03

Mar

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Cooperação Brasil-Cuba-Haiti

Bruna Canever (da UFSC, ao centro) com estudantes haitianos. Acervo do projeto

Bruna Canever (da UFSC, ao centro) com estudantes haitianos. Acervo do projeto

Um acordo de cooperação técnica entre Brasil, Cuba e Haiti está possibilitando a formação de profissionais haitianos para atuar na atenção primária à saúde neste país caribenho, o mais pobre das Américas, que foi devastado por um forte terremoto em 12 de janeiro de 2010. Em quatro anos de atividades, já foram titulados mais de 1.300 agentes de saúde comunitários, auxiliares de enfermagem, inspetores sanitários e agentes de saúde ambiental.

Da parte brasileira, a gestão é realizada pelo Ministério da Saúde, em parceria o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e com três instituições de ensino e pesquisa: a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O acordo tripartite deu continuidade à atuação solidária do Brasil com o Haiti nas áreas de segurança e reconstrução da infraestrutura, iniciada logo após o desastre sísmico.

Coube à UFSC, com apoio administrativo da Fapeu, assumir a qualificação dos recursos humanos de nível médio na área da saúde. O Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da instituição já tem um histórico de parcerias bem sucedidas com o governo federal nessa área. A UFRGS contribuiu com a organização da rede de serviços e a Fiocruz, com a atuação nos campos de epidemiologia, imunização, comunicação e informação. Em torno de R$ 5 milhões foram investidos na formação desses profissionais.

SUS é referência

Visita de delegação haitiana ao Hospital Universitário da UFSC. À direita, a coordenadora do projeto, Flávia Ramos.

Visita de delegação haitiana ao Hospital Universitário da UFSC. À dir., gestora do projeto, Flávia Ramos. Foto: Soninha Vill.

“Estamos implantando um modelo inspirado na estratégia de saúde da família no Brasil”, diz a gestora operacional do projeto e coordenadora do Departamento de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC, Flávia Regina Ramos. Essa estratégia, adotada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), enfatiza a atenção à família no local onde ela vive, valorizando as ações de promoção e proteção da saúde, a prevenção de doenças e a atenção integral às pessoas. Ela se contrapõe ao modelo tradicional e ineficiente, focado na supervalorização da assistência curativa, especializada e hospitalar.

Flávia destaca que a tônica da ação brasileira sempre foi desenvolver um projeto estruturante, isto é, evitar ações paliativas como as que foram realizadas pontualmente por diversos países após o terremoto de 2010. O objetivo é trabalhar junto com as autoridades haitianas e os médicos cubanos para desenvolver competências locais que ajudem a restaurar o sistema de saúde do país caribenho. “Isso significa fazer junto”, afirma. Cuba tem participação fundamental na parceria, pois atua há muitos anos no Haiti, onde mantém hospitais e profissionais de saúde experientes.

Em maio de 2014, o Brasil inaugurou uma rede hospitalar no entorno de Porto Príncipe, a capital do país. Com investimento de R$ 25 milhões, ela é composta pelo Hospital Comunitário de Bon Repos, pelo Instituto Haitiano de Reabilitação e pelo Laboratório de Órteses e Próteses. Outros dois hospitais comunitários de referência estão em construção. Somados, eles podem atender 300 mil pacientes, um apoio significativo para o país de 10 milhões de habitantes, que tem o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do continente.

Bolsa de estudos

Durante o curso, os alunos recebem do governo brasileiro uma bolsa de estudos para que tenham condições de alimentação e transporte e possam se dedicar integralmente à formação. Quando eles se titulam, continuam recebendo a bolsa por seis a 12 meses, para que tenham tempo de ser inseridos profissionalmente na rede pública. “A formação é feita por haitianos, que são capacitados, supervisionados e acompanhados por brasileiros”, explica Flávia.

“A ajuda técnica e financeira do Brasil tem sido fundamental”, disse a enfermeira Guerline Bayas, especializada em saúde comunitária e diretora de uma escola técnica em Porto Príncipe. Em outubro de 2014, ela esteve em Brasília com outros dois profissionais de saúde haitianos para participar de um seminário internacional de avaliação dos quatro anos de atividades do projeto. Os resultados superam as expectativas. Em seguida, o grupo visitou uma escola técnica em Blumenau e o Hospital Universitário da UFSC em Florianópolis.

“Esperamos renovar o convênio, pois o Haiti sozinho não tem condições de construir a estrutura necessária”, afirmou, acrescentando que a meta é formar pelo menos 10 mil profissionais de saúde para oferecer cobertura em todo o país. (…)

Publiquei esta reportagem na Revista da Fapeu 2014. Leia aqui a íntegra em pdf.

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