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Apr

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Lido & Leno: China, resenhas, imigrantes…

Em março encarei dois livros bem interessantes enquanto preparava um artigo para a edição 16 da Revista do Observatório Social: China: uma nova história (John King Fairbank e Merle Goldman), e China: radiografía de una potencia en ascenso (Romer Cornejo, coord.). Como o tempo era escasso pra deglutir os dois tijolos, precisei fazer uma leitura transversal de ambos, principalmente do primeiro, em que saltei alguns séculos (não sem certo remorso, logo deixado de lado ao lembrar dos direitos inalienáveis do leitor) pra me dedicar com mais detalhe aos tempos recentes. O segundo, da Editora El Colégio de México, é em espanhol e reúne artigos de especialistas em diversas áreas. Muito legal pra quem se interessa por geopolítica, relações internacionais, minorias étnicas, questões de gênero e combate à pobreza. Um dos artigos, escrito por Xulio Rios, aborda as relações entre China e Taiwan, tema que me atrái desde que tive a oportunidade de conhecer a ilha asiática em 1993.

Nos intervalos, me deliciei com Nick Hornby e seu Frenesi Polissilábico, que ganhei do cumpay Frank Maia. O escritor inglês reúne uma série de resenhas literárias que publicou em uma revista americana. Fiel à sua mania revelada em Alta fidelidade, no início de cada artigo ele faz duas listas: a dos livros comprados e a dos livros lidos no mês. Não é o filé de Hornby, mas mesmo assim, valeu encarar. São resenhas bem humoradas e cheias de tiradas espirituosas sobre a arte (ou vício) de ler, além de ótimas dicas, apesar de quase sempre restritas ao universo anglo-americano. A maioria dos livros e autores que ele cita, eu nunca tinha nem ouvido falar. Mas Hornby é simpático o bastante pra nos deixar bem à vontade quanto à nossa ignorância. Taí um cara com quem eu gostaria de tomar uma Guiness ou uma caipirinha. Se você é viciado em livros, recomendo o Frenesi, mas se ainda não leu Hornby, melhor começar com Um grande garoto ou Alta fidelidade.

Há poucos dias terminei A síndrome de Ulisses, do colombiano Santiago Gamboa. Aborda a vida de imigrantes ilegais. É a história de um colombiano que tenta ser escritor em Paris dos anos 90, em meio ao maior perrengue de grana, tendo que lavar pratos num restaurante coreano e fazer bicos de professor de línguas pra sobreviver. Ele faz amizade com vários imigrantes que, como ele, vivem no submundo parisiense: uma prostituta romena, um estudante marroquino, um norte-coreano com quem divide a pia do restaurante e outros. Pelo caminho, ele mata o tempo trepando com várias mulheres, investigando sobre um compatriota desaparecido, tentando superar o fora da ex-namorada espanhola e reescrevendo um romance ruim. Um dos pontos altos é a série de papos literários que ele tem com os amigos árabes e com escritores latino-americanos. Também é interessante a forma como, em determinados momentos, ele passa a narrativa em primeira pessoa aos outros personagens. Achei meio mal-amarrado em alguns trechos e foi inevitável compará-lo desfavoravelmente a outros autores que escreveram sobre a vida dura de Paris, com absoluto domínio da narrativa (Henry Miller, Paul Auster). De qualquer forma, a escrita é coloquial, flui bem e prende a atenção.

Anteontem comecei Um adivinho me contou, de Tiziano Terzani, enfaticamente recomendado pela @ladyrasta e que a Laura encontrou por R$ 9,90 num balaio de promoções. É o relato da experiência que esse jornalista italiano viveu ao passar um ano inteiro sem viajar de avião, se locomovendo entre Ásia e Europa por terra e mar. Um adivinho havia previsto que ele poderia morrer se voasse em 1993, e de fato ele se salvou de um acidente aéreo (eu também, quando era criança). Terzani questiona o modo de vida consumista, apressado e cético da cultura ocidental. As primeiras páginas já me fisgaram de jeito.

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