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Dec13
DVeras Awards 2013: livros
Chegou mais um dezembro. O blog mantém a tradição e apresenta a lista de queridinhos do ano em várias categorias. Pra quem toma contato com o DVeras Awards pela primeira vez, segue um resumo dos critérios, pelo que me lembro:
- O único responsável pelas escolhas sou eu mesmo, ditador benevolente deste blog.
- Em caso de empate, é utilizado o método científico do arremesso de moeda para o alto.
- O prêmio aos contemplados é a visibilidade entre meus 17 leitores, todos formadores de opinião.
Vamos à primeira categoria: livros. Em 2013, encarei 22 livros e estou avançando em outros sete – mais que no ano anterior, menos do que eu gostaria. Nesta conta, não incluo dezenas de leituras transversais relacionadas a pesquisas de trabalho. A grande novidade do ano é o suporte tecnológico. Rendi-me ao e-book e tenho convivido com muitos livros no tablet Samsung Galaxy de sete polegadas – um formato confortável pra ler na rede, no ônibus ou numa casinha de sapê. Sem mais delongas, a lista dos contemplados é esta:
3. Vida de escritor (Gay Talese). É uma combinação de autobiografia com algumas histórias levantadas por ele que terminaram não sendo publicadas. Ou por rejeição do editor, ou porque Talese não sabia o caminho a tomar e decidiu abandonar o projeto. Ele tem fascínio por personagens anônimos e pelos que fracassam. Um resumo do posfácio de Mário Sérgio Conti: “Vida de escritor traz precisamente o que o título enuncia: um relato do calvário. … O livro não tem nada de condescendente nem conformista. Os seus assuntos são o trabalho e o fracasso. … Ao mostrar as frustrações do relato de apurar e relatar, Talese desmistifica o jornalismo”.
2. Norwegian Wood (Haruki Murakami). Uma das minhas melhores descobertas de 2013. Murakami consegue fazer uma ponte entre a cultura japonesa e a ocidental em um romance que flui como água, sem truques rebuscados de estilo. Depois do livro, vi o filme (de Tran Anh Hung) e também curti muito. Em seguida devorei a distopia 1Q84, em três volumes, e comecei Minha querida Sputnik. Uma boa síntese da narrativa de Norwegian Wood, na Wikipedia:
“No agitado Japão dos anos 60 o jovem Toru Watanabe mistura uma existência sem perspectivas às primeiras questões filosóficas e afetivas ao se envolver com a namorada de seu melhor amigo recém falecido, [com] uma estudante de ideias libertárias e [com] uma mulher mais velha. Repleto de referências pop com citações aos Beatles, Bill Evans, Miles Davis, literatura norte-americana, cinema e cultura europeia, o romance de Murakami cria um delicado – e por vezes cruel – retrato da geração que passou quebrando tabus nos anos 60 e 70 e viu todo um sonho ruim [sic; ruir, né?] nas décadas seguintes.”
E o vencedor do DVeras Awards 2013 é…
1. O sentido de um fim, de Julian Barnes. Ainda estou sob impacto desse livrinho de 160 páginas, vencedor do Man Booker Prize de 2011. As armadilhas da memória são o pano de fundo do romance. Tony Webster, um pacato sexagenário inglês, recorda os tempos de adolescência e juventude, tentando reconstituir retalhos da passagem pela escola, do relacionamento com os três amigos mais chegados, das suas primeiras experiências com mulheres. Um desencanto afetivo o acompanha e ele tenta compreender o que ocorreu, pra seguir em frente. “O que você acaba lembrando nem sempre é a mesma coisa que viu”, é uma de suas frases, mencionada na resenha da editora Rocco, que o publica no Brasil.
Este é o segundo livro de Barnes que leio – em 2001, li Do outro lado da Mancha, uma deliciosa coletânea de histórias sobre britânicos que foram viver na França. Assim como o texto do japa Murakami, o de Barnes flui sem pirotecnias, conduzindo o leitor como se cada frase fosse ligada à outra por fios invisíveis. Ao longo da leitura de O sentido de um fim, anotei trechos como estes:
“Mas o tempo… como o tempo primeiro nos prende e depois nos confunde. Nós achamos que estávamos sendo maduros quando só estávamos sendo prudentes. Nós imaginamos que estávamos sendo responsáveis, mas estávamos sendo apenas covardes. O que chamamos de realismo era apenas uma forma de evitar as coisas em vez de encará-las. O tempo… nos dá tempo suficiente para que nossas decisões mais fundamentadas pareçam hesitações, nossas certezas, meros caprichos.”~“Eu sem dúvida acredito que todos nós sofremos traumas, de um jeito ou de outro. Como não sofreríamos, a não ser num mundo com pais, irmãos, vizinhos e amigos perfeitos? E há também a questão, da qual tanta coisa depende, de como nós reagimos ao trauma: se o admitimos ou reprimimos, e como ele afeta a nossa forma de lidar com os outros. Alguns admitem o trauma e tentam atenuá-lo; alguns passam a vida tentando ajudar outras pessoas que foram traumatizadas; e há aqueles cuja principal preocupação é evitar sofrer mais traumas, a qualquer custo. E estes é que são cruéis, é deles que temos que nos precaver”.~“Naquela época, nos imaginávamos presos numa espécie de gaiola, esperando para sermos soltos na vida. E quando esse momento chegasse, as nossas vidas – e o próprio tempo – iriam se acelerar. Como poderíamos saber que nossas vidas já tinham começado, que algum benefício já havia sido obtido, algum dano já havia sido causado? E, também, que seríamos soltos numa gaiola apenas maior, cujas fronteiras a princípio seriam imperceptíveis.”