Brasil inova com luz orgânica

Por Dauro Veras | Para o Valor, de Florianópolis

Uma tecnologia inovadora de iluminação que utiliza um semicondutor orgânico, desenvolvida pela Philips em parceria com pesquisadores brasileiros da Fundação Certi, promete economia de 30% a 40% de eletricidade e durabilidade três vezes maior que as lâmpadas fluorescentes compactas. Em março de 2014, a multinacional de origem holandesa pretende lançar uma família de luminárias de alta eficiência energética, fabricadas no Brasil. O convênio de cooperação EMO (em inglês, OLED para Mercados Emergentes), no valor de US$ 10 milhões e com duração de três anos, tem financiamento do Fundo Tecnológico do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES-Funtec), destinado a projetos de interesse estratégico para o país. Também conta com apoio do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), que pretende lançar este ano um programa de incentivos para desonerar este segmento industrial. Atualmente, 19% de toda a energia consumida no mundo se destinam à iluminação e a expectativa é reduzir esse percentual.

O salto evolutivo se baseia no conceito da iluminação por estado sólido. “OLED, sigla em inglês para diodo orgânico emissor de luz, é uma tinta composta por moléculas luminescentes de carbono, hidrogênio e oxigênio que é impressa sobre uma superfície plana, geralmente vidro, por onde passa uma corrente elétrica”, explica o responsável pelo projeto na Certi, engenheiro Manuel Steidle. “Diferentemente da lâmpada LED, que tem luz intensa e focada, a tecnologia OLED gera luminosidade difusa e de espectro suave, a partir de uma camada extremamente fina, de apenas 1,8 milímetro”. Há aplicações promissoras em campos como arquitetura e construção, indústrias automotiva e eletroeletrônica, iluminação pública, artes e medicina. “No fim do ciclo de vida dos produtos, o impacto dos materiais orgânicos é mínimo para o meio ambiente, ao contrário das lâmpadas fluorescentes, que usam metais pesados”, destaca o pesquisador. Ele acrescenta que as luminárias OLED serão utilizadas na Copa do Mundo e nas Olimpíadas.

Os técnicos e engenheiros da Fundação Certi estão trabalhando em melhorias para aprimorar a tecnologia de luz orgânica, denominada Lumiblade pela empresa. Essa pesquisa vem sendo desenvolvida em cooperação com um laboratório da Philips em Aachen, na Alemanha, com a fábrica de lâmpadas da multinacional em Varginha (MG) e com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), por meio do Laboratório de Materiais (LabMat) e do Instituto de Eletrônica de Potência (INEP), em Florianópolis. Em maio de 2012, o primeiro produto da parceria foi apresentado em Londres para 170 arquitetos e projetistas: o Philips LivingSculpture 3D, uma estrutura composta por 40 módulos de 25 lâminas de luz, coordenadas por computador. As lâminas possuem hastes metálicas que possibilitam a criação de planos iluminados tridimensionais, como se fossem esculturas luminosas.

Ainda este ano o governo pretende lançar um programa de incentivo ao desenvolvimento tecnológico da indústria de iluminação, semelhante ao Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores – PADIS, lançado em 2010. “Já temos rascunhos bastante evoluídos do PADIL, mas ainda é preciso fazer um ajuste fino sobre as desonerações econômicas”, informa o coordenador do Complexo Eletroeletrônico do MDIC, Alexandre Cabral. “A ideia é colocar o Brasil na vanguarda mundial em iluminação por estado sólido e criar uma plataforma para a exportação de produtos de design diferenciado com essa tecnologia”. Ele explica que o desenvolvimento nacional de semicondutores e o de displays de aparelhos eletroeletrônicos tem importância estratégica, por serem tecnologias de alta “disruptividade” – que têm o potencial de mudar rapidamente o patamar competitivo de toda uma cadeia de valor.

Publicado originalmente no jornal Valor Econômico em 20/02/2013