24
Dec12
DVeras Awards 2012: livros
Poucas e boas leituras em 2012. Vamos à retrospectiva. Em janeiro, ainda sob efeito estupefaciante de uma viagem ao sul da Argentina, devorei Fin de novela en Patagônia, de Mempo Giardinelli, de quem eu já conhecia Revolução de bicicleta e Luna caliente. Fevereiro me encontrou às voltas com Sir Richard Francis Burton, de Edward Rice, biografia do explorador, escritor e agente secreto britânico que, entre outras façanhas, foi o primeiro ocidental a fazer a peregrinação a Meca, traduziu Mil e Uma Noites e o Kama-Sutra. Em março, li o excelente livreto Wabi-sabi for Artists, Designers, Poets & Philosophers (Leonard Koren), emprestado pelo Fabrício Boppré e inspiração estética pro design deste blog. O caderno de Maya (Isabel Allende) está longe de ser o melhor da escritora chilena, mas gostei porque se passa na Ilha de Chiloé, que visitamos alguns meses antes. Junho foi um mês de dois tesouros: Coisas frágeis, ótimo livro de contos fantásticos de Neil Gaiman, e o clássico Walden, do “avô” dos ambientalistas, H.D. Thoreau.
O segundo semestre começou com o excelente A elegância do ouriço, da francesa Muriel Barbery, sobre uma culta zeladora de um prédio de classe alta em Paris, que se passa por ignorante, e seu relacionamento com uma menina que planeja se suicidar. Virou filme, que ainda não vi. Seguiram-se quatro romances policiais de Jo Nesbø e seu detetive Harry Hole – uma grata surpresa neste gênero, vinda da Noruega (dica da Regininha Carvalho e dos meus amigos noruegueses). Um livro visceral foi Gomorra, reportagem que colocou o jornalista italiano Roberto Saviano na lista dos jurados de morte da Camorra (merci Michel et Cecilia). Gostei muito de La suma de los dias, memórias de Isabel Allende. Uma das melhores surpresas literárias do ano para mim foi Barba ensopada de sangue, de Daniel Galera, romance ao mesmo tempo intimista e com pitadas de suspense (dica do Chico Faganello). Dele eu já tinha lido o ótimo Mãos de cavalo. Este novo romance reforçou minha impressão de que estamos diante de um grande talento e que ainda vamos ouvir falar muito dele.
Meus hábitos anárquicos e o pique de trabalho me impediram de ler vários livros de amigos, que estão na fila. Pelo que conheço do que escrevem, vão me dar bastante prazer. Comecei e deixei inacabados outros tantos: Hunger (Knut Hamsum), Autobiografia (Agatha Christie), A espuma dos dias (Boris Vian) e A marcha para o Oeste (Orlando Villas Bôas e Cláudio Villas Bôas). No momento, tenho nas mãos o saboroso Vida de Escritor, autobiografia de Gay Talese, um dos pais do new journalism americano. Que em 2013 eu tenha tempo, sorte e disciplina pra lê-los todos.
Mas vamos ao premiado. O ganhador do DVeras Awards 2012 na categoria livros é… Walden, de H.D. Thoreau, que sublinhei com deleite durante toda a leitura. Mesmo reconhecendo que o livro tem alguns trechos chatos, com excesso descritivo, recomendo pela profundidade e originalidade das ideias. É uma daquelas obras que deixam marcas no leitor que busca algo além do senso comum da existência. Em segundo lugar, Sir Richard Francis Burton, pela construção primorosa da biografia desse personagem extraordinário. E em terceiro, Barba ensopada de sangue, um romance com linguagem ágil, especialmente nos diálogos, que flui como as ondas do mar de Garopaba, onde se passa a história.
01
Dec11
DVeras Awards: livros marcantes em 2011
Este ano, por vários motivos nada edificantes, li pouco e de maneira dispersa. Mas a paixão permaneceu acesa e tive a sorte de degustar algumas obras de primeira. As mais marcantes:
5. A trégua (Primo Levi). Reminiscências da libertação do autor do campo de Auschwitz e do período que passou perambulando pelas estradas e acampamentos da Polônia e Rússia, até ser repatriado para a Itália. Um autêntico romance on the road, forte e belo.
4. O orientalista (Tom Reiss). Biografia de Lev Nussimbaum, um genial e obscuro escritor judeu que se passou por príncipe muçulmano durante o nazismo. O autor passou anos debruçado em romances, cartas e testemunhos para reconstituir a história desse sujeito extraordinário que reinventou a própria vida.
3. Mãos de cavalo (Daniel Galera). Romance bem construído com base na infância e adolescência do autor num bairro da periferia de Porto Alegre. A prosa flui solta, coloquial, os personagens são densos. Já tinha lido uns contos dele e tive ótima impressão deste livro. Galera sabe o que faz.
2. Quase Tudo (Danuza Leão). Eu gostaria imensamente de tomar champanhe com Danuza e ouvir de sua boca histórias saborosas e tocantes como as que encontrei nessas páginas. A cena final, vivida em Paris, é belíssima.
E o livro que ganha o DVeras Awards 2011 é…
O caderno vermelho: histórias reais (Paul Auster). Sou fã de Auster há tempo. Fiquei fascinado por este livrinho de histórias curtas em que ele descreve, sem pirotecnias linguísticas ou frescuras de estilo, alguns fatos bizarros e curiosos que viveu, presenciou ou ouviu dos amigos e família. Um mergulho despretensioso, conciso e bem humorado no mistério do cotidiano, dos encontros e desencontros de amantes, das coincidências, das escapadas da tragédia por um triz. Esse livro lembra um pouco um outro, de mais fôlego, que ele organizou com histórias de ouvintes do seu programa de rádio, e que também recomendo: Achei que meu pai fosse Deus.
30
Nov11
DVeras Awards: livros não terminados em 2011
Dezembro começa amanhã e, com ele, o curioso fenômeno da compressão do tempo, em que as pessoas tentam se livrar em duas semanas do que precisariam do mês inteiro pra fazer. Vou mais além nesse esforço em prol do verão ocioso: até o dia 10 pretendo fechar a birosca pra balanço. Isso pede o lançamento imediato de uma nova edição do DVeras Awards – a consagrada lista de top 5 sobre assuntos aleatórios, escolhida pelo júri do eu-mesmo. O prêmio aos laureados é minha eterna admiração.
Comecemos por uma nova categoria: a dos livros que não consegui terminar em 2011. Chegar à página final deles vai entrar na minha lista de modestas intenções para 2012 – nada de “resoluções” a serem esquecidas antes do carnaval. Estou amparado pelo decálogo dos direitos inalienáveis do leitor, item 3. Se você também tem pendências livrescas, meu conselho é descartar a culpa e agarrar algo melhor – até mesmo outro livro. Um dia você retoma a obra encostada. Ou ela fica pra trás e você encontra outra. Sem mais delongas, a lista:
5. O primeiro terço (Neal Cassady)
O autor, que inspirou Kerouac a criar o maravilhoso Dean Moriarty de On the road, escrevia com vitalidade. Aqui, conta a história da própria vida – curta, aliás. Ainda estou na parte dos avós e pais, bando de malucos que nasceram pra virar personagens. Esqueci o livro em algum canto da casa e ele voltou pra estante. A gente se vê por aí.
4. Hunger (Knut Hamsum)
Presente dos queridos Eirik e Hélène, junto com outros dois romances do autor norueguês. O prefácio é de Paul Auster, de quem sou fã confesso – aguarde o próximo DVeras Awards. A fome está em inglês e parece ter sido esculpido frase a frase. A capa é linda, o cheiro é bom. Comecei devagar, parando pra consultar o dicionário. Fui à geladeira e resolvi dar um tempo.
3. Walden (H.D. Thoreau)
Um clássico. Tenho um pouco de medo do seu poder subversivo mudar minha vida. Mas aí penso: como a minha vida vai mudar mesmo, com ou sem Walden, então que seja com ele.
2. Sir Richard Francis Burton (Edward Rice)
Gamei nessa biografia do aventureiro britânico que falava 29 línguas, rodou o mundo e trouxe o Kama Sutra e As mil e uma noites pra Europa. Rice pesquisou por 18 anos e refez o caminho de Burton pra escrever o livro. É meu atual companheiro de cabeceira, em doses homeopáticas pra durar mais tempo.
E o prêmio de melhor livro não lido em 2011 vai para…
Os últimos soldados da guerra fria, de Fernando Morais. Nem comecei ainda, mas deve chegar pelo correio a qualquer momento. É quase certo que vai me fazer interromper todos os outros, assim como são grandes as chances de não terminá-lo antes de 31 de dezembro. Estou em boa companhia pra começar 2012.