Complexo industrial da saúde atrai investimentos para o Brasil
Dauro Veras
Para o Valor, de Florianópolis

Márcio Coelho, presidente da Johnson&Johnson Medical Brasil: “Temos um projeto de expansão para levar a presença da nossa tecnologia a outras regiões”
O Brasil é um destino promissor para corporações que atuam com produtos e equipamentos de saúde. Com 13 mil empresas que faturam R$ 16 bilhões e crescem em média 10% ao ano, o país ocupa a sétima posição neste mercado, atrás apenas da China entre os países emergentes. Grandes grupos multinacionais têm realizado aquisições e implantado fábricas aqui para apoiar suas estratégias, o que abre oportunidades para fornecedores locais. O crescimento da demanda por bens e serviços de saúde se deve em parte à elevação da renda e à sua melhor distribuição. Outro motivo é o envelhecimento dos brasileiros. As doenças crônicas e degenerativas, que requerem mais equipamentos de diagnóstico e tratamento precoce, já correspondem a dois terços das enfermidades no país.
“Temos 14 milhões de idosos e daqui a seis anos, esse número vai duplicar”, diz o presidente executivo da Abimed (Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Equipamentos, Produtos e Suprimentos Médico-Hospitalares), Carlos Goulart. “A ascensão social faz com que a população se torne mais exigente e busque qualidade de vida, o que interessa às grandes empresas”. Na avaliação dele, existe um grande espaço para crescimento da atividade, que se caracteriza pela diversidade de indústrias e produtos, por um curto ciclo de inovação – 18 meses em média – e por uma intensa troca comercial entre países.
Hoje o Brasil está em 17º. lugar no ranking dos importadores de equipamentos médicos e em 35º. entre os exportadores. Nos últimos seis anos, os gastos com saúde no país aumentaram em um ritmo anual médio de 15%, e com produtos, 10%. Pouco mais da metade das compras têm sido feitas pelo setor privado, cujo número de usuários dobrou entre 2000 e 2012, passando a 50 milhões de pessoas. O SUS (Sistema Único de Saúde), maior sistema de saúde pública do mundo, também está no radar dos fabricantes, que disputam o atendimento das demandas de instituições federais, estaduais e municipais.
É o caso da americana GE Healthcare, que há quatro anos iniciou um programa de investimentos para nacionalizar produtos. Em 2010, a corporação comprou uma fábrica de aparelhos de raios-X em Contagem (MG), onde planeja investir R$ 75 milhões até 2018. Nos últimos dois anos, adquiriu a XPro, que atua com cateterismo cardiovascular, e a Omnimed, fabricante de monitores das funções vitais. “O governo responde por 55% do mercado de diagnóstico por imagens e está buscando equipamentos robustos para cobrir mais áreas do território”, diz o vice-presidente da empresa para a América Latina, Daurio Speranzini Júnior. “Estamos dando acesso à população de outras regiões a equipamentos antes disponíveis apenas nos grandes hospitais privados”. As prioridades da GE para 2014 incluem uma nova aquisição de empresa e a ampliação da produção nacional.
A Philips Healthcare também considera o Brasil um mercado estratégico. “Nossa ideia é transformar o país em uma plataforma de exportação para o continente”, diz o vice-presidente para a América Latina, Vitor Rocha. Entre 2007 e 2010, o grupo de origem holandesa adquiriu quatro empresas da área: a VM Sistemas Médicos, líder em equipamentos e sistemas de diagnóstico por imagem: a Dixtal, um dos principais fabricantes brasileiros de aparelhos de monitoramento de pacientes; a Tcso Informática e a Wheb Sistemas, focada em informação clínica. Em janeiro, a Philips lançou um aplicativo de gestão hospitalar que dá acesso às informações do paciente por meio de dispositivos móveis.
Nos próximos dois anos, a Johnson&Johnson Medical Brasil pretende lançar 26 novos produtos de tecnologia médica no país. Um grampeador cirúrgico que substitui a sutura manual de tecidos será fabricado pelo laboratório público Furp (Fundação para o Remédio Popular), por meio de um acordo de transferência de tecnologia. Entre os outros produtos estão um fio cirúrgico com “âncoras” microscópicas, um bisturi que diminui o sangramento dos tecidos e um cateter para tratar arritmia cardíaca. “Temos um projeto de expansão para levar a presença da nossa tecnologia para outras regiões”, diz o presidente Márcio Coelho. Até junho, a J&J irá inaugurar em Recife um centro de formação profissional – satélite de um já existente em São Paulo – para treinar mil profissionais de saúde por ano.

Marcus Martins, diretor do Hospital Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro: sala híbrida combina o uso de diferentes equipamentos para exames e atendimentos complexos.
A americana Varian Medical Systems, líder em dispositivos para tratamento de câncer, também pretende investir na formação de médicos no Brasil. Seu plano é criar um centro de treinamento para o uso de tecnologia avançada em radioterapia. Os equipamentos da empresa estão presentes em várias instituições de referência no tratamento do câncer, como o Instituto Nacional do Câncer, no Rio de Janeiro, o Hospital Israelita Albert Einstein, o Hospital Sírio Libanês e o Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo.
Também na área de equipamentos para combate ao câncer, um investidor de grande porte no país é a Siemens. Em agosto de 2013, o grupo alemão inaugurou em Joinville (SC) uma fábrica de R$ 50 milhões, onde produz aparelhos de raios-X, tomografia computadorizada e ressonância magnética. Entre as inovações tecnológicas fornecidas pela empresa está um mamógrafo que capta imagens em 3D, possibilitando diagnósticos mais precisos.
A St.Jude Medical Brasil, de origem americana, tem uma unidade industrial em Belo Horizonte, onde fabrica quatro linhas de produtos: válvulas biológicas para cirurgias cardíacas, feitas com tecido suíno e bovino; próteses para corrigir problemas no coração; neuroestimuladores para tratar dor, e equipamentos de eletrofisiologia para eliminar arritmias. Entre 90% e 95% da produção vão para o mercado externo. “Daqui a um ano, vamos lançar no Brasil o primeiro marcapasso do mundo sem eletrodo (fio)”, diz o presidente Kurt Kaninski. Ele afirma que a empresa está aberta a fazer novos investimentos.
A adoção de soluções integradas envolvendo tecnologias da informação e comunicação é outra forte tendência. Em junho de 2013, o Pró-Cardíaco, hospital privado do Rio de Janeiro, instalou um recurso pioneiro no país: a sala híbrida, um centro cirúrgico de 77 m² que combina o uso de diferentes equipamentos para exames e atendimentos complexos. Um sistema de monitores de áudio e vídeo de alta resolução possibilita o acompanhamento das cirurgias a distância. “Quanto mais rápido o reconhecimento e intervenção, melhores são as chances para o paciente”, diz o diretor do hospital, Marcus Martins.
Empresários querem mais agilidade no registro de produtos
Os empreendedores brasileiros reconhecem o mérito dos programas governamentais de apoio à indústria de equipamentos de saúde, mas reivindicam maior controle sobre a nacionalização dos produtos. “Quando os requisitos são descumpridos, isso prejudica a indústria do país, pois o desenvolvimento continua nos polos das grandes multinacionais”, diz Walmoli Gerber, diretor da Vertical de Saúde da Acate (Associação Catarinense das Empresas de Tecnologia), grupo formado por 16 empresas de pequeno e médio porte que buscam integrar suas ações. Morosidade e burocratização no registro de empresas e produtos são outros empecilhos a superar.
“Um processo chega a tramitar por dois anos na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)” afirma Gerber. “O segmento médico-hospitalar no Brasil, apesar de extraordinariamente promissor, é atrapalhado pela regulamentação, pois os investidores fogem dos produtos não cadastrados e querem retorno em curto prazo”. Segundo as normas da agência reguladora, toda empresa do setor precisa ter uma autorização de funcionamento e para cada produto deve haver um registro sanitário comprovando sua eficiência e segurança. O registro de novos produtos requer também uma certificação de boas práticas, concedida mediante inspeção física na linha de fabricação. Essas regras são iguais para empresas nacionais e estrangeiras.
A crítica é endossada por Roberto Ribeiro da Cruz, CEO da Pixeon Medical Systems, fabricante brasileira de sistemas para diagnóstico por imagens. Para ele, o aumento na eficiência do órgão regulador elevaria o nível de competição. “Levamos dois anos para desenvolver um software de orientação ao diagnóstico de câncer pulmonar e o processo de registro está parado há um ano”, conta. “Por outro lado, isso é uma barreira de entrada no mercado, pois há um enorme número de empresas operando na ilegalidade”. No final de 2013, a Pixeon recebeu um aporte de R$ 30 milhões do fundo de investimentos americano Riverwood Capital para investir no aumento da capilaridade comercial e construir uma plataforma de distribuição de imagens médicas via computação em nuvem. Outros R$ 20 milhões serão concretizados em três anos.
“A burocracia e o prazo longo fazem com que só consigamos trazer um produto para o Brasil quando já estão surgindo inovações lá fora”, diz Cláudia Cohn, diretora da Alta Excelência Diagnóstica, marca da prestadora de serviços Dasa, que importa equipamentos para 519 unidades ambulatoriais privadas em 13 estados. Cláudia, que também é presidente da Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica), defende o trabalho conjunto de todos os atores da cadeia de valor para que o prazo possa ser reduzido
A Anvisa esclarece que coloca como prioridade a resolução dos atrasos. O plano de trabalho firmado com o Ministério da Saúde prevê “prazo médio da primeira manifestação de análise das petições de cadastro e registro de produtos para a saúde abaixo dos 90 dias” e “zerar os processos em estoque há mais de 180 dias sem a primeira análise”. Outra medida adotada pela agência em 2013 foi a inclusão de fiscais das vigilâncias sanitárias locais nas inspeções internacionais, o que aumenta a força de trabalho disponível nessas inspeções, necessárias para que determinados produtos possam ter acesso ao mercado brasileiro.
Desde janeiro, informa a agência, começou a funcionar o projeto-piloto do Programa de Auditoria Única em Produtos para a Saúde (MDSAP na sigla em inglês). A iniciativa multilateral tem entre os seus objetivos o alinhamento da regulação de produtos para saúde, com esforço colaborativo dos países, que atualmente trabalham de forma isolada. Entre as agências parceiras estão a TGA (Therapeutic Goods Administration), da Austrália; a canadense HC (Health Canada); e a americana FDA (US Food and Drug Administration). O Japão participará desta primeira etapa como observador.
BNDES financia empresas de saúde em segmentos estratégicos

Pedro Palmeira, chefe do Departamento de Produtos Intermediários, Químicos e Farmacêuticos do BNDES: “As maiores oportunidades estão nos segmentos onde as empresas brasileiras têm melhores condições de competir: equipamentos eletromédicos e implantes, principalmente os projetos de média complexidade tecnológica”
Nove entre dez empresas nacionais de equipamentos médicos são de pequeno e médio porte. Apesar de ser muito atrativo como mercado, o Brasil ainda tem inserção competitiva modesta na indústria da saúde, que lida com tecnologia sofisticada e é dominada por países desenvolvidos. Em torno de 50% das vendas mundiais de equipamentos são realizadas por empresas norte-americanas, 30%, por europeias e 10%, por japonesas. Nesse cenário, obter financiamento público pode fazer a diferença entre prosperar ou fechar as portas. Diversos projetos apoiados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em segmentos estratégicos têm se mostrado viáveis e podem contribuir com a redução da dependência brasileira de produtos importados.
“As maiores oportunidades estão nos segmentos onde as empresas brasileiras têm melhores condições de competir: equipamentos eletromédicos e implantes, principalmente os projetos de média complexidade tecnológica”, diz o chefe do Departamento de Produtos Intermediários, Químicos e Farmacêuticos da instituição, Pedro Palmeira. Na avaliação dele, um dos maiores desafios das empresas nacionais talvez seja o de competir em um mercado cuja tendência é oferecer soluções cada vez mais integradas. Desde 2004, o banco investiu R$ 5,6 bilhões em 110 projetos do complexo industrial da saúde, dos quais R$ 191,4 milhões em equipamentos médicos. Em 2013, um edital aprovou o financiamento de R$ 544 milhões para 45 planos de negócios em quatro linhas temáticas: as duas mencionadas, mais as de diagnósticos e de tecnologia de informação e comunicação para a saúde.
Um dos projetos financiados pelo banco, no valor de R$ 6,5 milhões, é o de um aparelho especial de raios X criado pela Gnatus, empresa brasileira que é referência internacional em equipamentos odontológicos, com sede em Ribeirão Preto (SP). “Desenvolvemos uma tecnologia de filmes fluorescentes de fósforo e leitura a laser, inovadora em termos mundiais, que utiliza uma lâmina flexível para ler a imagem da boca do paciente e enviá-la para um computador”, conta o diretor Carlos Banhos. Entre as vantagens do sistema está a melhoria na qualidade de imagem, a redução em até dez vezes na dose de radiação emitida e a eliminação do descarte de metais pesados, pois a lâmina é reutilizável. O equipamento, desenvolvido em parceria com o Instituto Atlântico, de Fortaleza, será lançado no início de 2015.
Outra beneficiária de investimento do BNDES e da Finep – empresa pública de inovação e pesquisa – é a MMOptics, que recebeu R$ 3 milhões para desenvolver um tratamento de câncer de pele com fototerapia dinâmica. “O equipamento emite luz ultravioleta e seu uso é associado a um creme que contém duas drogas fotossensíveis”, conta o diretor Luiz Antônio de Oliveira. “Depois de três horas de aplicação, as células cancerígenas absorvem o princípio ativo e ficam de cor vermelho-brilhante; isso permite ao oncologista identificar a dimensão do tumor e, em seguida, aplicar uma luz vermelha que produz uma reação química para oxidar e matar as células”. Utilizado desde o ano passado em um projeto-piloto em cem centros de saúde no país, o tratamento tem índice de cura de 94% a 96% e já beneficiou 4 mil pacientes. A partir de maio o equipamento será distribuído na América Latina pela empresa mexicana TruBios.
No complexo industrial da saúde, outro foco estratégico do BNDES é a estruturação de uma indústria nacional de biotecnologia, mercado que movimenta US$ 160 bilhões no mundo e US$ 10 bilhões no Brasil. O banco apoiou financeiramente duas novas empresas do ramo: a Orygen e a BioNovis, ambas criadas pela associação entre laboratórios farmacêuticos nacionais para fabricar medicamentos complexos a partir de células vivas. Esses medicamentos combatem doenças como câncer, artrite reumatoide e Alzheimer. “Do ponto de vista da saúde pública, é importante que o Brasil consiga produzir pela rota biotecnológica, não só para o tratamento de doenças, como para a economia de gastos”, diz Palmeira. As importações desses medicamentos custam ao governo em torno de R$ 6 bilhões por ano – 46% de todo o gasto governamental com remédios importados, embora eles representem só 2% do volume comprado.
ENTREVISTA: Carlos Gadelha
Governo economiza R$ 4,1 bi anuais com parcerias na saúde
Ao nacionalizar a fabricação de 97 produtos de saúde por meio de parcerias com empresas nacionais e estrangeiras, o Brasil economiza em média R$ 4,1 bilhões por ano, estima o governo. A política de transferência de tecnologia contribui para reduzir o déficit comercial no complexo industrial da saúde, que, na última década, saltou de US$ 2,5 bilhões para cerca de US$ 12 bilhões.
Em entrevista ao Valor, o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha, explica como funcionam as Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs). Elas seguem um modelo semelhante ao dos países asiáticos para reduzir a vulnerabilidade externa e fortalecer uma área que corresponde a 35% do esforço de ciência, tecnologia e inovação do país.
Valor – O Sr. pode informar são os objetivos e linhas de ação da política governamental de incentivo ao complexo industrial da saúde?
Carlos Gadelha – A expansão do Sistema Único de Saúde ao longo dos anos trouxe a necessidade de evolução de sua base econômica e tecnológica. Na medida em que o acesso aos produtos de saúde se expandiu, o déficit comercial do complexo econômico-industrial da Saúde se ampliou exponencialmente em termos reais. Enquanto de 2003 a 2013 o Ministério da Saúde quadriplicou as despesas com medicamentos – fruto da ampliação do acesso a novas vacinas, medicamentos para aids, câncer e outras doenças – o déficit comercial industrial passou de US$ 2,5 bilhões para cerca de US$ 12 bilhões. Em longo prazo, essa situação torna o sistema de saúde refém do contexto internacional e dos movimentos especulativos, como os observados no período 2008/2010.
Frente a este contexto, o Ministério da Saúde passou a assumir a política industrial e de inovação como uma das áreas centrais da política nacional de saúde para garantir os objetivos constitucionais de direito à saúde em bases econômicas e tecnológicas sólidas. Trata-se de um sistema produtivo que responde por 9% do PIB, 10% do trabalho qualificado e 35% do esforço de ciência, tecnologia e inovação do país. A política social se funde com a política de desenvolvimento econômico, tecnológico e industrial. Nesse sentido, o foco da política é a ampliação do acesso da população aos medicamentos e equipamentos médicos, ao mesmo tempo em que reduz a dependência tecnológica do país.
Qual é a participação do governo federal nos investimentos neste setor?
A premissa da participação do governo federal é a transferência para o setor produtivo público dos núcleos tecnológicos da biotecnologia, química avançada e equipamentos médicos. Ao contrário dos modelos lineares que partem da pesquisa para a produção, se adotou um modelo semelhante ao dos países asiáticos, que conseguiram superar a dependência, partindo do acesso da população aos produtos estratégicos e internalizando a produção progressivamente ao longo do processo. Nesse contexto, o papel principal do governo federal consiste em articular as principais instituições, privadas e públicas, buscando a efetiva internalização da tecnologia de produção e a redução da vulnerabilidade externa. O principal eixo de atuação é a constituição de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs).
Como se dá a negociação com empresas multinacionais para transferência de tecnologia, controle nacional sobre patentes e desenvolvimento interno de pesquisas e medicamentos?
O processo de transferência tecnológica que ocorre dentro das PDPs deriva da conciliação de dois fatores: relevância epidemiológica ou social e conteúdo tecnológico. A partir dessas premissas, o governo – com base nas tecnologias aprovadas pela Comissão Nacional de Incorporação Tecnológica (Lei 12.401/11) – define a lista de produtos estratégicos, as parcerias de interesse para o SUS e recebe as propostas de produtores públicos, que estabelecem parcerias com o setor privado, os quais devem atuar conjuntamente para a ampliação do acesso e a transferência de tecnologia.
O Ministério firma assim um termo de compromisso com uma unidade produtiva da Administração Pública e esta estabelece relações contratuais com o setor privado detentor de tecnologia, baseando-se no modelo criado pela Lei 12.715/12 e nos instrumentos normativos decorrentes. A operacionalização da transferência tecnológica e a atratividade da parceria são desafios recorrentes nessas negociações. Para atrair as empresas nacionais e estrangeiras, de forma a viabilizar a parceria, o governo tem se utilizado cada vez mais do seu poder de compra e prestado o apoio necessário ao laboratório público responsável pela incorporação da tecnologia. Somente no caso da vacina contra o HPV, por exemplo, a redução de preços da dose oferecida pelo SUS frente ao mercado privado foi de dez vezes (R$ 30 contra cerca R$ 300), capacitando o Brasil para uma tecnologia de fronteira mundial, além de gerar conhecimento e emprego qualificado.
Quantas parcerias com empresas estrangeiras já foram formalizadas?
A política adotada atualmente envolve o capital nacional e estrangeiro interessados em desenvolver estratégias para investir no Brasil, substituindo as antigas estratégias de apenas vender produtos para o mercado nacional. Essas transferências garantem a ampliação do acesso, a redução de preços e capacita o Brasil para tecnologias de fronteira como a biotecnologia, engenharia genética e desenvolvimento de equipamentos e dispositivos eletrônicos.
Ao todo, o país conta com 104 parcerias formalizadas – 76 parceiros envolvidos, sendo 19 laboratórios públicos e 57 privados (dividido entre empresas de capital nacional e estrangeiro de modo equilibrado) – que resultam em 97 produtos: 66 medicamentos, sete vacinas, 19 produtos para saúde e cinco parcerias envolvendo P&D. A economia média estimada com a produção nacional dos 97 produtos é de R$ 4,1 bilhões por ano. Em síntese, a relação do Brasil com as empresas estrangeiras está baseada no comércio e na importação, fundamentada no investimento, na inovação e na geração de empregos.
Reportagem publicada no Valor Econômico em 7 de abril de 2014.