01
Jun08
Dois palitos
Guarde este nome: Samir Mesquita. Autor de microcontos viscerais. Confira Dois Palitos. Ele também está no twitter: @samirmesquita
Uma palhinha:
Queria ser escritor. Começou mentindo para os pais.
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A página vazia era seu inferno. Branco é símbolo da paz, o caralho!
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Os repórteres o metralharam. Sem vírgulas, sem defesa.
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Viviam em pé de guerra. Até que ela jogava a calcinha branca.
23
May08
Anotações de leitura: a releitura
A arte da leitura é a da releitura. Há uns poucos livros totais, uns três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem.
…
Certa vez, um erudito resolveu fazer ironia comigo. Perguntou-me: “O que é que você leu?”. Respondi: “Dostoievski”. Ele queria me atirar na cara os seus quarenta mil volumes. Insistiu: “Que mais?”. E eu: “Dostoievski”. Teimou: “Só?”. Repeti: “Dostoievski”. O sujeito, aturdido pelos seus quarenta mil volumes, não entendeu nada. Mas eis o que eu queria dizer: pode-se viver para um único livro de Dostoievski. Ou uma única peça de Shakespeare. Ou um único poema não sei de quem. O mesmo livro é um na véspera e outro no dia seguinte. Pode haver um tédio na primeira leitura. Nada, porém, mais denso, mais fascinante, mais novo, mais abismal do que a releitura.Nelson Rodrigues – O óbvio ululante
21
May08
Anotação de leitura: Sobre o amor, etc.
Trecho de uma bela e melancólica crônica de Rubem Braga, escrita há exatos sessenta anos, sobre o que há de irremissível nas separações. O tempo perdido na distância nos transforma em outros.
Dizem que o mundo está cada dia menor.É tão perto do Rio a Paris! Assim é na verdade, mas acontece que raramente vamos sequer a Niterói. E alguma coisa, talvez a idade, alonga nossas distâncias sentimentais.
…
É horrível levar as coisas a fundo: a vida é de sua própria natureza leviana e tonta. O amigo que procura manter suas amizades distantes e manda longas cartas sentimentais tem sempre um ar de náufrago fazendo um apelo. Naufragamos a todo instante no mar bobo do tempo e do espaço, entre as ondas de coisas e sentimentos de todo dia.
…
Assim o amigo que volta de longe vem rico de muitas coisas e sua conversa é prodigiosa de riqueza; nós também despejamos nosso saco de emoções e novidades; mas para um sentir a mão do outro precisam se agarrar ambos a qualquer velha besteira: você se lembra daquela tarde em que tomamos cachaça num café que tinha naquela rua e estava lá uma loura que dizia, etc., etc. Então já não se trata mais de amizade, mas de necrológio.Sentimos perfeitamente que estamos falando de dois outros sujeitos, que por sinal já faleceram – e eram nós. No amor isso é mais pungente. De onde concluireis comigo que o melhor é não amar, porém aqui, para dar fim a tanta amarga tolice, aqui e ora vos direi a frase antiga: que é melhor não viver. No que não convém pensar muito, pois a vida é curta e, enquanto pensamos, ela se vai, e finda.
Maio, 1948
30
Apr08
O novo conto catarina: minha colaboração
Meu conto na antologia é este aqui:
–
Pura sorte
1.
Chega a pé. Sol quente, uma e meia da tarde. Casas geminadas sem jardim. Ninguém por ali, só o menino brincando com bolas de gude na calçada.
- Seu pai tá em casa?
- Tá.
Mão no bolso. Nota de cinco.
- Tome. Pra comprar de bala.
O garoto pega o dinheiro, corre para a venda e some de vista.
Sobe o degrau e empurra devagar a porta da frente, entreaberta. Na sala, um homem vê tevê sentado numa cadeira de balanço de plástico trançado. Sorri para o desconhecido, meio sem saber por quê, e se levanta.
- ‘Dia. Posso ajudar?
- Licença. O senhor é Joaquim dos Prazeres, do sindicato?
- Eu mesmo.
- Vim lhe trazer uma encomenda.
Dois tiros certeiros. Um no coração, outro na cabeça. Guarda o revólver e sai caminhando sem pressa.
2.
Demorou, mas um dia falhou. Munição velha. O sujeito reagiu, foi preciso usar arma branca. Confusão, gritaria, fuga rápida. Levou rasteira na esquina e foi algemado pelos soldados de polícia. Na prisão, o pão que o diabo. Quebraram-lhe os dedos da mão direita com cabo de fuzil, um a um. Meses depois, grade serrada e rua.
3.
Sol quente, duas da tarde. Dois meninos batem bola no campinho. Faz sinal e eles vêm.
- Conhecem Mané das Dores?
- É meu pai. Tá em casa, aquela verde ali, ó.
Duas cédulas de cinco, eles pegam rápido. O mais novo aponta a atadura na mão do homem:
- Que foi isso?
- Acidente de trabalho. Mas dei sorte. Sou canhoto.
Os meninos saem correndo para a venda. Ele caminha em direção à casa verde e empurra a porta em silêncio.
28
Apr08
Livro reúne 31 contos de novos autores catarinenses
Amanhã às 19h, no hall da Reitoria da UFSC, vai ser lançado o livro O novo conto catarina, antologia organizada pela professora Regina Carvalho para fechar as comemorações dos 25 anos da Editora da UFSC. Tive a honra de ter um conto meu selecionado junto aos de outros trinta autores. Os termos “novo” e “catarina” envaidecem este pernambucano quarentão que há 22 anos adotou Santa Catarina como amado porto seguro.
Muitos dos meus companheiros de antologia eu ainda não conheço, ou posso ter encontrado por aí, já que estamos numa ilha. Uns, conheço de nome ou de ler – Dennis Radünz, Maicon Tenfen, Aleph Ozuas. Com outros convivi em situações profissionais e sociais: Raquel Wandelli, Moacir Loth, Rubens Lunge, Marco Vasquez… O Marco é um contato recente: dia desses almoçou na minha casa e fizemos uma fogueirona no quintal pra assar tainha enquanto falávamos de literatura e da vida. Estar ao lado de tantos feras é um grande estímulo pra que eu me dedique mais à ficção. É um desejo muitas vezes colocado em segundo plano por causa das correrias do jornalismo. (p.s.: será? Anotação mental: escrever sobre isso).
Meu conto nesta coletânea se chama Pura sorte e foi publicado aqui no blog em julho de 2002. É inspirado num personagem real que viveu no interior do Ceará – com boas pitadas de invencionice pra temperar o enredo. A narrativa de aldeia aborda um tema universal sempre presente nas histórias sertanejas que eu ouvia na infância: a violência e seus agentes, com todas as contradições que carregam. O protagonista é um humano da pior espécie, pistoleiro de aluguel, mas tem uma “ética” profissional – que o impede, por exemplo, de matar as vítimas na presença de crianças. Se você encontrou semelhanças de forma com Dalton Trevisan e Eduardo Galeano, não é coincidência. Sou grande admirador da prosa sintética, despojada e forte dos dois escritores, e este conto foi um exercício de aprendiz.
Seus comentários são bem-vindos. E se estiver em Floripa nesta terça, venha tomar um vinho com a gente.
Contatos com a organizadora do livro, Regina Carvalho, podem ser feitos pelos telefones (48) 3225-9706 e 9976-7567 ou pelo e-mail regininha_carvalho@yahoo.com.br. Conheça também o blog dela, Coisas de Regininha. O número da Editora da UFSC é (48) 3721-9408.
20
Apr08
Constatação empírica e um pulo ao dicionário
Em Floripa, nos fins de semana com feriado na sexta ou na segunda-feira, sói chover sem parar. Escrevi isso só pra usar o verbo soer. É no que dá ficar em casa pensando besteira.
04
Apr08
Frases de pára-choque de msn
Meus contatos no msn estão inspirados hoje.
Oi, meu nome é André e consegui trabalhar três horas sem tomar nenhuma cerveja.
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Deus, me dê forças para terminar a mala!
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Em decantação.
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Agora sim!!! Instalado no centro.
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Aprendi com as primaveras a me deixar cortar e a retornar sempre inteira.
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Dá pra acreditar nessa merda?
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“Tu beso se hizo calor, luego el calor, movimiento, luego gota de sudor que se hizo vapor, luego viento”
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Me belisque, por favor. Será isso tudo verdade mesmo?
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[aracaju]
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Im omnia paratus
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Che cosa inventare? Qu’est ce que tu veux de moi?
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Vinzlumbrando
02
Apr08
De cronistas e passarinhos
Tou lendo 200 crônicas escolhidas – as melhores de Rubem Braga. Um encanto. Bonito e simples como um passarinho. Relatos cotidianos com toques de humor, lirismo, amor pelas pessoas e pela vida. Se alguém o descobrir depois de me ler aqui, vou considerar um presente.
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Braga e Quintana são os grandes cronistas de passarinhos. Coincidência ou não, gosto muito dos dois. Jamais em gaiolas.
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Vai um canto de sabiá-laranjeira aí? Cortesia do amigo Ayres Marques, que das lonjuras da Itália continua ligadão no Brasil.
02
Apr08
Bottom de marketing, a saga continua
Harry Plotter – soluções em comunicação visual (dica do Mauro Martini).
02
Apr08
Une bière, s’il vous plait!
Serviço de utilidade pública da revista Papo de Homem: como pedir cerveja em 50 idiomas.







