24
May09
Lido & Leno: Single&Single e Bartleby e companhia
Single&Single não é dos meus livros favoritos de John Le Carré, mas prende do início ao fim. É um thriller de suspense sobre lealdade versus traição – tema recorrente na obra do escritor. Os cenários são a Inglaterra, a Turquia mediterrânea, a Rússia e a Geórgia. Sai de cena a guerra fria de seus primeiros romances, entra o crime organizado em tempos de desarticulação da União Soviética. Um escritório de advogados britânicos, especializado em lavar dinheiro, passa a fazer grandes negócios com parceiros da máfia georgiana, mas em certo momento as coisas desandam. Pontos altos pra densidade psicológica do protagonista, sócio do pai na firma que dá título ao livro, e pra verossimilhança da história. Ponto negativo pro ritmo desigual -tive a impressão que deu uma acelerada excessiva no fim. Se você ainda não conhece Le Carré, sugiro começar por O espião que saiu do frio ou O jardineiro fiel. Mas se já conheceu e gostou, recomendo. O homem domina o ofício.
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Comecei a ler Bartleby e companhia, de Enrique Vila-Matas. É sobre a impossibilidade de escrever, com muitas histórias curiosas sobre pessoas que escreveram um ou dois livros – ou nenhum, apesar da vontade ou vocação – e se afastaram pra sempre da literatura. Melville, Rimbaud, Salinger, Rulfo e muitos outros. Depois escrevo sobre o livro… se conseguir.
22
May09
Os direitos inalienáveis do leitor
O prazer da leitura é um tema que me interessa muito. E devia interessar também a todos os pais e professores, que, muitas vezes, na maior das boas intenções, terminam criando aversão nos filhos/estudantes ao obrigá-los a certas coisas, como ler O Guarani sem preparação e estímulo prévios. A propósito, encontrei essa lista bacana e divido com vocês: Os direitos inalienáveis do leitor, por Daniel Pennac, em “Como um Romance” (citado em Peciscas, onde cheguei pela dica de Lady Rasta). Comentei abaixo de cada tópico.
1 – O direito de não ler
Não li Ulysses nem O monge o e executivo. Nem a maioria dos livros escritos pela humanidade, aliás. Minhas Mil e uma noites não chegam a um trimestre.
2 – O direito de saltar páginas
Gosto de abrir um livro novo pelo meio e bisuiar umas linhas antes de começar pelo começo. Amei Rayuela, do maluco do Cortázar.
3 – O direito de não acabar um livro
Pode me xingar, mas parei no primeiro capítulo de Os Sertões, de Euclides da Cunha. Dizem que a partir do segundo a coisa engrena.
4 – O direito de reler
Releituras recentes: Os vagabundos iluminados (Kerouac), Sagarana (Guimarães Rosa), Cai o pano (Agatha Christie).
5 – O direito de ler não importa o quê
Bula de remédio, rótulo de caixas de sucrilhos, Tex, pulp fiction…
6 – O direito de amar os “heróis” dos romances
Larry de O fio da navalha (Somerset Maugham); Bandini, de Pergunte ao pó (John Fante); Tarzan, de E. R. Burroughs; Huckleberry Finn, de Mark Twain.
7 – O direito de ler não importa onde
No ônibus; na praia; comendo (se tou sozinho) e descomendo. Meu lugar preferido é a rede embaixo das árvores. E um dos mais desconfortáveis é a tela do computador.
8 – O direito de saltar de livro em livro
8b: e o direito de espalhar livros não lidos pela casa toda, pra esbarrar neles por acaso.
9 – O direito de ler em voz alta
Pros meninos antes de dormir. Monteiro Lobato em voz alta é uma delícia. Imito as vozes de Emília, do Visconde, de Pedrinho, de Dona Benta…
10-O direito de não falar do que se leu.
Comentar livro erótico é que nem sair contando como foi a transa.
20
May09
Barca dos Livros precisa de um PC
A biblioteca Barca dos Livros, um fantástico projeto cultural de incentivo à leitura que funciona a duras penas na Lagoa da Conceição, em Floripa, está precisando de um computador (configuração mínima de 233 mhz, 128 MB RAM, HD de 4 GB, unidade de CD-ROM ou DVD). Se você quiser doar ou souber de alguma pessoa ou empresa que se disponha, o contato é pelo fone 48/ 3879-3208 ou pelo e-mail administracao [arroba] amantesdaleitura.org
12
May09
Lido & Leno: Noites Tropicais e Single&Single
Com nove anos de atraso, li o ótimo Noites Tropicais, de Nelson Motta. Ele combina sua autobiografia com uma viagem deliciosa à história recente da música brasileira. E o leitor pega carona. Muitas músicas que ele cita foram trilhas sonoras de minha infância, adolescência e do início da vida adulta. Daqui a um tempo quero conhecer o audiobook. Esse livro é perfeito pra ser ouvido.
Comecei Single & Single, de John Le Carré, autor de O espião que saiu do frio e dO Jardineiro fiel, que virou filme nas mãos de Fernando Meirelles. Leitura leve e prazerosa pra balancear uma fase de outros textos pedreiras de trabalho. Também comecei O picapau amarelo, do mestre Monteiro Lobato, em que as personagens de ficção se mudam pro sítio de Dona Benta. Quase todas as noites leio um capítulo pros meninos antes de dormir. E pra mim mesmo, claro.
02
May09
Risíveis promessas
Marcos Donizetti começou hoje no seu novo blog uma série de contos ilustrados por fotos de seus leitores. Uma foto que tirei na Lagoa da Conceição (no aniversário do Antonio Faganello) foi escolhida pra ilustrar a primeira história: Risíveis promessas. O amigo blogueiro me contou que este possivelmente vai ser o primeiro capítulo do próximo livro dele. Se voce quiser conferir mais da literatura heDonista, recomendo os contos de Meias Vermelhas & Histórias Inteiras, a serem lidos ao som de Julia, de Lennon. Sábado que vem tem mais história com foto.
26
Apr09
Nova biblioteca em Floripa
Boa notícia pra Floripa: o Sesc da Prainha abriu uma biblioteca com computadores novos conectados à internet banda larga, jornais e revistas, seção infantil e, o mais importante, acervo de qualidade. Ela é relativamente pequena, mas moderna e climatizada. Numa passada rápida pelas estantes, vi que poderia passar um bom par de anos mergulhado ali dentro antes de terminar a leitura das obras que me interessaram. Já estou de olho nuns livros de Nelson Rodrigues, Isabel Allende, José Saramago e Stephen King. No item conforto, seria muito legal se houvesse uns pufes e almofadões pelos cantos, mas já tá de bom tamanho pra começar.
A Bilica – Biblioteca Livre do Campeche – e a Barca dos Livros, na Lagoa da Conceição, são outros dois belos espaços públicos que lutam pra sobreviver na base do voluntariado e mecenato, em meio à indigência cultural a que os catarinenses são submetidos pelo poder público. Se você tiver livros parados em casa e quiser fazer a boa ação do dia, dê uma passadinha nesses lugares, aproveite o ambiente e faça sua doação. A Bilica fica na avenida Campeche, ao lado da videolocadora Bela Arte, esquina em frente ao Ateliê da Arteira, um pouco depois do mercado Dezimas no sentido Campeche-Lagoa, à mão esquerda. A Barca dos Livros está no centrinho da Lagoa, perto do ancoradouro de barcos. Em breve o café do térreo vai reabrir com delícias da culinária mineira.
24
Apr09
O portão da praia
O portão da praia é o romance in-progress da Regininha Carvalho, que ela resolveu compartilhar com os leitores à medida que escreve. Dois capítulos já estão no novo blog, aberto a comentários moderados. Bela ideia, Regininha! A primeira frase:
A casa é a velha casa de sua família, e tem acompanhado gerações e mais gerações dos Vieira desde que chegaram dos Açores.
18
Apr09
Dois jingles do tempo da República Velha
Florianópolis, cidade linda, de nome tão feio, como quem mora aqui já sabe (ou devia), foi batizada assim em 1894 como homenagem de um deputado puxa-saco ao presidente Floriano Peixoto – então ainda bem vivo -, depois que ele mandou abafar a Revolução Federalista ao custo de quase 200 fuzilamentos na Fortaleza de Anhatomirim. Li hoje uma historinha jocosa também ligada ao nome do marechal. A fonte é a biografia Rubem Braga: um cigano fazendeiro do ar, de Marco Antonio de Carvalho. Braga a ouviu na infância, de um parente mais velho, e anos depois contou ao sobrinho Edson, que a revelou ao biógrafo:
Na campanha presidencial que colocou Floriano contra Custódio de Melo, em 1890, os partidários de Melo cantavam, nas ruas: “Floriano, Floriano, que nome horrendo/ começa cheirando, acaba fedendo”. Mas seus adversários respondiam no mesmo tom: “Custódio, Custódio, que nome tens tu! / Acaba com ódio, começa com cu!”
17
Apr09
Pedro e o Choro
Adri Canan tá divulgando um livro-cd infantil muito bonito: Pedro e o Choro: uma viagem pela música popular brasileira. A primeira edição está sendo quase toda distribuída de graça a professores.
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O choro me traz boas lembranças dos tempos de Rio. Um dos programas que a gente curtia muito no sábado de manhã era ir à pracinha da rua General Glicério, em Laranjeiras, ouvir os músicos tocando ao vivo.
08
Apr09
Túnel do tempo: 13 de novembro de 2007
Um mergulho no baú pra marcar os cem anos do nascimento de John Fante.
À procura da frase perfeita“Era fim de tarde quando acordei e acendi a luz. Eu me sentia melhor, menos cansado. Fui para a máquina e me sentei diante dela. Minha idéia era escrever uma frase, uma única frase perfeita. Se pudesse escrever uma frase boa, escreveria duas, e se pudesse escrever duas, escreveria três, e se pudesse escrever três, escreveria para sempre. Mas e se eu falhasse? E se eu tivesse perdido meu belo talento? (…) Tinha dezessete dólares na carteira. Dezessete dólares e o medo de escrever.”
Arturo Bandini em “Sonhos de Bunker Hill” (John Fante, 1983)







