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Nov12
Dezoito dias no Irã
Os primos mineiros Ricardo Gomes e Renilza Violante estão no terço final de sua volta ao mundo de um ano, que começou em fevereiro. De ilhas desertas na Indonésia à estepe russa na ferrovia Transiberiana, estão vivendo uma experiência da qual ninguém retorna do jeito que entrou. Um dos países mais marcantes do percurso foi o Irã, onde foram muito bem recebidos. Veja as impressões deles e algumas fotos da estada em terras persas.
Quanto tempo vocês passaram no Irã e qual foi a rota?
Ricardo - Dezoito dias. Chegamos por terra, pela Turquia e da fronteira pegamos um táxi para Tabriz, no norte. Não gostamos muito e decidimos ir para uma cidade mais atraente em termos de turismo. Se continuássemos não gostando, iríamos embora. Era Shiraz, no sul, a 1300 km. De Shiraz subimos para Yazd, depois para Isfahan e depois para Tehran, de onde partimos para a Jordânia.
Como foram recebidos pelas pessoas?
Renilza - Melhor receptividade é impossível. Todas as pessoas nos perguntavam primeiro de onde éramos e depois (100%) nos diziam que éramos muito bem vindos. Perguntamos a uma guia se era sempre assim e ela nos disse que os iranianos gostam especialmente do Brasil por causa do futebol. Na verdade, graças ao futebol, tivemos uma recepção mais calorosa em todos países não ocidentais que visitamos. Mas no Irã é diferente. Eles não são exatamente calorosos. Eles são extremamente receptivos. O sentimento geral é que um turista é como um hóspede na casa de cada iraniano. Eles se sentem responsáveis pelos turistas como qualquer pessoa se sente por um hóspede.
Vocês podem descrever acontecimentos cotidianos que vão ficar marcados na memória?
Renilza - Da fronteira com a Turquia pegamos um taxi compartilhado até a primeira cidade grande, Tabriz. Não tínhamos hotel reservado, guia, mapa, nada. Um iraniano que conhecemos dentro do ônibus ainda na Turquia foi quem nos conseguiu o taxi. O motorista não falava inglês e dividimos o taxi com uma senhora que apenas falava pouquíssimas palavras em inglês. Quando chegamos em Tabriz apenas dissemos ao motorista “hotel”. Logo a senhora disse “no, hotel, no, my house, my house”. Infelizmente como ela não falava inglês e a gente realmente precisava usar a internet acabamos insistindo para ir para um hotel. Então ela telefonou, se informou, e nos levou até um hotel. Desceu do taxi com a gente, negociou com o recepcionista, nos deixou seu número de telefone e pediu que ligássemos pra ela se precisássemos de alguma coisa. Ali começamos a perceber o quão grande é a hospitalidade iraniana.
Ricardo - Fomos um pequeno museu em Yazd, cujas visitas eram guiadas. Naquele horário só havia a gente de turista. O guia era muito atencioso e a gente estava aprendendo muito. Dentre outras coisas falamos o nome do hotel em que estávamos. De noite o telefone toca no nosso quarto. Era o guia do museu. Nos convidou para irmos à sua casa tomar um chá. Topamos. A casa dele era muito simples. Na sala apenas tapetes. Ele, além de trabalhar no museu, é professor de inglês numa universidade e sua esposa estudante de medicina. Em alguns minutos chegam os seus vizinhos, um casal com uma criança. Tomamos chá, comemos frutas, as mulheres exibiram seus penduricalhos de ouro (Pretinha, tadinha, só tinha o anel de casamento) e ficamos ali até a madrugada. Depois nos levaram de volta ao hotel. Pessoas nos convidaram para irmos às suas casas. Além de oferecerem ajuda a todo momento quando a gente está andando e parece procurar algum endereço. Interagir com as pessoas é a parte mais legal do Irã.
Como vocês observaram o papel da mulher na sociedade iraniana?
Ricardo - Não é como no ocidente, mas elas têm muito mais direitos do que imaginávamos. Dirigem, (inclusive táxi), andam sozinhas pra todo lado, trabalham e já são maioria nas faculdades. Elas se comparam com outros povos muçulmanos e dizem que lá elas são mais livres do que em muitos outros lugares. O lenço na cabeça é obrigatório, bem como cobrir braços e pernas. Mas isso não parece ser tão pesado para elas, pois os homens também têm de cobrir pernas e quase sempre usam manga comprida. A imposição de cobrir o corpo não nos pareceu ser um problema, pois é muito comum as mulheres usarem o chador, aquela roupa preta que é tipo um véu que cobre o corpo todo menos a face, mesmo sem ser obrigatório.
Como os iranianos, no dia a dia, lidam com as ameaças externas referentes ao programa nuclear? Existe uma sensação de guerra iminente?
Renilza - As pessoas estão insatisfeitas com a política externa porque sentem os efeitos das sanções econômicas impostas por EUA e UE. Porém, não há nenhum clima de guerra iminente. Eles realmente não acreditam que Israel vai atacar o Irã sem o apoio americano e não acreditam que o Obama irá apoiar o ataque. Em relação ao Irã eles dizem que não há risco de ataque. Eles afirmam que só entrarão em guerra se forem atacados. As pessoas com quem conversamos disseram-nos que o Islamismo não permite o ataque, mas em caso de serem atacados, eles são obrigados a reagir.
Vocês tiveram oportunidades para conversar de política internacional com os iranianos? E de política interna?
Ricardo - É muito fácil conversar com os iranianos. Falamos abertamente sobre a guerra com o Iraque (anos 80), economia, possibilidade de serem atacados, de estarem construindo armas nucleares, treinamento militar, etc. Eles gostam da posição do Brasil, de manter o diálogo aberto com todas as partes. O sentimento geral é de desânimo quanto à economia. Não gostam muito do Ahmadinejad, mas reconhecem que na sua primeira eleição ele era o menos pior. Falamos muito sobre Síria, Estados Unidos, a presença da religião na política. Realmente eles são bastante fervorosos e convictos de sua fé, e não vejo como um Estado Laico pode ter sucesso ali nas próximas décadas.
E a segurança dos viajantes? Em algum momento vocês se sentiram intimidados?
Ricardo - Foi o país mais seguro que visitamos. Foi onde nos sentimos mais tranquilos. As pessoas se aproximam realmente querendo ajudar. Parecem se achar responsáveis por você. Às vezes a generosidade era tanta que chegávamos a pensar que era golpe. Mas logo depois víamos que era só gentileza mesmo.
Como estão os preços e a infraestrutura de transporte?
Ricardo - Os preços estão muito baixos. Fizemos uma viagem de 1.300 km e as passagens custaram cerca de oito dólares cada. A moeda perdeu mais de 80% de seu valor frente ao dólar no último ano e não há política de diferenciação de preços entre turista e habitante. Já a estrutura de transporte pode melhorar. As estradas são boas e cobrem bem o país, mas não há norma que obrigue os ônibus a pararem de duas em duas horas, por exemplo, e também não há garantia de parada em locais com estrutura mínima de banheiros e restaurantes. Os ônibus são ruins. Existem os “VIP”, que geralmente são melhores. Nos disseram que avião é barato também, mas não usamos do expediente porque viajando por terra podemos conhecer melhor o país.
Dicas para viajantes mulheres?
Renilza - Chegue ao país com apenas um conjunto de casaco e lenço. Pode ser qualquer lenço para cobrir os cabelos, podendo deixar boa parte da frente exposta. Para cobrir o corpo use qualquer peça de manga comprida, que não seja justa ao corpo e que cubra os quadris. Deixe para comprar mais já no país. Use da vontade de interação das pessoas para pedir alguma garota que te ajude nas escolhas ou simplesmente observe o que as iranianas estão usando antes de compar. As combinações de cores que parecem interessantes para mulheres de fora podem não fazer sentido para a moda local. Demonstrações públicas de intimidade entre sexo oposto não são bem vistas. Os mais conservadores sequer cumprimentam uma pessoa do sexo oposto com aperto de mão. Para evitar constrangimentos ao cumprimentar um homem apenas coloque a mão sobre o peito e faça um movimento de leve inclinação da cabeça. Se a mão for estendida aperte-a sem medo.
Leia aqui a entrevista que fiz com eles em junho
MUITO BOM O POST, TENHO MUITA VONTADE DE CONHECER ESTE MARAVILHOSO PAIS.
Nossa! Fiquei encantada com a entrevista feita por Dauro Veras a Ricardo e Renilza. Amei conhecer um pouco sobre os povos e costumes iranianos. Muito bom mesmo. Parabéns ao entrevistador e aos entrevistados.Heloísa.