23
May10
Pedagogia do parangolé
Dias 7 e 8 de junho, na PUC de São Paulo, o amigo Marco Silva, doutor em Educação pela UERJ, vai lançar três livros sobre Educação a Distância. O Sala de Aula Interativa completa dez anos na quinta edição, atualizada com posfácio e editada agora pela Loyola. Os outros dois são Educação Online e Ensino-aprendizagem e comunicação. Neste último, ele participa com um artigo sobre infoexclusão do professor e da educação.
Conheci o Marco quando morei no Rio de Janeiro entre 2000 e 2001. Como roteirista, ajudei-o a criar um curso a distância para a Universidade Anhembi-Morumbi, a partir do texto-base do Sala de Aula Interativa. Lembro dos ótimos debates que tivemos sobre o tema, a linguagem e os recursos para estimular os estudantes a distância. Marco é aquele tipo raro de pessoa com quem você tem prazer em trocar ideias. Mesmo quando há divergências, a gente tem ampla liberdade pra argumentar, examinar a situação por ângulos diversos, expor-se à possibilidade de convencer e ser convencido ou, quem sabe, encontrar caminhos que nem estavam na pauta. Um tiquinho teimoso, como eu também, mas aberto a reconhecer erros e considerar sugestões. Perfil maravilhoso para um companheiro de trabalho em EaD, uma atividade instrinsecamente coletiva, em que a capacidade de co-criar é fundamental.
Foi o início de boa parceria que prosseguiu por alguns anos e se transformou em amizade (tive a honra de acompanhar seu namoro com a baianíssima Méa, também pesquisadora de EaD, evoluir pra união que resultou numa filha linda). Voltamos a trabalhar juntos na adaptação desse primeiro livro para outro contexto. E em duas ocasiões, a convite dele, dividimos uma disciplina num curso de pós-graduação em design instrucional, no Senai de Lauro de Freitas, cidade vizinha a Salvador.
Marco aborda com conhecimento de causa e desenvoltura diversos temas ligados à teoria e prática da educação a distância. Sua obra é libertária (o que me encantou de cara), ao advogar o envolvimento de professores e estudantes em uma educação verdadeiramente interativa e dialógica, que rompa com a prática da transmissão. Tudo a ver com Paulo Freire, claro.
Um dos grandes inspiradores de Marco é o artista plástico Hélio Oiticica, em especial o parangolé (não confundir com a banda de axé da Bahia), obra subversiva em forma de capa, que só revela suas cores, dobras e texturas na plenitude quando alguém a veste e se move – de preferência, dançando. Metáfora perfeita pra um modo de educar que preconiza o incentivo à autoria e a apropriação da tecnologia pelos estudantes.
A chave da questão não está nos gadgets e widgets que sempre tem alguém tentando nos empurrar, mas nas pessoas. E na maneira como é possível usar essas ferramentas a nosso favor. Recomendo a “pedagogia do parangolé” a todos os professores, formais ou não – tanto os que ainda se sentem intimidados ou de “pé atrás” diante das novas tecnologias de comunicação, quanto os que já captaram suas ricas possibilidades e desejam ir além.