16
Dec15
Minhas impressões sobre Oração do amor selvagem
Não sou crítico profissional de cinema. O que sei é quando gosto ou não gosto de um filme, embora a maior parte dos motivos pra isso provavelmente esteja além da avaliação racional. Se gosto, recomendo. Se não, fico na minha, ou em casos extremos, comento com os mais chegados — acredito que mesmo um filme ruim pode ensinar. De tanto vê-los desde os sete anos de idade e por também trabalhar com roteiros, aprendi uma coisinha ou outra sobre a combinação de técnica e arte envolvida na construção de uma obra audiovisual. Assim, posso ir além da platitude de dizer que gostei “porque sim”, como martela o bordão daquela cerveja ruim. Pois bem, gostei muito de Oração do amor selvagem, dirigido por Chico Faganello, que estreou semana passada. Compartilho minhas impressões, consciente de que é só uma opinião e que, mais seguro que confiar na minha, é melhor você ver o filme e formar a sua.
Antes de prosseguir, aviso que minha avaliação é suspeitíssima, pois sou amigo do Chico há trinta anos. Já fizemos várias parcerias profissionais, conheço seu método de trabalho e vi filmes dele que não gostei, ou não entendi direito. Assim, me sinto bem à vontade pra afirmar que esta obra é uma mostra inequívoca do seu amadurecimento como cineasta. Oração do amor selvagem faz uma reflexão porrada sobre intolerância religiosa em uma pequena comunidade do interior de Santa Catarina, que poderia ser qualquer lugar do mundo. É contada com sensibilidade, roteiro competente, atores bons e entrosados, fotografia e trilha sonora marcantes, áudio de qualidade. Saí impactado da sala de cinema e decidi esperar dois dias antes de escrever, pra digerir melhor. Nem sempre os grandes impactos são sinônimos de qualidade, já dizia a parede esburacada pra furadeira elétrica. Neste caso, é.
Um dos grandes méritos de Oração é ter conseguido resgatar a química das narrativas contadas ao pé do fogo desde sempre. Sem maneirismos estilísticos. Complexa e cheia de camadas, mas com a simplicidade dos bons causos com cor local e eco universal. A trajetória do caboclo Thiago — incorporado de maneira quase sobrenatural por Chico Diaz — avança num ritmo seguro, que começa lento e vai pegando embalo, nos envolvendo na correnteza. Não é um “filme de autor”. A gente percebe a marca do trabalho de equipe o tempo inteiro, tanto nas vigas-mestras quanto nos detalhes — a camisa puída que o protagonista abotoa, os diálogos e as pausas, os gestos que expressam a dúvida existencial, a busca da felicidade e da paz/redenção. Há um denso subtexto, quase nada está ali por acaso.
Fiquei impressionado com o talento do ator Ivo Müller na interpretação do pastor obcecado pela irmã e pelas ideias distorcidas sobre religião. Antagonista poderoso, é ao mesmo tempo repulsivo e digno de pena. Como bem lembrou a Adriane Canan, embora o filme tenha homens como personagens centrais do conflito, as personagens femininas são fundamentais pra mover esse drama de amor e ódio. Mulheres que buscam a felicidade em meio à repressão. Sandra Corveloni interpreta a viúva Anita e sua bondade ambígua na medida certa. Camila Hubner convence como a irmã do pastor, oscilante entre a castidade e o desejo. A menina Camilla Araújo, que faz a filha de Thiago, é um destaque à parte com aqueles olhos lindos onde cabe um mundo.
Gostei muito da fotografia do Marx Vamerlatti, que aproveitou ao máximo a luz natural, inspirado na pintura de Vermeer e em Sangue Negro de Paul Thomas Anderson, como nos contou no debate mediado por Jose Geraldo Couto, logo depois da sessão. A trilha de Zeca Baleiro e o coral da cidade de Antônio Carlos, onde foram feitas as filmagens, foram vitais pra criar o clima. Minha cena preferida, sem spoiler? A da chuva vista da janela. Não só por ser síntese do espírito libertário do protagonista. É um eco da minha primeira lembrança de infância (e lá se vai o racional pras cucuias). Falhas? Achei a atuação dos policiais pouco convincente e algumas cenas da primeira parte podiam ter sido cortadas sem prejuízo da narrativa — nada que tenha comprometido a verossimilhança ou a qualidade da montagem.
Oração do amor selvagem merece ser visto com atenção. O tema é da hora e é de sempre: a relação do humano com o divino e como isso às vezes descamba para a violência obscena. Adorei ver Santa Catarina retratada com tanta competência no cinema, numa história xucra como a vida e doce como o amor.
20
Sep15
Ainda sob impacto de Que horas ela volta?. Filmaço! Diz tanto sobre a história do Brasil e sobre a condição da mulher. Sensível, inteligente, bem humorado e sem discurso panfletário. Sem dúvida, um dos melhores filmes da década. De baixo orçamento e poucas locações, sem tiros, sem efeitos especiais e sem perseguições de carro. Pleno de vigor, com roteiro e interpretações primorosas. Gostei muito dos detalhes sutis que ajudam a contar a história, como a cuba de gelo vazia no congelador e “o sorvete de Fabinho”. Fico curioso pra saber como vai ser visto em outros países. Essa herança escravagista misturada com cordialidade hipócrita deve ser meio difícil de entender por quem não é brasileiro. “Que horas…” vai além disso, aponta pra mudanças. Vejam, e levem os filhos, pais, maridos, namorados e alunos.
21
Jun15
FAM 2015: amor, arte, sonhos e resistência
Sábado de fortes emoções no FAM, em dois filmes que dialogam entre si ao falar de amor, arte, sonhos e resistência. Primeiro, Desculpe pelo transtorno: o Bar do Chico. Debulhei lágrimas vendo a história desse homem querido que aglutinou tanta gente boa. Seu Chico e o bar já não estão mais aqui, mas viraram símbolo da luta de todos os que amam Floripa contra os que só amam o dinheiro. História local com ecos universais, o documentário já está inscrito em mais de 40 festivais pelo mundo.
À noite, vimos Los Hongos, belíssimo filme colombiano sobre dois adolescentes no mundo de hip-hop, skate e grafiti de Cali. A trilha é excelente (uma palhinha no trailer oficial aí embaixo), o clima é pra cima, o roteiro, repleto de subtextos sem ser chato, e os personagens, bem construídos. Tem uma abuelita encantadora que faz quimio, ganha massagens na cabeça do neto e dá um conselho pra ele e pro amigo: “Meninos, vocês deviam acordar mais cedo. Assim sobra mais tempo pra vagabundar”. Saí da sala ainda mais apaixonado pelo cinema.
#FAMdetodos
Os trailers
01
Mar15
Impressões sobre Birdman
Vi Birdman ontem. Tecnicamente bem realizado, repleto de metalinguagem, referências e homenagens, roteiro bem escrito, excelentes atuações, Edward Norton e a diva Naomi Watts roubando a cena. Com tudo isso, não conquistou meu coração cinéfilo. A impressão que me deu foi a de uma overdose de recursos pra impressionar, como aqueles gifs animados dos primeiros tempos da web. O plano-sequência, interessante até os 15 minutos, começou a me cansar depois de meia hora e já tava insuportável perto do final.
Birdman não é propriamente um filme “ruim”. Tem cenas excelentes (como a do baterista, p.ex., uma autorreferência à trilha que constrói o clima, e a da briga-diálogo entre os personagens de Keaton e Norton). Mas tá mais pra lição de anatomia cinematográfica que espetáculo encantador. Bom filme pra estudar repertórios de possibilidades narrativas, mas também pra ensinar sobre os riscos de carregar nas tintas.
Peguei emprestada a foto desta ótima resenha do Zé Geraldo Couto no blog do IMS.
25
Feb15
Algumas impressões sobre Boyhood
Demorei um pouco pra comentar Boyhood porque estava esperando o filme “assentar” na cabeça. Vi faz uma semana e os flashes da história estão voltando de mansinho. Identificações, empatias, reconhecimento de sutilezas.
Boyhood foge dos cânones hollywoodianos de roteiro clássico. Coisas como clímax e anticlímax não têm importância alguma na história. Alguns acharam chato, eu gostei muito da sensação um tanto voyeurística de seguir a evolução dos personagens – não só o menino – numa trajetória cotidiana sem pirotecnias dramatúrgicas.
Momentos se somando ao longo dos dias e anos, fazendo sentido pelo seu conjunto de banalidades e solavancos da vida sem sentido – mas repleta de reflexões sobre isso mesmo, ao contrário de banalidades rasas e solavancos grosseiros do Big Brother.
A sensação de ser um outsider, de não se encaixar no esquema, é um tema recorrente nos filmes de Richard Linklater que acompanha o protagonista ao longo da história. Mas o menino-adolescente consegue, de um jeito ou outro, viver com isso. Me enxerguei nele.
A produção com os mesmos atores ao longo de 12 anos é muito adequada à história que o diretor contou. Carpintaria narrativa sofisticadíssima em um filme aparentemente despretensioso. Boyhood vai ser lembrado por muito tempo. Por mim, pelo menos.
20
Feb15
The City of Your Final Destination
Vi ontem The City of Your Final Destination (James Ivory, 2009). Quase passei batido por ele no Netflix, por causa do título bobo em português (Em busca do amor, ou algo parecido). Mas a presença de Anthony Hopkins e Charlotte Gainsbourg no elenco, a trilha de Jorge Drexler e a ambientação no interior do Uruguai me chamaram a atenção. Muito bom! A história acompanha Omar, um tímido estudante americano de pós-graduação que quer escrever a biografia de um escritor já falecido. Seu desafio é convencer os herdeiros – a viúva, a amante e o irmão, que vivem na mesma propriedade rural – a autorizar a obra. Não chega a ser daqueles filmes inesquecíveis, mas é muito bem construído, com personagens marcantes – incluindo a namorada controladora de Omar e a lembrança do escritor Jules Gund, idolatrado pelas mulheres. Recomendo.
26
Jan15
The Newsroom: inteligência na TV
Terminei de ver a terceira e última temporada de The Newsroom. Em meio à cobertura diária de notícias pelo canal de TV a cabo e às confusões amorosas na redação, os conflitos envolvem desde ética jornalística à influência corporativa no conteúdo editorial. É ótimo encontrar vida inteligente na televisão. Aliás, talvez essa seja a única pitada de inverossimilhança na narrativa: os diálogos são fantásticos, as pessoas são inteligentes demais o tempo todo pra serem reais. Mas se a gente ativar a suspensão da descrença e aceitar essa premissa, a série é um deleite.
01
Mar13
Vida de Escritor
Vida de Escritor by Gay Talese
My rating: 4 of 5 stars
Li e recomendo Vida de escritor, de Gay Talese. É uma combinação de autobiografia com algumas histórias levantadas por ele que terminaram não sendo publicadas. Ou por rejeição do editor, ou porque ele não sabia o caminho a tomar e decidiu abandonar o projeto. Talese tem fascínio por personagens anônimos e pelos que fracassam.
Passou meses na China pesquisando sobre uma jogadora de futebol que perdeu um pênalti na final da Copa do Mundo, numa partida que deu o título aos EUA. Durante anos, coletou informações e fez entrevistas sobre um prédio antigo em NY, onde diversos restaurantes bacanas abriram as portas e faliram em poucos meses. Também acompanhou de perto o caso de Lorena Bobbit, a equatoriana que decepou o pênis do marido. O resultado é um painel que revela muito sobre o método de trabalho dele, suas obsessões, bloqueios diante da página em branco e a paixão pela reportagem.
Do posfácio de Mario Sergio Conti: “Vida de escritor traz precisamente o que o título enuncia: um relato do calvário. … O livro não tem nada de condescendente nem conformista. Os seus assuntos são o trabalho e o fracasso. … Ao mostrar as frustrações do relato de apurar e relatar, Talese desmistifica o jornalismo”.
Conti conta ainda que Vida de Escritor, de 2006, foi o livro de Talese que teve pior recepção nos Estados Unidos. As restrições foram de duas ordens: ele seria um pot-pourri com restos de livros que goraram; e a sua construção era forçada e frágil. Conti diz que não há o que discutir quanto à primeira ressalva, mas a restrição não se sustenta, pois considera a construção do livro “altamente requintada” – labiríntica, autoquestionadora, fragmentada.
06
Aug10
Um adivinho me disse
Terminei hoje, depois de uma pianíssima leitura, Um adivinho me disse, de Tiziano Terzani, que a Lady Rasta recomendou e a Laura encontrou a preço de banana numa liquidação de livraria. É o tipo de narrativa que, quando a gente chega na última página, deseja que tivesse uma parte 2, a missão. Terzani (1938-1994), jornalista italiano que passou boa parte da vida na Ásia, conta de suas mochiladas por terra e mar no continente em 1993, depois que um adivinho o advertiu que aquele seria um ano perigosíssimo pra viajar de avião. Assim, de trem, navio, carro, riquixá, lombo de mula e a pé, ele sai de sua casa em Bangcoc para uma aventura que envolve não só a descoberta de povos e paisagens, como também um mergulho na própria existência.
Da conservadora Malásia à ditadura high-tech de Cingapura; de ilhas perdidas na Indonésia à efervescência de gente na China; das planícies mongólicas à estepe russa, ele nos convida a compartilhar belezas que, nestes tempos de turismo superficial, só os viajantes sem compromisso com o relógio têm tempo de encontrar. Pelo caminho, aproveita pra consultar os mais diversos tipos de adivinhos, alguns claramente charlatães, outros, possuidores de algum tipo de poder que os faz revelar coisas impressionantes sobre a vida dele. Há alguns momentos memoráveis de jornalismo, como o relato sobre o encontro com trabalhadores escravos acorrentados num campo cambojano, e os dias que passou no “Triângulo de Ouro” – fonte da maior parte da heroína consumida no mundo, entre Tailândia e Birmânia – como convidado do chefão do tráfico.
Terzani faz reflexões interessantes e melancólicas sobre a transformação da tradicional Ásia em uma sociedade ávida por bens de consumo, que se espelha no modo de vida ocidental e assim vai perdendo suas raízes. O livro é também uma forma de reencontro consigo mesmo. Ele revela que sofreu de depressão quando vivia no Japão, e que isso o levou a trocar um cotidiano chato e previsível pelas emoções da profissão de jornalista “on the road”. Também conta sobre sua descoberta da meditação vippasanaa (que Eliane Brum descreveu em brilhante reportagem na revista Época em janeiro de 2008), com um mestre e um assistente inusitados: um ex-agente da CIA e um general tailandês aposentado.
Um adivinho me disse foi pra mim uma espécie de continuação de jornada: em 1993, mesmo ano em que o jornalista vivia sua história, viajei a trabalho por seis países asiáticos durante três semanas. Tive conversas densas com pessoas que conheciam profundamente os países que percorri, mas o tempo foi rápido demais pra mergulhar com calma naquelas culturas. Ficou a lembrança de um impactante choque cultural e um gosto de “quero mais”. Terzani satisfez parte dessa sede com talento e sensibilidade. Só que deixou em mim outra vontade: ler outros livros dele.
03
Aug10
As fotos do Yan
O amigo Yan Boechat acaba de inaugurar um saite de fotos. As imagens ainda não são definitivas e é preciso revisar os textos, avisa. Preocupação irrelevante, pois nada é definitivo enquanto se está vivo. A internet ficou mais rica com este presente que ele compartilha. Em suas andanças jornalísticas e vagabundísticas pelo mundo, Yan conseguiu capturar belezas raras, de lugares e gentes inusitados. Algumas fotos, como a do tanque russo abandonado no Afeganistão, quase foram suas últimas, pois ele caminhou sem saber por um campo minado pra chegar mais perto da carcaça de ferro.
Concordo com esse flamenguista de Itaperuna: suas melhores imagens são de gente. Que bom que ele conseguiu, como admite, superar a “covardia da tele-objetiva” e se aproximar das pessoas para fotografá-las. Assim capturou momentos especiais, como o da bilheteira de seios fartos num parque de diversões no Tocantins, o menino boliviano fazendo bola de chiclete, a mulher e a criança paulistas num abraço quente de olhos fechados…
O menu dá uma ideia da variedade de temas e lugares clicados: Gente; Lugares (eu botaria “Outros Lugares”, e no final da lista); Cotidianas; Copa sem Cor; Afeganistão; Angola; Patagônia; Irã; Bolívia; Rússia. Gosto em especial das suas fotos em preto e branco, com filme granulado. O cabra se dá ao requinte de ter um pequeno laboratório em casa pra revelar à moda antiga e ampliar sob a magia da luz vermelha.
Passeio pelas fotos e me bate um flashback da primeira vez que vi o Yan, em 1993, o ano em que ainda éramos magros. Na época ele era calouro de jornalismo na UFSC – curso que tem rendido muitas safras de profissionais criativos e talentosos, como Sonia Bridi, Celso Vicenzi, André Rohde, Marques Casara, Frank Maia e tantos outros. Eu, repórter de 27 anos (também formado na UFSC, na turma 91.2), tava numa fase de adrenalina e muitas andanças. Entre uma cerveja e outra, ele perguntava das minhas viagens pela América do Sul e Ásia. Seus olhos brilhavam e diziam sem dizer nada, “um dia vai ser minha vez”. Aí está, ele foi longe com seu espírito aventureiro. Vai mais ainda.
Faltou dizer: 1) a principal área de atuação do Yan na comunicação não é a fotografia, e sim a escrita. Grande contador de histórias! 2) Eu me orgulho muito de ser amigo desse cara de coração generoso e circunferência abdominal avantajada, pois de nada adiantaria tanto talento se ele fosse um filho-da-puta. Este é, portanto, um texto eivado pela parcialidade.
Segue na íntegra uma pequena biografia do repórter-fotógrafo por ele mesmo:
Eu sou flamenguista, em primeiro lugar. E isso diz muito sobre a pessoa de gosto refinado que sou. Minha maior influência em qualquer campo, seja artístico, seja intelectual ou até profissional, é o Flamengo de 81. Cartier-Bresson que me desculpe, mas se Júnior carregasse o filme, Andrade fotometrasse e Zico fizesse o enquadramento, ele e todos os outros gênios estariam um degrau abaixo no panteão dos grandes fotógrafos de todos os tempos. Essas fotos são uma tentativa de replicar, ainda que mal e porcamente, a beleza, a visão de jogo e a poesia daquele time, sem abandonar a virilidade de um Anselmo, que fique claro.
Comecei a fotografar na adolescência, com uma Ricoh. Fiz péssimas fotos com ela, mas até hoje dizem ser uma boa máquina. Quando entrei na faculdade de jornalismo, la em 93, comecei a fotografar com mais frequência e comprei uma Pentax K-1000, o grande fusca das máquinas fotográficas. A troquei por uma Nikon de foco automático que estragou poucos meses depois. E aí, sem câmera e sem dinheiro para comprar outra, fiquei anos sem fotografar.
Voltei em 2002, quando estava viajando. Foi um reencontro ótimo, porém intermitente. Abracei as digitais quando elas ficaram baratas e, com o tempo, fiquei com saudade do filme. E voltei a eles. Hoje praticamente só fotografo com filme. Montei um laboratório em casa e sempre que alguém vai viajar me faz a gentileza de trazer uns químicos e filmes. Com isso, fazer fotografia analógica não é tão economicamente imbecil como parece. E é uma delícia. Quase um Natal a cada filme. Sempre se está à espera do presente que vai vir.
Apesar de amar a fotografia, eu vivo de escrever. Sou jornalista e ando pulando de redação em redação pelos últimos 15 anos. Às vezes cansa, mas é divertido. Continuo tentanto, ainda sem sucesso, fazer na vida o que o Adílio, o Zico e até o Nunes fizeram em campo. Nesse momento dedico-me fervorosamente a ganhar na Megasena, mesmo que ela não esteja acumulada.