02
Apr09
Flush – memórias de um cão
Depois de mais de um ano que peguei emprestado da amiga cachorreira Ana Paula Lückman, finalmente terminei de ler Flush – Memórias de um cão. Esse livro, escrito meio que como divertimento por Virginia Woolf (1882-1941), tornou-se um dos maiores sucessos de público da escritora britânica. É a biografia ficcional de um cocker spaniel pertencente à poeta inglesa Elisabeth Barret Browning. Conta desde a infância dele em Londres até a maturidade e velhice na colorida Itália, pra onde a poeta se mudou com o marido.
Um dos méritos do romance é que ele descreve de maneira bastante vívida os costumes do período vitoriano inglês – e, em contraste com o luxo dos casarões, as condições de indigência dos bairros periféricos de Londres de meados do século 19. Confesso que gostei mais de Niki – a história de um cão, do húngaro Tibor Déry. Mas Flush tem o seu valor e me ajudou a estudar a narrativa pelo ponto de vista não-antropocêntrico, num momento em que eu me dedicava a escrever um roteiro de um documentário suinocêntrico. Acho que os cachorreiros vão gostar.
p.s.: Dos livros “sobre animais” que já li, o mais tocante, disparado, é Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Os últimos momentos da cachorra Baleia são inesquecíveis.
Post publicado também no blog Leiturama.
02
Apr09
Balanço trimestral de leitura
Li nove livros no primeiro trimestre de 2009, três por mês. Por enquanto, a média é superior à do ano passado (2,2/mês), mas bem distante da que eu atingia em meus alegres tempos de vagabundagem pelas bibliotecas e sebos. Essa contagem é uma bobaginha estatística, claro – um dos livros tinha mais de 600 páginas, outro era fininho mas devia valer por dois; e outro ainda tinha um trecho chato que me obrigou a fazer uma leitura transversal de várias páginas. Mas é divertido anotar os títulos (estão na coluna da direita do blog), escrever um pouco sobre eles e perseguir a meta de chegar ao fim de 2009 com 50 livros lidos. A ver.
30
Mar09
18
Mar09
Travessuras da menina má
Terminei de ler – ou melhor, devorei – Travessuras da menina má, de Mario Vargas Llosa. Lindíssimo e triste também. É a história de um tradutor peruano apaixonado desde a adolescência por uma mulher. Mas eles são muito diferentes. Enquanto Ricardo é romântico e se satisfaz em levar uma vida tranquila na capital francesa como intérprete da Unesco, a mulher – que tem vários nomes – é ambiciosa, quer a todo custo sair da pobreza se casando com homens de dinheiro. Os anos vão passando e os dois se encontram em várias ocasiões, em diversas cidades do mundo – primeiro em Lima, depois Paris, Londres, Tóquio, Madri… A relação entre eles é estranha e dolorida porque ela o faz de gato e sapato, mas ele continua cada vez mais apaixonado.
Pelo caminho, o narrador – que conta a história em primeira pessoa, de forma linear – vai entremeando relatos sobre os momentos históricos que viveu, como os anos revolucionários em Paris nos anos 60, a swinging London dos hippies nos 70, a Madri em efervescência política da redemocratização dos anos 80. Também passam pela narrativa alguns grandes amigos dele e breves relatos das mudanças no Peru: golpes de estado, terrorismo do Sendero Luminoso, urbanização e favelização das grandes cidades. É um romance tocante sobre encontros e desencontros, sobre solidão, sonhos e buscas existenciais. Dos livros de Vargas Llosa que li até agora (os outros são Conversa na Catedral e Quem matou Palomino Molero?), achei o melhor.
18
Mar09
Dez contos de humor
Na terça-feira 31 de março a partir das 19h, na livraria Saraiva do xópim Iguatemi de Floripa, o amigo cartunista, escritor, roteirista da Globo e torcedor do Criciúma Zé Dassilva autografa o livro Dez Contos de Humor, escrito junto com outros nove piadistas. Em São Paulo o lançamento vai ser nesta sexta 20, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.
“A ideia é do Marcio Trigo, autor de livros infantis e diretor de TV na Globo, que inventou de criar a editora Mirabolante”, conta o Zé. Trigo vem ao lançamento de Floripa junto com outra coautora, Patricia Mellodi, que também é cantora e vai fazer um show no mesmo local no dia seguinte. O próximo lançamento já tá na gráfica e terá textos policiais, também com um conto do Zé.
16
Mar09
Europeana
Um presentão pros internautas: está aberta ao público – ainda em versão beta, sujeita a instabilidades – a Europeana, biblioteca multimídia online da Europa, com acervo cultural de mais de dois milhões de obras dos 27 estados-membros da UE, entre imagens, textos, sons e vídeos. A biblioteca conta com material fornecido por mais de mil organizações culturais. Segundo a Comissão Europeia, que lançou a iniciativa em 2005, este é “apenas o começo”: a ideia é dar acesso a pelo menos 10 milhões de obras até 2010.
O quadro acima é Jardin à l’automne, óleo sobre tela pintado em 1888 por Vincent Van Gogh, e faz parte do acervo do museu Berggruen, de Berlin.
11
Mar09
Mais um cronista de segunda
O título deste post é uma brincadeirinha com meu amigo e ex-colega de faculdade Norberto Well, que a partir deste mês publica às segundas-feiras suas crônicas no caderno Anexo de A Notícia. A crônica, esse gênero literário falsamente “menor” – como estão aí pra comprovar as obras-primas de Rubem Braga e Fernando Sabino -, requer capacidade de observação arguta das miudezas do cotidiano, naquilo que elas têm de humor e poesia. Sem falar no indispensável domínio do idioma e de certos recursos narrativos. Norberto acumula esses predicados e é um grande contador de histórias. Quem puder acompanhá-lo vai comprovar. Dois aperitivos:
Esse é do tempo do trema (sobre a reforma ortográfica e as armadilhas da língua)
Flores do perdão (uma aventura urbana para satisfazer a mulher amada)
27
Feb09
Sua resposta vale um bilhão
Terminei de ler Sua resposta vale um bilhão, livro que inspirou o filme ganhador de vários Oscars. Comentei no Leiturama.
26
Feb09
O caminho do dragão e o céu que nos protege
Neste carnaval vi pela primeira vez um filme de Bruce Lee: Way of the dragon, filmado em 1972, um ano antes de sua morte precoce aos 32. É uma comédia de ação que se passa em Roma – escrita, dirigida e protagonizada pelo próprio -, com roteiro tosco, mas belas coreografias de luta. Uma curiosidade é que o antagonista do filme é interpretado por Chuck Norris, que foi discípulo de Lee. A história desse ator, filósofo e lutador de artes marciais que se tornou um símbolo da cultura pop nos anos setenta é fascinante, como conta a Laura sobre a biografia dele, Bruce Lee – Definitivo (Marco Antonio Lopes, editora Conrad). Por exemplo, ele já foi exímio dançarino de cha-cha-cha.
Fui atrás de mais informações na Wikipedia e um link foi me levando a outro. Em 1993 o filho dele, o também ator Brandon Lee, morreu num acidente bizarro, atingido por um tiro que era pra ser de festim durante as filmagens de O corvo. Pouco antes de sua morte, Brandon Lee havia incluído no convite de seu casamento uma citação do escritor Paul Bowles (autor de The Sheltering Sky – O céu que nos protege, que foi adaptado pro cinema por Bertolucci). A citação está gravada no seu túmulo, o que levou muitos fãs a atribuírem-na ao ator:
“Because we don’t know when we will die, we get to think of life as an inexhaustible well. And yet everything happens only a certain number of times, and a very small number really. How many more times will you remember a certain afternoon of your childhood, an afternoon that is so deeply a part of your being that you can’t even conceive of your life without it? Perhaps four, or five times more? Perhaps not even that. How many more times will you watch the full moon rise? Perhaps twenty. And yet it all seems limitless…”[Minha tradução fast-food:
Por não sabermos quando vamos morrer, tendemos a pensar na vida como um bem inesgotável. Mas cada coisa acontece apenas um certo número de vezes, na verdade um pequeno número. Quantas vezes mais você vai lembrar de uma certa tarde da sua infância, uma tarde que pertence tão profundamente ao seu ser que você não consegue conceber sua vida sem ela? Talvez quatro ou cinco vezes mais? Talvez nem mesmo isso. Quantas vezes mais você vai ver a lua cheia nascer? Talvez vinte. E ainda assim tudo parece sem limites…” ]
p.s.: Se este post tivesse trilha sonora, seria Um Índio, de Caetano.
25
Feb09
A política do rebelde
Do baú, uma resenha que escrevi para a Rocco em 2001 sobre A política do rebelde – tratado de resistência e insubmissão, de Michel Onfray:
A veia anarquista que originou A política do rebelde lhe surgiu na infância, conta o filósofo francês Michel Onfray. Sua experiência de humilhações em um colégio interno e, na adolescência, o trabalho insalubre numa fábrica de queijos forjaram-lhe um visceral espírito libertário: “A autoridade me é insuportável, a dependência, intolerável, a submissão, impossível”, deixa claro no início do livro. Seu texto celebra a busca do prazer como filosofia de combate. Uma filosofia pela plenitude da vida, contrária à armadilha do ascetismo e atenta ao fato de que tudo irá desaparecer. (…)









