14
Jul10
Previdência e metáforas do futebol
Há dois meses, fiz uma série de entrevistas com cinco ex-jogadores de futebol: Rubão, Balduíno, Albeneir, Lico e Hamilton. Eles recordam erros e acertos de suas carreiras e dão dicas às novas gerações. A reportagem As lições da bola fez parte do Relatório 2009 da Fundação Celesc – Celos, realizado pela Quorum Comunicação e publicado agora em julho.
Gostei demais de fazer esse trabalho, não só pelo aprendizado com os professores de bola, como pela oportunidade de contribuir para o projeto dos amigos da Quorum, um time de gente talentosa, goleadora e de bem com a vida. A publicação relaciona previdência com metáforas do futebol. É um belo exemplo de como se pode usar comunicação criativa pra fugir da chatice dos relatórios corporativos. Valeu, Gastão, Claudio Lucio, Soninha, Frank e Audrey!
Fotos: Sonia Vill
Veja o making-of da publicação.
Clique na imagem para ver o Balanço.
26
May10
Dia do Brincar
Recebi da Beth Karam o release abaixo sobre uma programação muito legal pra este fim de semana: o Dia do Brincar, no Parque Ecológico do Córrego Grande, um dos lugares mais agradáveis de Floripa.
Vai ser um domingo não só de diversão, como também de ativismo. Dou toda a força – não por acaso, uma das tags deste blog se chama brincadeira – e convido você a assinar o manifesto contra o projeto de lei que pretende restringir um direito fundamental da criançada.
Dia 30 é o Dia do Brincar em Florianópolis
Brincadeiras, jogos, música e estórias esperam país e filhos no Parque Ecológico Córrego Grande, em Florianópolis
No próximo dia 30, último domingo do mês de maio, no Parque Ecológico Córrego Grande, em Florianópolis, a Aliança pela Infância realiza o Dia do Brincar. Uma série de atividades estão programadas das 14h às 18h, como jogos, brincadeiras e também oficinas para fazer pipas, origami, aprender um pouco de música e ouvir algumas estórias. Para os pais também haverá atividades, como a apresentação de um vídeo que discute publicidade e infância, e uma palestra sobre o brincar saudável.
O Dia do Brincar dá a largada a duas campanhas que prometem acirrar ânimos de pedagogos, psicólogos e políticos. Uma é o projeto de lei 6755/2010, que pretende alterar a lei do ensino fundamental para torná-lo obrigatório a crianças a partir dos 5 anos de idade.
A Rede Nacional Primeira Infância – formada por 74 organizações da sociedade civil, do governo, do setor privado e de organizações multilaterais, entre elas a UNESCO, UNICEF e a Aliança pela Infância – está com um abaixo-assinado em todo o país para tentar brecar esse projeto, pois considera a proposta “um atentado contra a infância e um desserviço à educação básica brasileira”. Isso porque obrigar a criança dessa idade a começar o Ensino Fundamental tira-a das brincadeiras lúdicas que fazem com que se desenvolvam de forma mais saudável para que, chegando à idade escolar possam aprender com mais facilidade.
A outra campanha que começa a tomar corpo entre pais, professores e profissionais ligados à infância é a questão da publicidade que se utiliza da criança para vender os mais variados produtos – não só artigos infantis, mas também carros, geladeiras e imóveis. “A indústria descobriu que é mais fácil convencer uma criança do que um adulto, então, as crianças são bombardeadas por propagandas que estimulam o consumo e que falam diretamente com elas”, resume o vídeo “Criança, a alma do negócio”, documentário de Estela Renner que será exibido no Dia do Brincar.
Tanto com o projeto de lei como com a publicidade voltada às crianças, o que ocorre é um “encurtamento” da infância: crianças de 5 anos que se maquiam, usam celular e sabem todas as marcas de novos produtos, mas talvez nunca tenham visto uma pipa, se sujado com terra ou não sabem o que é a brincadeira de roda.
PARA PARTICIPAR
Para quem quer assinar a petição contra a lei, a RNPI (Rede Nacional Primeira Infância) está disponibilizando um abaixo-assinado eltrônico em sua homepage – http://primeirainfa ncia.org. br/2010/05/ participe- da-nossa- peticao-online/
Ao acessar a página, clicar no ícone “Take Action”.
Quem preferir registrar por telefone seu posicionamento ao PL 6755/2010, o número é 0800619619 – Alô Câmara.
PROGRAMAÇÃO DIA DO BRINCAR
Dia 30/05/2010
Horário: 14 às 18 horas
Local: Parque Ecológico Córrego Grande – Florianópolis
Jogos e brincadeiras
Oficinas de pipa, origami, musicalização, contação de estória
Atividades para pais:
Vídeo: Criança e consumo
Palestra: Brincar saudável
LINKS
www.aliancapelainfancia.org.br
http://www.alana.org.brhttp://www.oficinadoaprendiz.com.br
26
May10
News diamond
Reblogo post que Fábio Mayer publicou no ótimo blog Centro Multimídia (onde há, também, uma tabela interativa da Copa pra download gratuito – dica do Alexandre Gonçalves).
O pesquisador e jornalista Paul Bradshaw criou o conceito news diamond, com o qual propõe um novo modelo para o desenvolvimento de notícias, aproveitando as ferramentas tecnológicas disponíveis atualmente. Para tal, demanda primeiro uma reorganização das redações.
1. Alerta – Notas em “últimas notícias” (celular, email e twitter).
2. Resumo – Blog (esboço da matéria).
3. Artigo – Matérias pequenas no site (uso de hipertexto).
4. Contexto – Maior profundidade na matéria (uso de hipermídia).
5. Análise – Reações em blog e comentários.
6. Interatividade – Enquete, chat, fórum (interferência do leitor).
7. Personalização (banco de dados)
Mais informações: Online Journalism Blog
23
May10
Pedagogia do parangolé
Dias 7 e 8 de junho, na PUC de São Paulo, o amigo Marco Silva, doutor em Educação pela UERJ, vai lançar três livros sobre Educação a Distância. O Sala de Aula Interativa completa dez anos na quinta edição, atualizada com posfácio e editada agora pela Loyola. Os outros dois são Educação Online e Ensino-aprendizagem e comunicação. Neste último, ele participa com um artigo sobre infoexclusão do professor e da educação.
Conheci o Marco quando morei no Rio de Janeiro entre 2000 e 2001. Como roteirista, ajudei-o a criar um curso a distância para a Universidade Anhembi-Morumbi, a partir do texto-base do Sala de Aula Interativa. Lembro dos ótimos debates que tivemos sobre o tema, a linguagem e os recursos para estimular os estudantes a distância. Marco é aquele tipo raro de pessoa com quem você tem prazer em trocar ideias. Mesmo quando há divergências, a gente tem ampla liberdade pra argumentar, examinar a situação por ângulos diversos, expor-se à possibilidade de convencer e ser convencido ou, quem sabe, encontrar caminhos que nem estavam na pauta. Um tiquinho teimoso, como eu também, mas aberto a reconhecer erros e considerar sugestões. Perfil maravilhoso para um companheiro de trabalho em EaD, uma atividade instrinsecamente coletiva, em que a capacidade de co-criar é fundamental.
Foi o início de boa parceria que prosseguiu por alguns anos e se transformou em amizade (tive a honra de acompanhar seu namoro com a baianíssima Méa, também pesquisadora de EaD, evoluir pra união que resultou numa filha linda). Voltamos a trabalhar juntos na adaptação desse primeiro livro para outro contexto. E em duas ocasiões, a convite dele, dividimos uma disciplina num curso de pós-graduação em design instrucional, no Senai de Lauro de Freitas, cidade vizinha a Salvador.
Marco aborda com conhecimento de causa e desenvoltura diversos temas ligados à teoria e prática da educação a distância. Sua obra é libertária (o que me encantou de cara), ao advogar o envolvimento de professores e estudantes em uma educação verdadeiramente interativa e dialógica, que rompa com a prática da transmissão. Tudo a ver com Paulo Freire, claro.
Um dos grandes inspiradores de Marco é o artista plástico Hélio Oiticica, em especial o parangolé (não confundir com a banda de axé da Bahia), obra subversiva em forma de capa, que só revela suas cores, dobras e texturas na plenitude quando alguém a veste e se move – de preferência, dançando. Metáfora perfeita pra um modo de educar que preconiza o incentivo à autoria e a apropriação da tecnologia pelos estudantes.
A chave da questão não está nos gadgets e widgets que sempre tem alguém tentando nos empurrar, mas nas pessoas. E na maneira como é possível usar essas ferramentas a nosso favor. Recomendo a “pedagogia do parangolé” a todos os professores, formais ou não – tanto os que ainda se sentem intimidados ou de “pé atrás” diante das novas tecnologias de comunicação, quanto os que já captaram suas ricas possibilidades e desejam ir além.
22
May10
O paradoxo das escolhas
Este vídeo tem 19’40″ e vale cada segundo. Barry Schwartz fala no TED sobre um paradoxo da vida moderna, cujo dogma é que a felicidade está vinculada à liberdade de escolher. Para ele, o excesso de opções na verdade traz paralisia e frustração. “O segredo da felicidade está em ter baixas expectativas”, brinca, a sério. “Quanto mais opções nos são oferecidas, mais ficamos desapontados com as eventuais escolhas erradas que fizemos”, diz, lembrando que essa pressão por não falhar leva a muitos casos de depressão e suicídio. Em resumo: “Não há dúvida de que alguma escolha é melhor que nenhuma, mas isso não significa que ter mais escolhas é melhor que alguma escolha”. Schwartz aponta a falsidade do mantra moderno de que não há limites para o que podemos fazer: “A ausência de algum aquário metafórico é uma receita para a infelicidade e, eu suspeito, o desastre”. Essa análise toda se aplica, claro, ao mundo ocidental capitalista desenvolvido, pois nos lugares miseráveis do mundo, o problema é a falta do que escolher. Nesse sentido, ele também faz uma interessante sugestão: a de que distribuir renda traz felicidade tanto para as pessoas pobres quanto para as que doam, pois estas estão abrindo mão da pressão para escolher tanto.
[vi este vídeo no blog Nãoenchequejátoucheia, valeu!]
p.s.: Vídeo em inglês, com legenda em várias línguas, inclusive português do Brasil.
06
May10
Que desenvolvimento queremos?
Saiu do forno a edição 16 da Revista Observatório Social. Ela é editada pelo Instituto Observatório Social, organização vinculada à CUT que desenvolve pesquisas sobre globalização e direitos dos trabalhadores. Tenho a honra de participar dessa publicação desde o primeiro número, em 2002, fazendo reportagem e edição. Nesses oito anos e 16 edições, a revista conquistou seis prêmios jornalísticos importantes nas áreas de direitos humanos e meio ambiente, entre eles os prestigiados Esso e Vladimir Herzog. Tudo isso com um trabalho quase artesanal, mas ciente de que existe vida após o google.
Em suas páginas já publicamos denúncias sobre trabalho escravo no Pará, trabalho infantil em Minas Gerais, acidentes de trabalho em Santa Catarina, contaminação urbana por mineração no Amapá, desmatamento ilegal na Amazônia, exploração de imigrantes ilegais em São Paulo, discriminação de gênero e outros temas ligados a violações de direitos. Várias vezes, rastreando a cadeia de valor que envolve esses delitos até chegar a grandes corporações brasileiras e estrangeiras.
A tiragem da revista é bastante limitada – em geral, 10 mil exemplares – e a distribuição, precária, focada em formadores de opinião. Mesmo assim as repercussões das reportagens têm sido animadoras. No caso do trabalho escravo em carvoarias no Pará, por exemplo (edição publicada em 2004), a reportagem contribuiu para que o setor siderúrgico formalizasse um pacto nacional pela erradicação do crime. A denúncia de trabalho infantil na mineração em Minas Gerais levou a três conhecidas multinacionais a romper com seus fornecedores (a Basf, registre-se, ainda resistiu a quase um ano de pressões antes de admitir formalmente o problema). O mergulho nas oficinas de trabalho degradante de bolivianos em São Paulo levou a C&A a prometer mais rigor nos contratos com terceirizados.
Também há vezes em que a denúncia cai no vazio, como a reportagem sobre mutilação de trabalhadores no setor moveleiro de Santa Catarina, que publiquei em 2006. Repercussão mínima na imprensa estadual, pra não dizer nula (esta foi menção honrosa no Prêmio Herzog, e tive a honra de subir ao palco com a melhor jornalista brasileira em atividade hoje, Eliane Brum, que ganhara na categoria revista).
De qualquer maneira, com recursos escassos e estrutura mínima, vamos fazendo marola. Às vezes até traduzimos alguns textos pro inglês (thanks, Jeffrey Hoff) pra repercutir lá fora e, por tabela, ressoar no Brasil. Nestes tempos em que o jornalismo se repensa em crise existencial, a vitalidade de uma publicação do terceiro setor anima a gente. Há caminhos. No caso da revista do IOS, um deles, a meu ver, é a ampla liberdade que os profissionais de comunicação têm para desenvolver seu trabalho, sem grandes interferências de quem os financia. O outro tem a ver com o que a já citada Eliane Brum disse quando recebeu o Prêmio Rei da Espanha, ao classificá-lo como um reconhecimento ao jornalismo que vai para a rua.
Nesta edição 16, infelizmente, não pude ir “à rua”. Escrevi uma reportagem sobre a China sem sair de meu canto no Campeche, onde, entre a rede e o computador, devorei alguns livros, dezenas de sites, fiz algumas entrevistas pelo skype e reativei a memória de minha visita a Hong-Kong e Taiwan no século passado. Mas creio que atingi o objetivo, que não era fazer um tratado, e sim dar algumas pinceladas sobre as mudanças que estão acontecendo por lá e resumir um estudo inédito que vai ser publicado em breve sobre os impactos nos trabalhadores latino-americanos. Ah, as fotos foram feitas in loco. Belas imagens clicadas pela amiga Tatiana Cardeal, que foi à China receber um prêmio de fotografia e aproveitou bem a viagem. Também nesta edição apresentamos uma série de artigos com visões sobre o desenvolvimento que queremos para o Brasil; uma reportagem sobre diálogo social; e a repercussão de Devastação S/A, que saiu na edição 15, sobre o “esquentamento” de madeira ilegal na Amazônia.
Inauguramos também o novo projeto gráfico, de autoria da mesma Tatiana Cardeal. A revista está mais analítica e não traz nada de espetacular desta vez quanto a denúncias (há um artigo polêmico do presidente da Eletrobrás sobre Belo Monte), mas aguarde… Para baixar em pdf ou solicitar um exemplar impresso pelo correio, clique aqui.
28
Apr10
Mais um prêmio
Ontem, em Bento Gonçalves, RS, a Revista do Observatório Social ganhou o Prêmio Fiema de Jornalismo Ambiental na categoria revista, ao qual concorria com a reportagem Devastação S/A, sobre corporações que se beneficiam com o desmatamento ilegal da Amazônia.
Com este são 6 prêmios para reportagens investigativas sobre direitos humanos e meio ambiente em apenas 16 edições, desempenho excelente pra uma publicação do terceiro setor. Fico muito honrado em compartilhar a autoria da matéria com André Campos, Carlos Juliano Barros, Leonardo Sakamoto (esses três, da ong Repórter Brasil), Marques Casara, Paola Bello e Sérgio Vignes.
Para fazer o download da versão completa da revista, clique aqui. [pdf, 1,67 MB]. Se quiser imprimir em resolução melhor, baixe aqui [pdf, 4,84 MB].
p.s.: Na mesma categoria Revista, ficou entre os três finalistas do prêmio o amigo, colega freelancer e vizinho Mauricio Oliveira. Parabéns, meu caro!
18
Apr10
Anotação de leitura: contar é fazer história
Eis um aspecto do trabalho do jornalista que não para de me fascinar e, ao mesmo tempo, de me enquietar. Os fatos não registrados não existem. Quantos massacres, quantos terremotos acontecem no mundo, quantos navios afundam, quantos vulcões entram em erupção e quanta, quanta gente é perseguida, torturada e morta! Se não há alguém para colher o testemunho e escrevê-lo, alguém para fazer uma foto que deixe traços em um livro, é como se aqueles fatos jamais tivessem acontecido! Sofrimentos sem consequência, sem história. Porque a história existe apenas se alguém a conta. É uma triste constatação. Mas é assim que funciona, e é talvez essa mesma ideia a me ligar à profissão – a ideia que com cada pequena descrição de algo visto pode-se deixar uma semente no terreno da memória.
Tiziano Terzani, Um adivinho me disse, p. 64.
18
Apr10
“Roubem nossas histórias”
Por sugestão da @ladyrasta, leio reportagem no Estadão sobre como o Propublica – um site de conteúdo livre sob licença Creative Commons – e uma médica que gosta de escrever ganharam o Pulitzer, prêmio máximo de jornalismo nos Estados Unidos. História inspiradora pra quem acredita na importância do jornalismo investigativo. A médica e repórter Sheri Fink ganhou o Pulitzer com a reportagem As Escolhas Mortais no Memorial, sobre dilema de uma cirurgiã durante o Katrina em New Orleans: a doutora Anna Pou fazia a triagem dos pacientes que se salvariam ao embarcar no helicóptero, única maneira de sair do local na ocasião. O Propublica investe no jornalismo de qualidade, não tem fins lucrativos e libera a reprodução de suas reportagens para quem quiser, inclusive jornais e revistas da mídia impressa.
O difícil de reproduzir no Brasil esse novo modelo, que subverte o conceito tradicional de direito autoral e de produção jornalística, é achar banqueiros, fundações e empresas com visão larga o suficiente para investir em projetos de interesse público nessa área. Por mais fascinante que seja o fenômeno do chamado “jornalismo cidadão“, ele não vai, por si só, salvar a imprensa da queda na qualidade de sua cobertura. Reportagens investigativas custam caro, levam tempo e requerem conhecimento técnico, mas o retorno compensa muito pra sociedade. Como viabilizá-las aqui em pindorama, onde não faltam boas histórias pra contar e maracutaias a serem reveladas? Essa questão transcende o debate entre jornalistas. É de interesse vital pra fortalecer a liberdade e pluralidade de expressão.
03
Apr10