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Jul

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Impressões da volta ao mundo: 1a. metade

Do alto à esquerda para baixo à direita: Jaipur, Índia; Bali, Indonésia; Nova Zelândia; São Petersburgo, Rússia; casamento indiano; Templo da Literatura em Hanoi, Vietnã.

Primos Ricardo e Renilza, de Minas Gerais, partiram em fevereiro numa aventura de volta ao mundo em um ano, começando pela Oceania, Sudeste Asiático e em seguida a China e a Rússia pela Ferrovia Transiberiana. Agora chegaram à metade da viagem e estão na Polônia. Eles me concederam esta entrevista por e-mail.

1. O que muda nas vidas de vocês com esta aventura? Depois, vão conseguir encarar a rotina da mesma forma?

Ricardo: Esta também é uma pergunta que me faço. Acredito que será gostoso voltar a ter uma rotina casa-trabalho-casa. Não há como negar que esta viagem muda nossa vida e isto mudará a forma como vemos as coisas. Espero me tornar mais paciente e menos preocupado. Mas não sei realmente como serei depois.

2. Numa volta ao mundo, vale mais planejamento ou improviso?

Ricardo: Vale mais o planejamento, mas principalmente por a viagem ser tão longa tem que saber improvisar. Digamos, 60%/40%. Ma outra coisa muito importante é o controle da viagem, como registro dos gastos, dos fatos, organização de fotos, contatos regulares com amigos e parentes, saúde, etc. Sem planejamento você nem sai do Brasil. Para comprar um bilhete de volta ao mundo é preciso ter definido a direção, os países principais, vistos exigidos, etc. Outras coisas importantes: planejamento financeiro, pessoas que serão os contatos no Brasil, quem cuidará das suas coisas etc. O improviso te ajuda a sair de encrencas e a economizar. Lavar roupas em garrafas de 1L cortadas, usar cadarços como varais, fazer desenhos e gestos quando o inglês falha. A cidade é cara? Procure a Chinatown!

3. Três experiências maravilhosas.
Renilza: Contato com as crianças de uma escola no Nepal, mergulhar na ilha de Bunaken na Indonésia, visitar o museu da guerra em HCMC [Ho Chi Minh City] no Vietnam.

4. Três roubadas. E dicas de como evitar.

Ricardo: A – Perder os cartões de crédito no aeroporto de Moscou e ter que dispensar canivetes, tesoura, cremes de cabelo, tudo por causa de bagunça com horários. Como evitar: deixar o dia de partida de algum lugar todo dedicado a isto. Se puder, chegue 4 ou 5 horas antes do voo. Se tudo estiver tranquilo o tempo não é perdido. Se pode ler, usar internet e mesmo apreciar o aeroporto, que às vezes é muito interessante.
B – Tentar fazer turismo de baixo custo na Índia. Se não quer passar aperto, raiva e ficar doente, é preciso escolher bem a época (fuja de monções e da pré-monções, que é muito quente), reservar tempo, dinheiro e planejar muito bem.
C – Bagagem grande. Não foi o nosso caso. Nossas bolsas são as menores que vimos nesta viagem. Mesmo assim poderíamos ter saído do Brasil com menos coisas. Bagagens grandes impossibilitam caminhadas maiores, toma mais tempo para fazer e desfazer, te faz perder coisas no meio da bagunça, dificulta sua estadia em lugares pouco espaçosos, te impede de pagar voos baixo custo, etc.

5. Até o momento, qual foi a boa surpresa e a maior decepção? Por quê?

Ricardo: Surpresa: os alemães! Tínhamos uma imagem deles de pessoas muito formais, fechadas e demasiadamente preocupadas com organização. E aprendemos o contrário. São os as pessoas que mais viajam, são educados, bem informados e despreocupados. ótima companhia. Decepção: Índia. Criamos expectativas, muitas delas baseadas em depoimentos muito romantizados sobre o país.

6. Vestir camisetas da seleção brasileira ajuda os viajantes? E do Cruzeiro e Atlético?

Renilza: Até agora a do Brasil ajudou pouco e dos times mineiros quase nada. Ás vezes ajuda a iniciar um conversa com quem gosta de futebol.

7. Como estão os preços em comparação com o Brasil? Qual foi o país mais caro e o mais barato até o momento?

Renilza: Bem, saímos do Brasil com o dólar a R$1,78 e agora já está a 2,05. Este é realmente um problema. Os custos variam muito de um lugar para outro e isto tem ajudado a definir para quais países vamos. O país que tivemos os maiores gastos diários foi a Nova Zelândia, mas aproveitamos bem. Mas o país mais caro com certeza é a Austrália. O mais barato foi o Vietnam. E o custo/benefício lá é excelente.

8. Existe rotina na viagem? Como é um dia típico do casal?

Ricardo: Por incrível que pareça, existe! Há uma dezena de coisa que temos que fazer com rotina: registro de gastos, organização de fotos, postagens, brigar com os gerentes de bancos por e-mail, etc. A cada cidade temos que entender o transporte público, localizar nosso hotel, a cama, lavar roupa, descobrir como e o que comeremos, estudar as atrações, a próxima cidade, reservar o próximo hotel… há sempre muito trabalho e não há diferença entre domingo e meio de semana. Estamos sempre com um monte de coisas para fazer. Mas o melhor é que quando bem entendemos, podemos parar tudo e ficar de bobeira no quarto, navegando na internet, lendo, jogando baralho…

9. Vocês acabam de percorrer a Transiberiana, maior ferrovia do mundo. Que dicas dão pra quem quiser aproveitar bem essa viagem?

Renilza: Fizemos no sentido Beijing – Moscou. O maior problema tanto na China quanto na Rússia é a língua. Pouquíssimas pessoas falam inglês nas capitais, e no interior então… mas é possível comprar os bilhetes sem a intervenção de agentes ou agências, o que onera muito. A dica é reservar alguns dias para a cidade de início da viagem (Beijing, Moscou ou São Petersburgo), são todas incríveis e não será perda de tempo. Estando na cidade peça ajuda para alguém que fale inglês na compra do bilhete. Por exemplo, pedir a um funcionário do albergue para ir com você fora do seu horário de serviço. Ofereça alguns dólares por isso, se for o caso. O melhor preço é sempre comprando na estação. Já dentro do trem, crie coragem e saia procurando pessoas que falem inglês. Sempre tem alguém que arranha. Isso pode facilitar muito a viagem. Nós conseguimos comprar de várias formas, a mais usada foi pedir uma pessoa do hotel para escrever num papel os detalhes do bilhete que queríamos comprar. Os russos são mandões e às vezes são rudes, mas se te entendem, são as pessoas mais prestativas que existem. Não te deixam na mão mesmo.

10. Pra dar água na boca: onde vocês comeram melhor até o momento, e o quê? Qual é a comida mineira de que vocês sentem mais falta?

Renilza: Gostamos muito da culinária Balinesa, Tailandesa e Vietnamita. Mas realmente nenhuma supera a culinária brasileira. Na Rússia o tempero é um pouco mais parecido com o nosso. Normalmente tentamos comer os pratos mais populares da região, é mais barato e mais fresco, chegamos a apontar para o prato de outros clientes para dizer “eu quero o mesmo”. Como ficamos pouco tempo em cada país apreciamos a culinária local sem preconceitos, mas como estamos sempre mudando de lugar nossa referência continua sendo a comida mineira. Sentimos falta do frango com quiabo, pão de queijo, feijão tropeiro, feijoada como couve, humm… melhor parar por aqui.

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4 Responses:

  1. Em 06/09/12, 17:34, Heloisa G Violante disse:

    Nossa, Renilza!
    Há tantos dias sem acompanhar o blog por motivo de força maior, me surpreendi com essa entrevista! Achei ótima. Fiquei sabendo de coisas que talvez eu nem perguntasse pra vcs e vcs nem pensassem que eu iria querer saber e que adorei tomar conhecimento. Parabéns ao primo do Ricardo que proporcionou a entrevista. Bjo.

    Heloísa Violante.

  2. Em 08/08/12, 15:25, Fabricio disse:

    Muito bacana! Puxa, espero ainda conseguir ter um ano inteiro a disposição para uma viagem dessas… Se não for na juventude, vai ser na velhice mesmo, depois de aposentado! Só um comentário: a culinária brasileira realmente é maravilhosa, em especial a mineira e a nordestina, mas eu acho que assim que o teu primo passar pela Itália, ele vai deixar de considerá-la “imbatível” [risos].


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