02

Oct

10

Viajando com Almir e Claudio

Um dos maiores prazeres do viajante é encontrar companhia agradável. O tempo passa mais rápido e o cansaço se dissolve no bom papo combinado à paisagem. Guardo impressão duradoura e boas histórias de momentos assim. Foi o que aconteceu no domingo passado, no final do Festival de Cinema Rural de Piratuba, no oeste de SC. A organização ofereceu uma camioneta pra levar os convidados ao aeroporto. Entrei no banco de trás e tive a grata surpresa de ver ao meu lado o músico Almir Sater. No banco da frente, ao lado do motorista (um galego tímido de quem infelizmente não guardei o nome), ia Claudio Savaget, produtor do programa Globo Ecologia.

Durante duas horas e meia, percorri com esses dois figuraços a estrada sinuosa entre Piratuba e Chapecó. Há tempo eu já era fã do mestre da viola, e fiquei mais ainda ao conhecer a dimensão humana do artista. Falamos de tudo um pouco: de cinema a filhos, de internet a berne de boi, de passarinhos a parcerias. Almir me recomendou um filme policial noir de Kurosawa que ele gostou muito, mas não lembrava o nome – creio que era Cão Danado, de 1949. Sugeri alguns do Woody Allen. Falamos de Pantanal, um ponto de virada na carreira dele e da dramaturgia de telenovelas brasileiras. Do fato de sua música não tocar em rádios e de ele se recusar a pagar “jabá”. Da indigência da música brasileira nos últimos tempos, assolada por cantores sertanejos de baixa qualidade. Almir contou que está preparando um disco com Renato Teixeira, parceiro de longa data, e não tem prazo pra terminar: quando tiverem meia hora de música e gostarem do resultado, fica pronto.

No banco da frente, Claudio contou que estava com saudade das filhas. O assunto pulou pra voos de avião e helicóptero – recordei do medo que senti quando visitei uma plataforma marítima da Petrobras em Itajaí. Claudio então recordou, em detalhes, uma história trágica: ele foi um dos sobreviventes do acidente de helicóptero com a equipe do Globo Ecologia no topo do Monte Roraima, em 1998, que resultou na morte do operador de áudio Ricardo Cardoso. O resgate teve momentos dramáticos, inclusive com acidente de outro helicóptero. No fim da história, ficou calado um bom tempo, emocionado. Aí mudamos de conversa e ele falou sobre suas andanças por Angola, Moçambique e Timor Leste. Almir falou dos rios em que gosta de pescar quando se entoca em sua propriedade no Mato Grosso do Sul. Contou uns causos engraçados de vaqueiros e de suas andanças fazendo shows pelo país.

De repente já estávamos em Chapecó. Atrasado, disparei pro guichê da companhia aérea e mal tivemos tempo de nos despedir. Combinei que, se perdesse o voo, iria procurá-los pra continuar a conversa. Mas o avião também estava atrasado e consegui embarcar. Cada um pro seu lado. Ficou a satisfação de ter entrado em sintonia com caras bons, de quem eu poderia ser amigo. E que gostaria de rever em outras oportunidades, embora a probabilidade seja remota. Quem sabe uma hora dessas a gente se encontra pra comer uma peixada em Floripa e continuar a prosa.

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One Response:

  1. Em 03/10/10, 19:48, Nana disse:

    Prezado Dauro Veras.

    Deve ter sido realmente uma maravilhosa viagem de dizer valeu a pena! por ter uma conversa tão agradavel como esta,admiro muito o trabalho do Almir Sater uma pessoa humilde de coração e humildade não é sinal de fraqueza é um dos grande violeiros deste país, nunca tive o prazer de ir ao um show do Almir, pois ele não aparece aqui no Nordeste, mas quem tem como ir, eu digo, não perca,deve ser show maravilhoso. Como diria Almir em sua letra Ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais, hoje me sinto mais forte e mais feliz……. Boa Semana Viajante!


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