Posts com a tag ‘cinema’

20

Mar

07

Cinemão: Land of Plenty

Ontem vi um ótimo de Wim Wenders: Land of Plenty, de 2004 – toscamente traduzido como “Medo e Obsessão”, o que quase me fez passar batido pelo DVD na prateleira da locadora. É uma pequena jóia na coleção desse alemão que é um dos meu cineastas favoritos, diretor de obras-primas como Buena Vista Social Club, Paris,Texas e Asas do Desejo.

Land of Plenty se passa em Los Angeles e versa sobre os efeitos do 11 de setembro na vida dos dois protagonistas: um veterano da guerra do Vietnã, perturbado das idéias, e sua sobrinha de vinte e poucos anos, filha de missionários, recém-chegada da Palestina. Enquanto ele passa os dias monitorando imigrantes suspeitos de terrorismo, ela se dedica a obras de caridade em um albergue pra pessoas sem-teto. O assassinato de um paquistanês coloca os dois na mesma busca pela família dele, o que os leva a uma pequena cidade no deserto (ecos de Paris,Texas).

O tom reflexivo é pontuado por momentos de humor ácido, mas não do tipo que desperta gargalhadas. A fantasia do veterano que se imagina um agente secreto chega a ser comovente de tão ridícula e paranóica. Adorei a alegoria da cena em que a velhinha imobilizada na cama não consegue mudar o canal da TV porque o controle remoto quebrou e é obrigada a ver um discurso de Bush. Ah, a trilha sonora é redondíssima, caprichada.

Eu queria também comentar as cenas finais, em que tio e sobrinha conversam sobre os diferentes impactos provocados neles pelo atentado às torres gêmeas, mas pra não estragar o prazer de quem não viu o filme, prefiro levar esse papo por e-mail.

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16

Mar

07

Miguelices: recortando revistas

Foto reproduzida de Cineclub Normale SupCartaz pregado perto da sala do Miguel na escola, com recortes de revistas: “Figuras que não gostamos”. A escolha dele é Ronalducho com a modelo Naomi Campbell.

Na semana passada, em “Figuras que gostamos”, ele colou uma turbina de avião e o par romântico de Casablanca, Rick (Humphrey Bogart) e Ilsa (Ingrid Bergman).

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06

Mar

07

O dissidente da verdade

Morreu hoje aos 77 anos Jean Baudrillard, sociólogo e fotógrafo francês, polêmico crítico da mídia e do consumismo. Suas obras inspiraram a trilogia de filmes Matrix, que ele achou divertida, mas uma leitura ingênua da relação entre ilusão e realidade:

“Prefiro filmes como Truman Show e Cidade dos Sonhos, cujos realizadores perceberam que a diferença entre uma coisa e outra é menos evidente.”

Em 2003 ele concedeu esta entrevista a Luís Antônio Giron, da Época, com um bom resumo de suas idéias. Trecho:

“Sou um dissidente da verdade. Não creio na idéia de discurso de verdade, de uma realidade única e inquestionável. Desenvolvo uma teoria irônica que tem por fim formular hipóteses. Estas podem ajudar a revelar aspectos impensáveis. Procuro refletir por caminhos oblíquos. Lanço mão de fragmentos, não de textos unificados por uma lógica rigorosa. Nesse raciocínio, o paradoxo é mais importante que o discurso linear. Para simplificar, examino a vida que acontece no momento, como um fotógrafo. Aliás, sou um fotógrafo.”

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28

Nov

06

As Pelejas de Ojuara

Solino, amigo de Natal, me deu essa dica sobre as filmagens da adaptação de As pelejas de Ojuara, de Nei Leandro de Castro, um dos livros mais hilários que já li e muito bem escrito:

as filmagens das pelejas foram por aqui mesmo, no interior, acari, nesses cantos. marcos palmeira faz o caboclo ojuara e o filme deve se chamar “o homem q desafiou o demônio”. naum sei pq naum deixaram o título original, mt mais de acordo com a história e a temática. mas eu conversei com flavio (filho de nei leandro) e ele me disse q uma vez vendidos os direitos, o pai dele naum podia mais pitacar. vamos aguardar a estréia :)

Imagino que mudaram o nome do filme porque “Peleja” é um termo pouco usual fora da região Nordeste. O livro conta a história do caboclo Araújo, pau-mandado pela mulher e pelo sogro, que um dia, depois de muito agüentar, recebe o espírito de um guerreiro índio, muda de nome – Ojuara é Araújo de trás pra frente – e chuta o balde. Aí sai em busca de aventuras que envolvem sexo, poesia, muita risada e vários lances de realismo fantástico.

Tive a honra de conhecer um dos personagens, poeta Luís Carlos Guimarães, com quem fiz um curso de criatividade literária. Também conheci o autor, tio de um grande amigo meu, Marcello Castro. Marcello morava com seu pai, Airton, na frente da nossa casa em Ponta Negra, Natal. Os dois estão entre as pessoas mais espirituosas e pândegas que já conheci. É de família. Nei Leandro, que já colaborou nos tempos áureos do Pasquim, tem outro livro ótimo chamado O Dia das Moscas, em que um personagem tem Síndrome de Down.

~

UPDATE, 30.11.06. Jakzam observa que “peleja” é palavra bem comum aqui no Sul, sim: “Tem um ditado gaúcho que diz: não tá morto quem peleia. Este peleia é do verbo pelejar”.

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22

Nov

06

Lista de cinema 3

33) Filme de horror favorito?
Não gosto do gênero, mas O Iluminado é um filmaço.

34) Comédia Favorita?
Adoro comédias. Dos mais antigos, a versão original de A gaiola das loucas. A vida de Brian, do grupo Monty Python. Um peixe chamado Wanda. Tem um ótimo de Fellini que não é propriamente uma comédia, mas rende boas risadas: Os boas-vidas. Também gosto do humor de Woody Allen. E das atuações hilárias de Roberto Benigni em Daunbailó e Uma noite sobre a Terra. O jantar dos malas, francês que vi recentemente, é muito engraçado. Entrando numa fria, com Ben Stiller, é despretensioso e bem bonzinho. Aguardem pra breve o longa brasileiro As pelejas de Ojuara, baseado no romance de Nei Leandro de Castro. Se for fiel ao livro, é de mijar de rir.

35) Ficção-científica favorita?
2001, Odisséia no Espaço, de Kubrick. Também gostei bastante de Inteligência Artificial, de Minority Report e das duas versões de Solaris, embora o clássico de Tarkovsky seja longo demais.

36) Suspense Favorito?
A trilogia O Poderoso Chefão, sem dúvida. Menção honrosa pra Apocalypse Now.

37) Filme açucarado favorito?
Antes do Amanhecer, sobre um encontro romântico de um casal de mochileiros em Viena, e sua continuação feita dez anos depois com os mesmos atores em Paris, Antes do Pôr do Sol. Adorei.

38) Épico favorito?
E o vento levou.

39) A pior coisa de se ver um filme no cinema?
Clichês são irritantes, mas pior que isso são os filmes ruins e pretensiosos – os pretensiosos bons são perdoados.

40) A melhor coisa de se ver um filme no cinema?
O escurinho mágico diante da tela grande.

41) Se você pudesse ser qualquer personagem do cinema, quem seria?
O Homem Aranha.

41) Se você pudesse transar com qualquer personagem, com qual seria?
Satine em Moulin Rouge.

42) Se você pudesse viver “feliz para sempre” com um personagem, com quem seria?
Camila Lopez de Pergunte ao Pó (teria que mudar o final).

43) Crítico de cinema preferido?
Passo.

44) Roteirista favorito?
Paul Auster.

45) Diretor Favorito?
Federico Fellini.

46) Filme brasileiro Favorito?
Bye-Bye Brasil, de Cacá Diegues. Empatado com Cidade de Deus, de Fernando Meirelles.

47) Chaplin ou Keaton?
Os dois, cada um a seu modo.

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20

Nov

06

Lista de cinema 2

16) Spielberg preferido?
A lista de Schindler. Também gostei muito de E.T. e Munique.

17) Argentino preferido?
Diretor: Fernando Solanas. Ator: Ricardo Darín, de O filho da noiva, Nove rainhas e O Clube da lua. Três excelentes filmes, aliás.

18) Ator morto favorito?
Marcello Mastroiani. Genial em todos os filmes. Gosto especialmente da atuação dele nas obras-primas fellinianas La dolce vita e Oito e meio.

19) Ator vivo favorito?
Leonardo Camillo. Meu irmão.

20) “Character Actor” preferido de todos os tempos?
Doutor Smith, de Perdidos no Espaço.

21) Atriz morta favorita?
Dina Sfat.

22) Atriz viva favorita?
Fernanda Montenegro.

23) “Character Actress” preferida de todos os tempos?
A que fazia o seriado Jeannie é um Gênio. Na época ela povoava as fantasias sexuais da garotada.

24) Personagem cinematográfico animado favorito?
Papaléguas. Nos tempos mais recentes, a menina japonesa Chihiro (A viagem de Chihiro).

25) Trilha sonora favorita?
Pergunta difícil. Hmmm… O poderoso chefão é marcante. Outras que ficaram na minha cabeça um tempão foram as de Betty Blue, Amélie Poulain, Assédio, Noites de Cabíria.

26) Tema musical preferido de uma trilha sonora?
A música-tema de O poderoso chefão.

27) Canção favorita?
Bye-Bye Brasil, de Chico Buarque, no filme de mesmo nome. A Hard Day´s Night, em Os reis do iê-iê-iê. Que será será, daquele filme de Hitchcock (Intriga internacional, acho). E outras tantas.

28) Filme de Natal favorito?
Não consigo entrar no clima dos filmes de Natal. Deve ser por causa do contraste da neve na tela com o calor do verão.

29) Gênero cinematográfico favorito?
Não importa o gênero – comédia, noir, bangue-bangue, drama, romance, histórico, guerra, ficção científica, documentário -, desde que seja uma boa história. Não curto filmes de violência gratuita e musicais, com honrosas exceções.

30) Filme da Disney favorito?
Fantasia.

31) Faroeste favorito?
Os imperdoáveis, de Clint Eastwood.

32) Musical favorito?
Hair. Dá vontade de virar hippie e se perder por aí.

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04

Oct

06

Rolando no DVD: Ask the Dust

Vi ontem a versão cinematográfica do clássico Pergunte ao Pó, de John Fante. O diretor, Robert Towne, sonhava em adaptar esse romance pras telas desde a década de setenta, mas só conseguiu dinheiro este ano. A relação tempestuosa entre o aspirante a escritor Arturo Bandini e a garçonete mexicana Camilla Lopez, nos Estados Unidos dos anos trinta, é uma das histórias de amor mais bem escritas que já li. E tem um título lindo tanto em inglês quanto em português. Devorei esse livro três vezes – na tradução afiada de Paulo Leminski – e ele me abriu as portas pra outras pequenas jóias de Fante, todas com o protagonista Bandini: Sonhos de Bunker Hill, Rumo a Los Angeles, 1933 foi um ano ruim

Gostei. É injusto cair na tentação de comparar o filme com um livro pelo qual sou fascinado. Mas vá lá, vamos à injustiça. Acho que Colin Farrell e Salma Hayek foram muito talentosos ao dar vida a personagens tão complexos – ao mesmo tempo engraçados, sonhadores, revoltados e ingênuos. A reconstituição de época tá bem feita e o clima de atração-repulsão entre Arturo e Camilla é bastante fiel ao original. Senti falta de mais equilíbrio entre drama e humor – esse último foi um pouco sacrificado -, mas isso não compromete. É uma bela história, tão rica quanto despretensiosa. Se fizer o espectador buscar nas livrarias os textos de John Fante, é também uma grande homenagem. 95/100

Foto reproduzida de adorocinema.cidadeinternet.com.br

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22

Jul

06

Paraíso agora

Esta semana vi Paradise Now, bastante oportuno neste momento de tragédia libanesa e ultra-belicismo. O filme conta a história de dois rapazes palestinos de Nablus, amigos de infância, que são recrutados para atentados suicidas em Tel Aviv. Sem discurso esquemático e com personagens de alta densidade dramatúrgica, apresenta as razões históricas do ódio entre palestinos e judeus. E deixa aberta, pra reflexão do espectador, a possibilidade do diálogo como alternativa à mútua agressão – embora a convivência pacífica entre os dois povos pareça hoje um sonho distante. Excelente! 95/100.

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22

Jul

06

Jarhead

Ontem vi Jarhead, de Sam Mendes – a gíria se refere aos marines americanos e em tradução livre poderia ser “cabeça de cuia”, mas em português foi batizado “Soldado anônimo”. Tava curioso pra ver como o diretor do ótimo Beleza Americana iria abordar a guerra do Golfo. Baseado numa história real escrita por um ex-combatente, mostra o cotidiano dos fuzileiros durante o treinamento nos EUA, depois no deserto saudita e durante o avanço pelo Kuwait. É superior à grande maioria dos filmes de guerra americanos e possivelmente bem fiel ao cotidiano dos fuzileiros. A opção do diretor foi mostrar só o ponto de vista de um lado combatente – assim como em Platoon, de Oliver Stone, o inimigo é uma sombra vislumbrada. Por outro lado, ao abrir mão da onisciência, ganha em humanidade. A narrativa se sustenta na evolução do protagonista, na descrição vívida do tédio e no clima de loucura coletiva que envolve a expectativa de matar / medo de morrer. Clássicos como Apocalypse Now e Deer Hunter são homenageados em trechos da narrativa. De certa forma, Mendes “desconstrói” o mito do guerreiro todo-poderoso ao mostrar a fragilidade dos corneados, a fuga masturbatória e outras miudezas cotidianas. Não é um filme extraordinário, mas vale conferir. 75/100.

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19

May

06

Vi e gostei

Cá estou de novo com meus comentários sobre os filmes que você provavelmente já viu no ano passado. Se ainda não viu estes, recomendo.

Melinda e Melinda, de Woody Allen. Quem não gosta dos filmes dele vai continuar não gostando. Se aprecia, como é meu caso, essa é uma boa amostra de que o diretor está em ótima forma. A vida é comédia ou tragédia? Duas histórias, com uma mesma protagonista numa mesma situação inicial, são apresentadas de maneira simultânea sob esses pontos de vista. 92/100.

Mondovino. ótimo documentário sobre a produção de vinho no mundo. De Bordeaux à Califórnia, do Pays D´Oc à Sardenha, da Toscana a Pernambuco e ao norte da Argentina, o diretor nos leva a um passeio muito interessante que envolve os aspectos culturais, comerciais, políticos e filosóficos dessa bebida milenar. Achei curioso que os cachorros dos entrevistados são uma presença constante nas imagens. Podia ser um pouco mais curto – tem mais de duas horas. 90/100.

O senhor das armas. História da vida de um traficante de armas, interpretado por Nicolas Cage (provavelmente esse filme vai ser dublado pelo mano Leo) . Taí um filme que os professores deviam levar pros adolescentes nas salas de aula, em especial nos lugares mais expostos à violência. A primeira cena é de um didatismo cru: acompanhamos uma bala de fuzil desde o momento em que é fabricada até o instante em que atinge a cabeça de um menino-soldado na África. A história pode ser fruída pelo viés da aventura e também como uma denúncia contundente dos meandros políticos do tráfico de morte, desenvolvido de forma hipócrita por todos os cinco membros do conselho de segurança da ONU (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China). 95/100.

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