12

Jan

09

Vicky Cristina Barcelona, humor e charme

Primeiro cinema do ano: semana passada vi Vicky Cristina Barcelona (na sala de cinema do CIC, que já teve seus dias de glória e agora tá mofada e com o ar-condicionado quebrado). A partir de um argumento aparentemente banal, Woody Allen constroi um filme leve, sensual e engraçado sem ser hilário. Duas turistas americanas vão passar o verão em Barcelona e ficam caídas por um pintor catalão, recém-separado de uma artista passional. As aventuras e desventuras desse “quadrilátero amoroso” são contadas por um narrador em off – recurso que muitas vezes empobrece a dramaturgia, mas nesse caso, achei que deu um ar folhetinesco interessante.

Javier Bardem, no papel de “artista latino sexy-casual”, está perfeito. Os sentimentos contraditórios que ele provoca nas três mulheres – e a maneira como elas lidam com isso – são o motor da história (a versão brasileira podia se chamar “elas pintam como eu pinto”; ia fazer sucesso nas das locadoras de vídeo). As atrizes estão muito bem. Rebecca Hall faz Vicky, pra quem as emoções de Barcelona fazem questionar os planos de noivado e vida tranquila. Scarlett Johansson, a nova musa de Woody Allen, interpreta com competência, embora sem muito brilho, a mulher volúvel em busca do autoconhecimento como artista. Penélope Cruz está fantástica como Elena, a instável ex-mulher do pintor Juan Antonio. Ela acrescenta o toque de humor na pitada certa.

Retratada com a magia intensa das suas cores, sons e formas, Barcelona é uma personagem essencial à trama (não dá pra imaginar, por exemplo, Vicky e Cristina curtindo adoidado em Bruxelas). O governo da Catalunha fez um investimento rentável ao financiar o projeto. Saí do cinema louco de vontade de pegar um avião e conhecer a cidade tomando vinho tinto, coisa que os protagonistas fazem no filme inteiro (sou tão influenciável que cheguei em casa e entornei uma taça de Merlot). Enfim, Vicky Cristina Barcelona possivelmente não é o melhor de Woody Allen, mas está longe de ser dos piores e sem dúvida fica acima da média. O filme me conquistou pelo seu charme despretensioso.

p.s.: O jornalista Cláudio Versiani escreveu para Congresso em Foco suas impressões sobre Barcelona. Vale conferir.

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6 Responses:

  1. Em 15/01/09, 03:20, Marie disse:

    Dauro, dá licença:
    Raul, obrigada pelo discreto e elegante, não quis intencionalmente te corrigir.
    Mas voltando aqui, gostei do diálogo instalado. E concordo, que chegar em qualquer lugar no exterior (dos lugares bacanas, principalmente, dá uma super sensação ouvir música boa brasileira. Fico super orgulhosa. Isso é patriotismo??
    Dauro, concordo contigo, saber de alguem conhecido “inserido” num filme que vimos e gostamos, cria uma ligação a mais. Como que um atalho. E eu, hoje, fiquei lembrando deste post e do que o Raul falou e me imaginando novamente lá, misturando tudo, a cena do filme, minha estada, a possibilidade de algumas coisas, inadvertidamente serem coincidentes, contemporâneas, sincrônicas. Esse, para mim, é um efeito pimball, muito legal.
    Abraços garotos
    Marie

  2. Em 14/01/09, 11:18, Raul disse:

    Blasé também dá mole: escorreguei na grafia e coloquei no plural o “catre” de Les Catre Cats, corrigido de um jeito discreto e elegante pela Marie.
    Grato e bjs!
    Ps blasé:quando entrei no restaurante a orquestra tocava Tom Jobim. Pra um carioca foi tudo!

  3. Em 14/01/09, 03:30, Dauro Veras disse:

    Raulzito, aqui neste blog meus amigos têm direito garantido de ser blasés. Legal saber que cê esteve no restaurante. O filme ganha ainda mais significado pra mim.

  4. Em 13/01/09, 23:21, Marie disse:

    Dauro, vi o filme e adorei.
    Primeiro por que gosto de Woody, e especialmente desta fase dele agora.
    Segundo por que o que escreves é bem verdade. De um argumento banal (clichê, como disse uma amiga minha) ele faz um filme brilhante e delicioso. O Barden é o Barden, e a Penelope também é a Penelope, principalmente em filme espanhol, mas todos estão muito bem no filme.
    E concordo, foi uma delícia rever Barcelona assim. Aliás, outro filme bem bom para isso, é o “O Albergue Espanhol”. E sendo blasé como o Raul, o Les Catre Cats é um lugarzinho genial sim. Tudo lá é legal. Mesmo sendo um lugar cheio de turistas, é muito legal ver as figuras que devem rondar por lá corriqueiramente.
    Marie

  5. Em 13/01/09, 21:11, Raul disse:

    Vou fazer um comentário meio blasé, mas vale pelo lugar: jantei naquele restaurante onde ele faz o convite para a viagem e chama-se Les Catres Cat, no bairro gótico. É um lugar cheio de Picassos, pois ele quando era estudante pagava as contas com trabalhos. O cardápio também é dele. Fiquei tronxo de saudades… snif…

  6. Em 13/01/09, 14:57, Adriane Canan disse:

    Gostei bastante do filme. Vi domingo, no CIC também. Fiquei pensando na cicatriz de Vicky, depois de Barcelona…Aliás, baita cidade, estive lá em 2002 e acho que é um lugar onde moraria.


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