05
Sep10
Impasse: entrevista com os diretores
Entrevistei Juliana Kroeger e Fernando Evangelista sobre o documentário Impasse, que eles vão lançar no dia 16 às 19h30 na Reitoria da UFSC. O filme mostra as manifestações estudantis contra o aumento nas tarifas de ônibus de Florianópolis e aborda a questão da mobilidade urbana. Ju enfatiza a importância de se fazer um jornalismo honesto, buscando sempre “a melhor versão da verdade”. Fernando conta como se surpreendeu com o tom das manifestações, cheias de arte e riso. Outro fato marcante pra eles foi o assustador despreparo do poder público. Durante a cobertura, alguns integrantes da equipe de filmagem foram atingidos por disparos de taser, armas de choque que a PM parece usar como brinquedinhos e que, em certas circunstâncias, podem ser fatais.
O que motivou vocês a fazer o filme?
Juliana: A importância, a urgência e a proximidade do tema.
De que forma a experiência de vocês em coberturas de zonas de conflito foi útil na realização deste documentário?
Juliana: Uma coisa importante em qualquer conflito, eu acredito, é mostrar que você é jornalista. Você não é policial, não é militante, não é estudante, você está ali para ouvir todos os lados e reproduzir o que você está vendo, ouvindo e sentindo da maneira mais honesta possível. Você está ali para relatar, como disse Carl Bernstein, um dos repórteres do Caso Watergate, “a melhor versão possível da verdade”. Ser jornalista, na hora da confusão braba, às vezes serve de proteção, outras vezes não. Nesse caso específico, serviu. Conseguimos fazer nosso trabalho sem restrições. O único problema é que, principalmente nos primeiros dias, a manifestação estava infestada de policiais se passando por jornalista e alguns estudantes ficavam desconfiados com a gente. Tomamos o cuidado de usar sempre o crachá da Doc Dois e levar nossa carteira de jornalista. Dessa vez, pela experiência, íamos acompanhando as manifestações já prevendo para onde correr em caso de conflito, mas tendo sempre em mente que só podemos fazer boas imagens se estamos muito próximos. Em 2004, na chamada “Revolta da Catraca”, fui atingida por uma bala de borracha. Neste ano, saímos ilesos, mas alguns integrantes da nossa equipe foram atingidos com tasers, as armas de choque. O fotógrafo Hans Denis recebeu um choque no estômago e o cinegrafista Carlos Cazé recebeu um choque nas costas.
Não é raro que documentaristas comecem um projeto com uma idealização da realidade e essa imagem se transforme durante a apuração. Isso aconteceu com Impasse ou vocês confirmaram a hipótese inicial? Quais foram as surpresas do caminho?
Fernando: Uma das coisas mais fascinantes do trabalho jornalístico, pra mim, é essa surpresa diante da realidade. É esbarrar com alguma coisa que não estava prevista, é sair do roteiro, é encontrar pessoas ou fatos que nos façam perceber determinada realidade de forma diferente. Eliane Brum tem um texto lindo sobre isso. Ela diz que o grande barato de ser repórter é a surpresa diante do mundo. Minha primeira surpresa foi ver um pessoal muito jovem, boa parte secundarista, fazendo política com bom humor e com criatividade. Aquela coisa das caras amarradas, punhos cerrados, nesse movimento daqui, pelo menos nas cinco semanas de manifestações, foi substituída pela leveza, pela arte e pelo riso. É um movimento sem líderes fixos, totalmente horizontal, sem ligação com partidos políticos. Isso me surpreendeu de verdade. Eles viraram de cabeça para baixo aquela forma de luta que eu conhecia. Quando começamos a gravar, pensei que os atos estavam sendo organizados pelo Movimento Passe Livre. Não estavam. Também não sabia que o Movimento Passe Livre não luta mais pelo Passe Livre, mas pela Tarifa Zero. Não sabia nada sobre a política da Tarifa Zero. Não sabia que 38 milhões de brasileiros não podem pegar ônibus por causa das tarifas e nunca tinha pensado que o transporte público, na verdade, não é público. Se você não tem dinheiro para pagar a educação do seu filho, você tem a possibilidade de colocá-lo numa escola pública. Você tem a saúde pública, através do SUS, você tem a segurança pública, mas o transporte, não. O transporte tem que ser pago. Nunca tinha pensado nisso. E me surpreendeu ainda a incapacidade desses jovens, tão criativos, de unir forças com os trabalhadores do transporte, com os motoristas e cobradores. Existe um oceano separando essas duas forças. Além disso, muitos deles continuam vendo a polícia como o principal oponente, mas isso não me surpreendeu.
O que mais lhes chamou a atenção na postura do poder público e na cobertura da mídia sobre os conflitos? O que o filme agrega de diferencial?
Fernando: Sobre a postura do poder público, me surpreendeu a incrível falta de tato, de jogo de cintura e de inteligência mesmo. Um despreparo assustador e explícito. Sobre a cobertura da mídia, apesar de não ter acompanhado atentamente, acho que foi melhor do que a cobertura de 2005. Nosso documentário faz a cobertura das manifestações, da ação da polícia, com um pouco mais de profundidade do que tem passado nas tevês, até porque na televisão temos matérias e nossa história é documentário, então a diferença começa pelo tempo. E, segundo, acho que tem uma diferença de abordagem. Um exemplo: temos bem claro que uma das funções do jornalismo é fiscalizar o poder, seja ele qual for. Isso poder parecer arrogante e pretensioso, mas não vejo isso na grande mídia hoje em dia. Não vejo nem na grande mídia, marcadamente de direita, nem vejo no que se convencionou chamar de imprensa alternativa ou independente, tradicionalmente de esquerda. Pra mim, tanto um lado quanto outro, com honrosas exceções, têm usado seus espaços para fazer propaganda ideológica e não jornalismo. E, agora, em época de eleição, isso está cada vez mais evidente. É Fla-Flu midiático, muito apaixonado e pouco objetivo.
Na avaliação de vocês, por onde passam as soluções para o impasse na crise de mobilidade urbana de Florianópolis? Que ensinamentos esse conflito pode dar para outras cidades que enfrentam o problema?
Fernando: Fazer viadutos, faixas especiais para os ônibus etc. etc. são medidas importantes, mas insuficientes, paliativas. Tem que se investir, de fato, no transporte coletivo. Um dos nossos entrevistados, Lúcio Gregori, engenheiro e criador do projeto Tarifa Zero, afirma que o transporte coletivo só poderá “concorrer” com o carro, quando ele for muito bom e muito barato. Aí a gente tem o exemplo da cidade de Hasselt, na Bélgica, que adotou o Tarifa Zero. Em dez anos, o uso transporte público aumento mais de 1.000%. As pessoas deixaram de andar de carro para andar de ônibus e, lógico, a mobilidade urbana melhorou consideravelmente. Para que isso aconteça, acho que o primeiro passo é o Estado assumir essa atividade. Mas quem pagaria esse transporte gratuito? Como seria feito? A gente toca nessas questões no documentário, mas o foco mesmo do nosso trabalho acabou sendo as manifestações.
Entrevista ilustrada com fotos de Denis Schneider, Juliana Kroeger, Pedro Machado e Daisy Schio.
Estamos em um país em teoria democrático, mas onde esta a democracia.
Pois bem trabalhei nas manifestações, fotografando ambos os lados. E contradizendo o comentário que o Policial Thiago fez no site do Jornalista Dauro Veras.
Mesmo nós da imprensa fomos acuados e muitas vezes, levamos “cacetadas” ou até mesmo como disse o ínclito secretario de Segurança Pública em entrevista e exibido no documentário impasse, até mesmo choque colegas da imprensa levaram.
Agora uma indagação eu faço a corporação protetora da sociedade a policia militar de Santa Catarina, quando um policial bate ou direciona o taser de forma irresponsável a um jornalista ou mesmo manifestantes e transeuntes que não tinham nada a ver com o fato em si.
Qual era o receio dos policiais serem atingidos por uma objetiva “assassina” que talvez por um melancólico truque do destino venha a cegá-los ou talvez a fazê-los ver as atrocidades que são justificadas com a muleta desacato, mas a máxima da ditadura ainda é valida “estou de farda tenho aprovação social”.
Caro Thiago,
Agradeço a sua contribuição. Acho importante que diferentes pontos de vista sejam apresentados quando ocorre uma situação de conflito. O documentário, que tive oportunidade de ver na quarta-feira, mostra diversos depoimentos de policiais que relatam ter levado pedradas e chutes. Sim, houve patrimônio público e privado depredado. Mas as imagens também são claras ao mostrar excessos da PM, agressões a pessoas desarmadas ou já imobilizadas no chão.
Um dos líderes estudantis fala uma coisa importante quando diz que ao movimento interessa é fazer política, não enfrentar a polícia. Há coisas muito importantes em jogo, que mexem com a vida de todos os cidadãos. Enfim, o documentário abre a oportunidade para o debate sobre transporte, segurança pública direito de expressão e de locomoção. Espero que com isso a gente avance e possa ter um transporte público barato e de qualidade. E também uma polícia melhor, com mais recursos de inteligêncie e mais preparada para lidar com movimentos sociais. Grato pelo seu relato.
Caro Dauro,
Navegando pela NET me deparei com a sua matéria. Primeiramente, parabéns!! Está bem escrita. No entanto, relato que sou policial e participei ativamente da segurança pública durante as manifestações. O primeiro ponto que queria me referir remete à liderança do moviemntos, o comentado movimento havia liderança sim, inclusive das mesmas pessoas que em anos anteriores em movimentos sociais similares se colocaram a frente. Segundo, o Movimento era o Movimento Passe Livre sim, olhe as filmagens, olhem as faixas, olhem quem estavam no comando das ações. A própria página do MPL na net divulgava as ações. Terceiro, a polícia tolerou até a última, evitou o confronto e buscou o diálogo, mas quando o diálogo não traz soluções e a ordem pública é pertubada em grande magnitude, desconsiderando as autoridades presentes, a força se faz necessária. Quarto, o ato não foi pacífico, talvez pelo bom Deus não restei cego. Isso mesmo, cego. Afinal, se uma das três bolas de gudes atingissem o meu olho e não o capacete, outro não seria o resultado. Na próxima vez peço para aquele que ousa discordar ficar ao meu lado, com certeza, prepar para levar chutes e socos, ou as bolas de gude. Quinto, agressão? Ontem estava num bar e um amigo me relatou… te vi no jornal, poxa cena forte… referia-se a uma foto no diário em que detive um adolescente que havia me chutado e por estar com o braço quebrado e ligamento rompidos(isso mesmo, a cidade estava num caos e na minha condição ou função mesmo com o braço quebrado e ligamentos rompidos eu trabalhei em prol de uma sociedade que não reconhece), não me restou imobilizá-lo com uma chave utilizando apenas uma das mãos. Veiculam como violência, interessante questionar ao detido se ele foi em algum momento agredido ou apanhou, antes de veicular minha imagem de forma irresponsável.
Por fim, desejo apenas que sejamos sinceros e leais com a verdade.
A materia esta muito bem escrita e esclarecida e bem informativa! eu adorei!
Francisco, discordo por completo da sua opinião, mas fico contente em publicá-la. O nome disso é pluralidade, e é o que tem faltado no debate sobre o sistema de transporte na nossa cidade.
AGÊNCIAS BANCÁRIAS FORAM DANIFICADAS, MAIS DE VINTE EQUIPAMENTOS PÚBLICOS DE COLETA DE LIXO FORAM DESTRUÍDOS, PEDRAS E ROJÕES FORAM ATIRADOS CONTRA A POLÍCIA E QUEM MAIS ESTIVESSE NA FRENTE. RUAS FORAM BLOQUEADAS, PESSOAS FORAM AGREDIDAS E INSULTADAS, POIS, O OBJETIVO ERA FAZER DE FLORIANóPOLIS UMA CIDADE SITIADA.
QUADRILHAS COMANDADAS POR GRUPELHOS DE ESTUDANTES, INTERESSADOS EM GALGAR POSIÇÕES EM PARTIDOS E/OU SINDICATOS, VÊM SITIANDO PRÉDIOS PÚBLICOS, UNIVERSIDADES E RUAS, PROMOVENDO QUEBRADEIRAS, AGRESSÕES, DESTRUINDO PATRIMÔNIO PÚBLICO E PRIVADO.
OS ÚNICOS DIREITOS HUMANOS VIOLADOS FORAM, PORTANTO, OS DA POPULAÇÃO QUE PRECISA TRABALHAR, ESTUDAR, IR E VIR.
O DEVER DO ESTADO É DEFENDER A POPULAÇÃO – NÃO IMPORTA QUEM SEJAM OS AGRESSORES.
A POLÍCIA AGIU DE FORMA PROPORCIONAL, EM DEFESA DA SOCIEDADE, EM DEFESA DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO, EM DEFESA DA POPULAÇÃO.
A SOCIEDADE NÃO PODE SER REFÉM DE QUADRILHAS AUTO-INTITULADAS “MOVIMENTOS SOCIAIS” QUE AGEM EM FUNÇÃO DE INTERESSES PESSOAIS DE DONOS DE PARTIDOS OU SINDICATOS.
A POLÍCIA USOU A ARMA TASER? PARABÉNS! USOU TECNOLOGIA MODERNA, SEGURA, AUDITÁVEL E PROPORCIONAL.