Posts com a tag ‘família’

04

Sep

14

Partidas: tio Alberto

Morreu ontem o tio Alberto, casado com tia Elcy, irmã de minha mãe. E com ele um pedaço da minha infância. Tio Alberto está presente nas minhas lembranças de menino como aquela figura confiável que ajudava a garantir a estabilidade do universo. Médico de origem portuguesa, viveu décadas com a esposa e o filho em um sobrado de dois pisos em Niterói, onde passei algumas férias. Homem de fala pausada, tinha um jeito doce, ponderado e avesso a conflitos. Essa característica de contemporizar às vezes lhe trouxe grandes dissabores, que enfrentava com estoicismo. Adorava ler, conversar de filosofia, ajudar quem precisava. Seu conhecimento de inglês me incentivou desde pequeno a aprender a língua. Passei belos momentos no sossego da sua biblioteca, cheia de tesouros. Nos últimos anos, enfrentou sérias dificuldades familiares, como o Alzheimer que levou sua companheira e outros problemas que não me cabe descrever. Falei com tio Alberto pela última vez em 2011, quando estive no Rio e trocamos dois telefonemas. O primeiro pra combinar um almoço, o segundo em que cancelei o encontro, pra não perder um avião. Eu devia ter mudado aquele voo, mas não tinha como adivinhar. Fica a lembrança de um homem digno, cuja grandeza de alma é proporcional ao modo discreto e simples com que viveu. RIP.

Aeroporto Guararapes, Recife

Eu bebê com meu pai, minha mãe, tia Filó e tio Alberto (dir.) no Aeroporto Guararapes, Recife, em março ou abril de 1966. Uma curiosidade: no dia 25 de julho, um atentado a bomba neste aeroporto matou duas pessoas e feriu 14. A bomba visava o marechal Costa e Silva, então candidato à Presidência. Foto do acervo de André Veras.

 

Tios_Alberto-Elcy_Recife1966

Tio Alberto, tia Elcy e eu em Recife, março ou abril de 1966. Foto do acervo de André Veras.

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20

Nov

12

Dezoito dias no Irã

Chegada ao Irã pela fronteira turca

Chegada ao Irã pela fronteira turca

Os primos mineiros Ricardo Gomes e Renilza Violante estão no terço final de sua volta ao mundo de um ano, que começou em fevereiro. De ilhas desertas na Indonésia à estepe russa na ferrovia Transiberiana, estão vivendo uma experiência da qual ninguém retorna do jeito que entrou. Um dos países mais marcantes do percurso foi o Irã, onde foram muito bem recebidos. Veja as impressões deles e algumas fotos da estada em terras persas.

Quanto tempo vocês passaram no Irã e qual foi a rota?

Ricardo - Dezoito dias. Chegamos por terra, pela Turquia e da fronteira pegamos um táxi para Tabriz, no norte. Não gostamos muito e decidimos ir para uma cidade mais atraente em termos de turismo. Se continuássemos não gostando, iríamos embora. Era Shiraz, no sul, a 1300 km. De Shiraz subimos para Yazd, depois para Isfahan e depois para Tehran, de onde partimos para a Jordânia.

Como foram recebidos pelas pessoas?

Novas amigas

Novas amigas

Renilza - Melhor receptividade é impossível. Todas as pessoas nos perguntavam primeiro de onde éramos e depois (100%) nos diziam que éramos muito bem vindos. Perguntamos a uma guia se era sempre assim e ela nos disse que os iranianos gostam especialmente do Brasil por causa do futebol. Na verdade, graças ao futebol, tivemos uma recepção mais calorosa em todos países não ocidentais que visitamos. Mas no Irã é diferente. Eles não são exatamente calorosos. Eles são extremamente receptivos. O sentimento geral é que um turista é como um hóspede na casa de cada iraniano. Eles se sentem responsáveis pelos turistas como qualquer pessoa se sente por um hóspede.

Vocês podem descrever acontecimentos cotidianos que vão ficar marcados na memória?

Aula de português

Aula de português

Renilza - Da fronteira com a Turquia pegamos um taxi compartilhado até a primeira cidade grande, Tabriz. Não tínhamos hotel reservado, guia, mapa, nada. Um iraniano que conhecemos dentro do ônibus ainda na Turquia foi quem nos conseguiu o taxi. O motorista não falava inglês e dividimos o taxi com uma senhora que apenas falava pouquíssimas palavras em inglês. Quando chegamos em Tabriz apenas dissemos ao motorista “hotel”. Logo a senhora disse “no, hotel, no, my house, my house”. Infelizmente como ela não falava inglês e a gente realmente precisava usar a internet acabamos insistindo para ir para um hotel. Então ela telefonou, se informou, e nos levou até um hotel. Desceu do taxi com a gente, negociou com o recepcionista, nos deixou seu número de telefone e pediu que ligássemos pra ela se precisássemos de alguma coisa. Ali começamos a perceber o quão grande é a hospitalidade iraniana.

Convidados para o chá

Convidados para o chá

Ricardo - Fomos um pequeno museu em Yazd, cujas visitas eram guiadas. Naquele horário só havia a gente de turista. O guia era muito atencioso e a gente estava aprendendo muito. Dentre outras coisas falamos o nome do hotel em que estávamos. De noite o telefone toca no nosso quarto. Era o guia do museu. Nos convidou para irmos à sua casa tomar um chá. Topamos. A casa dele era muito simples. Na sala apenas tapetes. Ele, além de trabalhar no museu, é professor de inglês numa universidade e sua esposa estudante de medicina. Em alguns minutos chegam os seus vizinhos, um casal com uma criança. Tomamos chá, comemos frutas, as mulheres exibiram seus penduricalhos de ouro (Pretinha, tadinha, só tinha o anel de casamento) e ficamos ali até a madrugada. Depois nos levaram de volta ao hotel. Pessoas nos convidaram para irmos às suas casas. Além de oferecerem ajuda a todo momento quando a gente está andando e parece procurar algum endereço. Interagir com as pessoas é a parte mais legal do Irã.

Como vocês observaram o papel da mulher na sociedade iraniana?

Universitárias

Universitárias

Ricardo - Não é como no ocidente, mas elas têm muito mais direitos do que imaginávamos. Dirigem, (inclusive táxi), andam sozinhas pra todo lado, trabalham e já são maioria nas faculdades. Elas se comparam com outros povos muçulmanos e dizem que lá elas são mais livres do que em muitos outros lugares. O lenço na cabeça é obrigatório, bem como cobrir braços e pernas. Mas isso não parece ser tão pesado para elas, pois os homens também têm de cobrir pernas e quase sempre usam manga comprida. A imposição de cobrir o corpo não nos pareceu ser um problema, pois é muito comum as mulheres usarem o chador, aquela roupa preta que é tipo um véu que cobre o corpo todo menos a face, mesmo sem ser obrigatório.

Como os iranianos, no dia a dia, lidam com as ameaças externas referentes ao programa nuclear? Existe uma sensação de guerra iminente?

Renilza - As pessoas estão insatisfeitas com a política externa porque sentem os efeitos das sanções econômicas impostas por EUA e UE. Porém, não há nenhum clima de guerra iminente. Eles realmente não acreditam que Israel vai atacar o Irã sem o apoio americano e não acreditam que o Obama irá apoiar o ataque. Em relação ao Irã eles dizem que não há risco de ataque. Eles afirmam que só entrarão em guerra se forem atacados. As pessoas com quem conversamos disseram-nos que o Islamismo não permite o ataque, mas em caso de serem atacados, eles são obrigados a reagir.

Vocês tiveram oportunidades para conversar de política internacional com os iranianos? E de política interna?

A moda persa

A moda persa

Ricardo - É muito fácil conversar com os iranianos. Falamos abertamente sobre a guerra com o Iraque (anos 80), economia, possibilidade de serem atacados, de estarem construindo armas nucleares, treinamento militar, etc. Eles gostam da posição do Brasil, de manter o diálogo aberto com todas as partes. O sentimento geral é de desânimo quanto à economia. Não gostam muito do Ahmadinejad, mas reconhecem que na sua primeira eleição ele era o menos pior. Falamos muito sobre Síria, Estados Unidos, a presença da religião na política. Realmente eles são bastante fervorosos e convictos de sua fé, e não vejo como um Estado Laico pode ter sucesso ali nas próximas décadas.

E a segurança dos viajantes? Em algum momento vocês se sentiram intimidados?

Na loja de tapetes

Na loja de tapetes

Ricardo - Foi o país mais seguro que visitamos. Foi onde nos sentimos mais tranquilos. As pessoas se aproximam realmente querendo ajudar. Parecem se achar responsáveis por você. Às vezes a generosidade era tanta que chegávamos a pensar que era golpe. Mas logo depois víamos que era só gentileza mesmo.

Como estão os preços e a infraestrutura de transporte?

Ricardo - Os preços estão muito baixos. Fizemos uma viagem de 1.300 km e as passagens custaram cerca de oito dólares cada. A moeda perdeu mais de 80% de seu valor frente ao dólar no último ano e não há política de diferenciação de preços entre turista e habitante. Já a estrutura de transporte pode melhorar. As estradas são boas e cobrem bem o país, mas não há norma que obrigue os ônibus a pararem de duas em duas horas, por exemplo, e também não há garantia de parada em locais com estrutura mínima de banheiros e restaurantes. Os ônibus são ruins. Existem os “VIP”, que geralmente são melhores. Nos disseram que avião é barato também, mas não usamos do expediente porque viajando por terra podemos conhecer melhor o país.

Dicas para viajantes mulheres?

Delicioso sorvete de açafrão de Isfahan

Delicioso sorvete de açafrão de Isfahan

Renilza - Chegue ao país com apenas um conjunto de casaco e lenço. Pode ser qualquer lenço para cobrir os cabelos, podendo deixar boa parte da frente exposta. Para cobrir o corpo use qualquer peça de manga comprida, que não seja justa ao corpo e que cubra os quadris. Deixe para comprar mais já no país. Use da vontade de interação das pessoas para pedir alguma garota que te ajude nas escolhas ou simplesmente observe o que as iranianas estão usando antes de compar. As combinações de cores que parecem interessantes para mulheres de fora podem não fazer sentido para a moda local. Demonstrações públicas de intimidade entre sexo oposto não são bem vistas. Os mais conservadores sequer cumprimentam uma pessoa do sexo oposto com aperto de mão. Para evitar constrangimentos ao cumprimentar um homem apenas coloque a mão sobre o peito e faça um movimento de leve inclinação da cabeça. Se a mão for estendida aperte-a sem medo.

Leia aqui a entrevista que fiz com eles em junho

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25

Jul

12

Impressões da volta ao mundo: 1a. metade

Do alto à esquerda para baixo à direita: Jaipur, Índia; Bali, Indonésia; Nova Zelândia; São Petersburgo, Rússia; casamento indiano; Templo da Literatura em Hanoi, Vietnã.

Primos Ricardo e Renilza, de Minas Gerais, partiram em fevereiro numa aventura de volta ao mundo em um ano, começando pela Oceania, Sudeste Asiático e em seguida a China e a Rússia pela Ferrovia Transiberiana. Agora chegaram à metade da viagem e estão na Polônia. Eles me concederam esta entrevista por e-mail.

1. O que muda nas vidas de vocês com esta aventura? Depois, vão conseguir encarar a rotina da mesma forma?

Ricardo: Esta também é uma pergunta que me faço. Acredito que será gostoso voltar a ter uma rotina casa-trabalho-casa. Não há como negar que esta viagem muda nossa vida e isto mudará a forma como vemos as coisas. Espero me tornar mais paciente e menos preocupado. Mas não sei realmente como serei depois.

2. Numa volta ao mundo, vale mais planejamento ou improviso?

Ricardo: Vale mais o planejamento, mas principalmente por a viagem ser tão longa tem que saber improvisar. Digamos, 60%/40%. Ma outra coisa muito importante é o controle da viagem, como registro dos gastos, dos fatos, organização de fotos, contatos regulares com amigos e parentes, saúde, etc. Sem planejamento você nem sai do Brasil. Para comprar um bilhete de volta ao mundo é preciso ter definido a direção, os países principais, vistos exigidos, etc. Outras coisas importantes: planejamento financeiro, pessoas que serão os contatos no Brasil, quem cuidará das suas coisas etc. O improviso te ajuda a sair de encrencas e a economizar. Lavar roupas em garrafas de 1L cortadas, usar cadarços como varais, fazer desenhos e gestos quando o inglês falha. A cidade é cara? Procure a Chinatown!

3. Três experiências maravilhosas.
Renilza: Contato com as crianças de uma escola no Nepal, mergulhar na ilha de Bunaken na Indonésia, visitar o museu da guerra em HCMC [Ho Chi Minh City] no Vietnam.

4. Três roubadas. E dicas de como evitar.

Ricardo: A – Perder os cartões de crédito no aeroporto de Moscou e ter que dispensar canivetes, tesoura, cremes de cabelo, tudo por causa de bagunça com horários. Como evitar: deixar o dia de partida de algum lugar todo dedicado a isto. Se puder, chegue 4 ou 5 horas antes do voo. Se tudo estiver tranquilo o tempo não é perdido. Se pode ler, usar internet e mesmo apreciar o aeroporto, que às vezes é muito interessante.
B – Tentar fazer turismo de baixo custo na Índia. Se não quer passar aperto, raiva e ficar doente, é preciso escolher bem a época (fuja de monções e da pré-monções, que é muito quente), reservar tempo, dinheiro e planejar muito bem.
C – Bagagem grande. Não foi o nosso caso. Nossas bolsas são as menores que vimos nesta viagem. Mesmo assim poderíamos ter saído do Brasil com menos coisas. Bagagens grandes impossibilitam caminhadas maiores, toma mais tempo para fazer e desfazer, te faz perder coisas no meio da bagunça, dificulta sua estadia em lugares pouco espaçosos, te impede de pagar voos baixo custo, etc.

5. Até o momento, qual foi a boa surpresa e a maior decepção? Por quê?

Ricardo: Surpresa: os alemães! Tínhamos uma imagem deles de pessoas muito formais, fechadas e demasiadamente preocupadas com organização. E aprendemos o contrário. São os as pessoas que mais viajam, são educados, bem informados e despreocupados. ótima companhia. Decepção: Índia. Criamos expectativas, muitas delas baseadas em depoimentos muito romantizados sobre o país.

6. Vestir camisetas da seleção brasileira ajuda os viajantes? E do Cruzeiro e Atlético?

Renilza: Até agora a do Brasil ajudou pouco e dos times mineiros quase nada. Ás vezes ajuda a iniciar um conversa com quem gosta de futebol.

7. Como estão os preços em comparação com o Brasil? Qual foi o país mais caro e o mais barato até o momento?

Renilza: Bem, saímos do Brasil com o dólar a R$1,78 e agora já está a 2,05. Este é realmente um problema. Os custos variam muito de um lugar para outro e isto tem ajudado a definir para quais países vamos. O país que tivemos os maiores gastos diários foi a Nova Zelândia, mas aproveitamos bem. Mas o país mais caro com certeza é a Austrália. O mais barato foi o Vietnam. E o custo/benefício lá é excelente.

8. Existe rotina na viagem? Como é um dia típico do casal?

Ricardo: Por incrível que pareça, existe! Há uma dezena de coisa que temos que fazer com rotina: registro de gastos, organização de fotos, postagens, brigar com os gerentes de bancos por e-mail, etc. A cada cidade temos que entender o transporte público, localizar nosso hotel, a cama, lavar roupa, descobrir como e o que comeremos, estudar as atrações, a próxima cidade, reservar o próximo hotel… há sempre muito trabalho e não há diferença entre domingo e meio de semana. Estamos sempre com um monte de coisas para fazer. Mas o melhor é que quando bem entendemos, podemos parar tudo e ficar de bobeira no quarto, navegando na internet, lendo, jogando baralho…

9. Vocês acabam de percorrer a Transiberiana, maior ferrovia do mundo. Que dicas dão pra quem quiser aproveitar bem essa viagem?

Renilza: Fizemos no sentido Beijing – Moscou. O maior problema tanto na China quanto na Rússia é a língua. Pouquíssimas pessoas falam inglês nas capitais, e no interior então… mas é possível comprar os bilhetes sem a intervenção de agentes ou agências, o que onera muito. A dica é reservar alguns dias para a cidade de início da viagem (Beijing, Moscou ou São Petersburgo), são todas incríveis e não será perda de tempo. Estando na cidade peça ajuda para alguém que fale inglês na compra do bilhete. Por exemplo, pedir a um funcionário do albergue para ir com você fora do seu horário de serviço. Ofereça alguns dólares por isso, se for o caso. O melhor preço é sempre comprando na estação. Já dentro do trem, crie coragem e saia procurando pessoas que falem inglês. Sempre tem alguém que arranha. Isso pode facilitar muito a viagem. Nós conseguimos comprar de várias formas, a mais usada foi pedir uma pessoa do hotel para escrever num papel os detalhes do bilhete que queríamos comprar. Os russos são mandões e às vezes são rudes, mas se te entendem, são as pessoas mais prestativas que existem. Não te deixam na mão mesmo.

10. Pra dar água na boca: onde vocês comeram melhor até o momento, e o quê? Qual é a comida mineira de que vocês sentem mais falta?

Renilza: Gostamos muito da culinária Balinesa, Tailandesa e Vietnamita. Mas realmente nenhuma supera a culinária brasileira. Na Rússia o tempero é um pouco mais parecido com o nosso. Normalmente tentamos comer os pratos mais populares da região, é mais barato e mais fresco, chegamos a apontar para o prato de outros clientes para dizer “eu quero o mesmo”. Como ficamos pouco tempo em cada país apreciamos a culinária local sem preconceitos, mas como estamos sempre mudando de lugar nossa referência continua sendo a comida mineira. Sentimos falta do frango com quiabo, pão de queijo, feijão tropeiro, feijoada como couve, humm… melhor parar por aqui.

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04

Jul

12

Chegadas: Sophia

Acordei com um telefonema gostoso de ouvir: nasceu hoje cedo em Fortaleza a Sophia, filha da mana Cristiane e do cunhado Kelinho. Sophia veio de cesárea, porque era o jeito, e uns dias mais cedo que o previsto. Aguardamos fotos e mais informações.

p.s.: Informe da Regina Luna: Nasceu perto das 9h, com 48 cm e 2, 645Kg, bem rosada e manhosa. Com uma hora de nascida já começou a mamar e queria ficar direto agarrada com a mãe. Ah! ela tem bem pouquinho cabelo.

 

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05

Apr

12

Os defuntos do poço

Cresci ouvindo papai contar e recontar esta história. O mano Camillo também. Há algum tempo, durante o enterro de um parente, ele teve a oportunidade de ouvi-la outra vez de um primo, na porta do cemitério.

O poço

Camillo Veras

Depois de toda uma tarde modorrenta, mais que morna, o velório acabou e finalmente o caixão partiu. Nesses tempos já não era obrigação nem costume usar preto em cerimônias como essa e muitos chegaram ao local de mangas curtas. Somente as mulheres mais velhas mantinham os vestidos longos e negros. Lento, o cortejo levou quase um quarto de hora para percorrer aquelas centenas de metros entre a casa e o cemitério, encoberto pela poeira levantada pelos passos arrastados e ainda castigado pelo sol de vários meses de seca. (…)

Leia mais

 

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27

Mar

12

Aniversário da Maria Rosa

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29

Jul

11

Família não é uma empresa ou como catar coquinhos

Reproduzo na íntegra este belo texto de Fabrício Carpinejar. Penso como ele.

Estava na mesa-redonda da Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Ouvi atentamente a palestra de Içami Tiba, colega de painel, que falou de modo elétrico, seguro e convincente.

É um orador no estilo de grande auditório, conciliando humor com exemplos.

Mas, em algum momento, ele disse: “A família é como uma empresa”.

E aquilo me incomodou profundamente. Aquilo me arrancou a audição.

“É na família que forjamos vencedores. Se os filhos não obedecem, não fazem nada, tem preguiça para qualquer coisa, não ficariam numa empresa, é o mesmo processo.”

Caso meu avô Leônida escutasse isso, soltaria um de seus xingamentos prediletos: “Vai catar coquinho e deixar de ser besta”.

A família não é uma empresa. Nem deve ser. Não vou demitir ninguém em casa. O pai ou a mãe não é o que queremos deles, mas o que eles podem oferecer.

Estou de saco cheio de ouvir que uma família deve trazer rentabilidade, organização e competência. A cobrança não fixa um lar.

Na minha residência, cada um tinha uma tarefa. Mas não era uma empresa, ou uma cooperativa. Não fui promovido. Não esperava cargos de confiança. Os irmãos me continuavam.

Quando fui demitido uma vez do serviço, expliquei para minha filha de 4 anos o que havia acontecido.

“O trabalho não me quis mais.”

Ela respondeu bem calma:

“São bobos, fique calmo, será meu pai sempre.”

Eu dependo de um lugar para falir na minha vida. Deixe-me ao menos a família.

Eu posso perder tudo, menos a família. A família é meu despertencimento, a adoração dos telhados, o avental no gancho da cozinha. Nem Deus, nem seus capatazes tiram aquilo que foi desejo. Podem subtrair minha memória, mas guardarei o desejo fora de mim. Em minha mulher.

A família é o único lugar que continuaremos vivendo sem a expectativa de acertar. Mente-se diante da agenda, não de um prato de comida. Precisamos de um espaço para falir, para errar e se debruçar em nossas fraquezas. Já tenho que ser funcional no emprego, no lazer, nas relações com os outros. E agora a sugestão é que trabalhemos também na família. Isso é exploração infantil, isso é jornada dupla, isso é transformar elos naturais em conexões automáticas.

A família depende de uma única coisa: a intimidade. E intimidade não é emprestada, intimidade é não pedir de volta.

A família é o único lugar que me permite ser verdadeiro. É o único reduto de autenticidade. Não vamos colocar a competição dentro dela. Ou encher os nossos filhos de horários e de obrigações para que não pensem bobagens. Eles carecem das bobagens para escolher seus caminhos. Ser ocupado não nos torna importantes; não nos torna responsáveis. Envelhecer é se desocupar para a amizade.

Quando pequeno, não fiz natação, não fiz inglês, não fiz informática, não fiz o raio-que-parta. Eu tinha o tempo livre depois da escola e jogava futebol com os colegas, roubava frutas e brincava na casa dos vizinhos. Voltava para a casa quando a mãe gritava: “tá na mesa!”. A infância é própria para a vadiagem. Quando iremos vadiar de novo?

Se a família é uma empresa, um dia os filhos vão pedir demissão, um dia o pai e a mãe vão se aposentar, um dia os tios vão pedir concordata, um dia o genro vai desviar recursos.

Na família, os laços são eternos e não provisórios como uma empresa. Família não é trabalho, família é experiência. E nunca haverá perdedores na família, mas irmãos e filhos e pais. Eles são a família, não um referencial de realização.

Essa exigência de sucesso na família implica em não aceitar os perdedores. O que são os perdedores senão os mais sensíveis à pressão? Por isso, famílias se assustam com os problemas e escondem filhos alcoólatras, drogados e doentes em clínicas. Sofrem com a cobrança pública. Temem a exposição de seus defeitos.

Família é ter defeitos, é ter fantasmas, é ter traumas. Frustração é não contar com uma família para se frustrar.

Família é compreensão, não um acordo.

Não temos que alimentar vergonhas de nossas vergonhas. Família é onde tiramos os sapatos e deitamos os casacos. Não promoverei reunião-almoço na minha sala. Não afastarei um parente pela malversação. Não solicitarei a restituição das mesadas. Não exigirei que minha filha escolha Medicina ou Direito pela estabilidade. Não condiciono minha paixão a resultados.

Um patrão nunca será um pai. Não procuro disciplinar meus filhos, o amor é a mais suave disciplina. E o abraço é a minha desordem.

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04

Apr

11

4 de abril no blog, há cinco anos

terça-feira, 4 de abril de 2006

Nasceu!

Bruno chegou ontem às 23h40, de parto normal, com 3,4 kg e 49 cm. É lindo como o pai e a mãe. Cabelos pretos, olhos puxados e pulmões fortes. O parto foi bem mais rápido que o do Miguel. Mesmo assim foi… um parto, e não vou dizer que sei o que vocês mulheres sentem nessa hora. A equipe do Hospital Universitário deu outra vez um show de profissionalismo e gentileza. Laura tá ótima. Estão no alojamento conjunto do H.U., onde 15 bebês resolveram nascer no mesmo dia. A fila do banho hoje tava uma coisa :) Ela e Bruno saem da maternidade amanhã.

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03

Apr

11

3 de abril no blog, há cinco anos

40a. semana…

…e Laura está a cada dia mais grávida.

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16

Feb

11

Vô e neto

Vô Camillo com Miguel na Costa da Lagoa.

Um presentão do moquirido Raul Ribeiro. Ele clicou a foto destes meus dois amores no final de 2005 na trilha da Costa da Lagoa, em Floripa. Papai tava com 80 anos e Miguel, com três.

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