melhor estrutura de apoio familiar e a força dos nove netos reunidos.
Paramos na noite passada num hotel em Vilhena pra descansar e hoje cedo prosseguimos no último trecho da viagem, que começou no dia 15 de dezembro em Floripa – às vezes me dá a impressão de que aquele tempo se passou há anos. Daqui a três ou quatro horas chegaremos a Rolim de Moura. Com mais esta divisa estadual, entramos finalmente na Amazônia e na região Norte. Atrasamos nossos relógios em mais uma hora – o fuso aqui em Rondônia é GMT -4, duas horas a menos que o atual horário de Brasília (GMT -2). Sair de Cáceres foi difícil, mas na prática a melhor solução pro momento. Meu sogro sempre diz que gosta de viajar no seu próprio ritmo, sem ter que acompanhar os carros mais possantes dos outros. Assim está sendo nesta viagem inesperada: sua saída do coma e a recuperação dependem em grande parte dele mesmo.
Vou continuar mantendo vocês informados por meio das conversas diárias com o pessoal lá em Cáceres.
27
Dec07
Um recado ‘wireless’ e um pequeno avanço
Hoje em torno das 14h45, estávamos descansando no quarto do hotel. Bruno, 1 ano e 8 meses, brincava com o lego e de repente falou:
- Vovô conseguiu.
Um pouco mais tarde, o médico de plantão na UTI informou que nesta tarde houve pequena melhora neurológica no quadro de Augusto, que permanecia inalterado há dias. Um passo de uma longa caminhada, nas palavras do médico. Quem é que entende os mistérios da vida?
27
Dec07
Primeira foto de Nilza depois da alta
Cliquei esta ontem de manhã no Hotel Riviera Pantanal, onde estamos hospedados em Cáceres. É a primeira da minha sogra depois de ter alta do hospital. Da esq. pra dir.: Miguel, Ana, Bruno, Sônia, Nilza e Cristina.
26
Dec07
A vida é forte
Minha sogra Nilza teve alta do hospital agora há pouco. Começa pra ela a próxima etapa, ainda em Cáceres: recuperar as forças pra voltar à ativa o mais rápido possível. Vamos continuar concentrando boas energias pro Augusto.
25
Dec07
Feliz Natal
Nilza já fica de pé, toma banho sozinha e caminha pelo quarto no hospital. Esperamos a notícia de alta para os próximos dias ou horas. Por enquanto ela vai ficar se recuperando aqui mesmo em Cáceres, porque não vai poder se deslocar nem por terra nem por ar durante um tempinho. O estado de Augusto continua inspirando cuidados. Ele ainda não despertou do coma. A nova tomografia feita ontem indica que houve higroma subdural – trocando em miúdos, a membrana exterior que recobre o cérebro (são três) ficou machucada com o choque. Tudo indica que o próprio organismo vai se encarregar da recuperação e não será preciso intervenção cirúrgica, mas é preciso atenção especial pra evitar infecção hospitalar. Estamos providenciando a remoção dele para um hospital mais equipado no estado de São Paulo, onde vamos poder contar com o apoio mais próximo de médicos amigos. Feliz Natal pra todos vocês! Feliz aniversário, Laura! Mais notícias assim que a gente tiver.
23
Dec07
Nilza se recupera um pouco mais a cada dia. Hoje ela recebeu visita do Bruninho e foi aquela alegria. Ele filou um pouco da gelatina dela e cantaram juntos uma cantiga infantil. Passados cinco dias do acidente, Augusto continua em coma e usando respirador artificial. O estado é grave, mas estabilizado. Suas funções renais e cardíacas estão normais, a pressão não está mais regulada por medicamentos como no início, os reflexos estão presentes. A expectativa agora é que ele desperte, pois aparentemente não houve dano neurológico. Uma nova avaliação neuro deve ser feita amanhã. Vamos ouvir os pareceres médicos e estudar a possibilidade de removê-lo pra UTI de um hospital com mais recursos. Isso não era possível nos primeiros dias.
É o que tenho pra informar no momento. Continuamos com muita fé, unidos em torno do patriarca e da matriarca do clã Tuyama. O tempo passa com grande lentidão nesta cidade bonita e calorenta que fomos obrigados a conhecer bem por causa da tragédia. Encerro o relato de hoje pra trocar uma fralda de cocô do Bruno. A vida segue. Um grande abraço a todos vocês que estão conectados com a gente, por fone, internet e em pensamento.
22
Dec07
Três dias depois do acidente, mais boas notícias
Um dia de cada vez, aí vamos nós. Ontem Nilza retirou a sonda que entrava pelo nariz e ia até o estômago. Também sentou pela primeira vez, voltou a tomar água e comeu as primeiras colheradas de sopa. Pela vontade dela, iria andar hoje, mas precisa esperar um pouco mais. O Carlos, meu cunhado, comenta: “Amanhã ela já vai pedir uma pimentinha”.
Augusto também apresenta melhoras. Ontem Sonia segurou a mão dele e pediu que desse um sinal se estivesse ouvindo. Ele apertou a mão dela e derramou duas lágrimas. Quase não há mais secreção saindo dos pulmões. Os médicos devem avaliar hoje se retiram os drenos. Ele já consegue respirar sozinho, mas continua usando o respirador artificial para não se cansar. Teve um pouco de febre, mas já tá controlada. A UTI é bem equipada e oferece tudo o que um grande centro tem.
João e Ieda mais Ariana e o pequeno Diogo, amigos da família, estão aqui em Cáceres hoje. Eles viajavam de Porto Velho a SÃo Paulo e se encontraram por acaso ontem num posto de gasolina da estrada com Carlos e com Luimar, que iam em sentidos opostos – Carlos chegando a Cáceres, Luimar levando as crianças da Sonia pra Rolim de Moura. Os três carros pararam ao mesmo tempo no mesmo posto, coincidência impressionante. Estão no hotel conosco hoje. Diogo e Miguel fizeram amizade instantânea e já foram jogar cartas de Iugui-ô.
Mudamos pra um hotel no centro. O primeiro era um hotel pra viajantes de negócios, na beira de BR, a gente passava o dia vendo carretas passarem. Este, o Riviera Pantanal (65/ 3223-1177), é bem mais agradável, silencioso e com clima mais caseiro. Tem um pátio interno com plantas, piscina de adulto e de criança e fica perto de pracinhas onde podemos levar os meninos pra brincar.
Mais informações na seqüência.
20
Dec07
Boas notícias de Cáceres
A idéia era dar um tempo no blog e só voltar quando tivesse boas notícias. Pois a pausa foi mais rápida do que pensei, fico feliz de voltar agora. Augusto e Nilza tiveram boa melhora hoje, se levarmos em conta o estado em que chegaram ao hospital. Ele continua em coma, mas já move as pernas e não está mais tomando medicamento pra controlar a pressão. O ultrassom constatou que não houve fratura de bacia nem lesões em outros órgãos além do pulmão. O sangramento na bexiga parou e a urina é normal. Hoje de manhã, quando a Ana falou com ele, os batimentos cardíacos se aceleraram. Os pulmões estão praticamente sem secreção e os drenos devem ser retirados amanhã. Agora é esperar que o organismo continue reagindo e ele saia do coma. O japonês é muito forte, tenho certeza que vai vencer essa, porque é daquelas pessoas raras que sabem o valor da vida.
Sonia, Neto e as crianças chegaram hoje de São Paulo – pegaram um avião até Cuiabá e um táxi pra cá. Nilza está numa enfermaria, consciente e em recuperação. Ainda sente dores do pós-operatório e tem movimentos limitados na cama – se alguma leitora já fez cesária, pode imaginar ligeiramente o que é uma cirurgia no intestino. Passa boa parte do tempo descansando, mas já troca umas palavras com a gente. Eu a visitei agora à tarde, junto com os outros dois genros, Luimar e Neto. Contamos umas piadas e ela achou graça com os olhos, disse que não podia rir. Laura e Ana estão se alternando como acompanhantes, sempre tem alguma delas por perto.
O negócio é o seguinte: viver um dia de cada vez. A gente só se dá conta disso em situações extremas. O dia de hoje está ganho. Essas pequenas vitórias vão consolidar as de amanhã e depois. Enquanto aguardamos e damos apoio a eles, vamos distraindo as crianças e nos distraindo pelas ruas e praças de Cáceres, pra levar energia boa a eles dois no hospital. Ontem Miguel brincou na cama elástica da praça do cais, Bruno ganhou uma bola inflável com um guizo dentro e jantamos iscas de jacaré (tem gosto de peixe e textura de galinha; não é ruim, mas nada especial). Hoje almoçamos pintado e pacu à brasileira no restaurante flutuante do rio Paraguai, apreciando a lindeza do Pantanal.
O clima em Cáceres é quente e bem úmido, lembra muito a minha infância em Manaus. Ontem passou o dia chovendo, mas sempre com intervalos de sol fortíssimo, que fazia secar toda a água. A gente tem a impressão que tá evaporando também. Hoje fez sol com nuvens – cúmulos enormes, flocudos, se amontoando no céu até o próximo pé d’água. O rio Paraguai tá começando e encher, dizem que fica lindo agora na estação das chuvas.
Prefiro não entrar em detalhes sobre o acidente agora, nem sobre o pesadelo que passei acompanhando a remoção deles em duas ambulâncias – uma quebrou no caminho – por 250 km até Cáceres. Digo só o seguinte: meu sogro é macaco velho de estrada há décadas; tem mais histórias pra contar de suas andanças amazônicas que as de todos os aventureiros que conheço. Eles dois estavam viajando por terra porque amam fazer isso. Quem ama o que faz às vezes paga o preço, pois não se pode evitar o que era pra ser. Mas nunca eles vão passar pela frustração de terem sonhado sem fazer.
Em nome da família, agradeço de coração as dezenas de telefonemas e mensagens de solidariedade que estão chegando de vários lugares do Brasil e de outros países. Um recado especial às sobrinhas Camila e Amanda, de Rondônia: enxuguem as lágrimas que agora é hora de ficar alegre com as pequenas conquistas de cada dia. Digam aos pequenos que o vô e a vó estão vencendo a batalha aqui. Se quiserem mandar algum recadinho, digam que eu transmito assim que puder. A vó já pode responder. O coração do vô certamente vai bater mais forte de novo. Daqui a pouco ele vai tar contando piadas pra gente. Beijos. Mais informações no próximo boletim.