Posts com a tag ‘filosofia’

22

May

10

O paradoxo das escolhas


Este vídeo tem 19’40″ e vale cada segundo. Barry Schwartz fala no TED sobre um paradoxo da vida moderna, cujo dogma é que a felicidade está vinculada à liberdade de escolher. Para ele, o excesso de opções na verdade traz paralisia e frustração. “O segredo da felicidade está em ter baixas expectativas”, brinca, a sério. “Quanto mais opções nos são oferecidas, mais ficamos desapontados com as eventuais escolhas erradas que fizemos”, diz, lembrando que essa pressão por não falhar leva a muitos casos de depressão e suicídio. Em resumo: “Não há dúvida de que alguma escolha é melhor que nenhuma, mas isso não significa que ter mais escolhas é melhor que alguma escolha”. Schwartz aponta a falsidade do mantra moderno de que não há limites para o que podemos fazer: “A ausência de algum aquário metafórico é uma receita para a infelicidade e, eu suspeito, o desastre”. Essa análise toda se aplica, claro, ao mundo ocidental capitalista desenvolvido, pois nos lugares miseráveis do mundo, o problema é a falta do que escolher. Nesse sentido, ele também faz uma interessante sugestão: a de que distribuir renda traz felicidade tanto para as pessoas pobres quanto para as que doam, pois estas estão abrindo mão da pressão para escolher tanto.

[vi este vídeo no blog Nãoenchequejátoucheia, valeu!]

p.s.: Vídeo em inglês, com legenda em várias línguas, inclusive português do Brasil.

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17

Jan

10

Contato

ContatoVi ontem Contato (Robert Zemeckis, 1997), adaptação de um romance do astrônomo e escritor Carl Sagan (1934-1996), um ferrenho crítico da pseudociência. O filme é um sci-fi razoável que aborda o primeiro contato da humanidade com uma civilização extraterrestre e os efeitos que essa expectativa provoca no mundo. Como pano de fundo, há uma interessante discussão sobre ciência versus religiosidade, ceticismo versus fé, e a possibilidade de convergência entre esses pontos de vista. Jodie Foster está excelente no papel da cientista que vasculha o espaço à procura de sinais de vida extraterrestre. O romance dela com um líder religioso (boa pinta e não-celibatário) ficou meio perdido na adaptação e não acrescenta grande coisa à narrativa. Uma frase emblemática pontua a história em várias ocasiões: o universo é tão grande que seria um desperdício se estivéssemos sozinhos.

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02

Sep

09

Alain de Botton e a filosofia do sucesso/fracasso


O filósofo Alain de Botton examina nossas ideias sobre sucesso e fracasso e questiona o que está por trás delas. Muito bom! E se você esbarrar com um livro dele por aí, compre. Vale cada centavo.

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01

Sep

09

A vida dos animais

Esses dias li A vida dos animais, do sul-africano J.M. Coetzee. Bela história metalínguística. Ele fez duas palestras numa universidade apresentando a história de uma escritora vegetariana que faz duas palestras numa universidade sobre questões éticas da relação dos humanos com os (outros) animais. Foi inspirador pro debate que tive com os participantes da Mostra de Curitiba.

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06

Apr

09

Pra que nojo?

Como “a que tarda, mas não falha” está sendo tema recorrente de hoje, me veio à lembrança um episódio bizarro que presenciei no carnaval de 1982 em Barra de Maxaranguape, RN.

A moça comia um sanduíche quando descobriu um cabelo dentro do pão. Reclamou indignada. E o balconista, uma flor de delicadeza nas relações humanas, saiu com esse consolo filosófico:

- A senhora tá cheia do nojo aí, mas quando morrer vai levar uma pá de terra na cara.

Ela saiu sem dizer nada e eu era o próximo da fila. Desisti do lanche, peguei uma cerveja e fui atrás do trio elétrico, pensando na vida.

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26

Feb

09

O caminho do dragão e o céu que nos protege

Neste carnaval vi pela primeira vez um filme de Bruce Lee: Way of the dragon, filmado em 1972, um ano antes de sua morte precoce aos 32. É uma comédia de ação que se passa em Roma – escrita, dirigida e protagonizada pelo próprio -, com roteiro tosco, mas belas coreografias de luta. Uma curiosidade é que o antagonista do filme é interpretado por Chuck Norris, que foi discípulo de Lee. A história desse ator, filósofo e lutador de artes marciais que se tornou um símbolo da cultura pop nos anos setenta é fascinante, como conta a Laura sobre a biografia dele, Bruce Lee – Definitivo (Marco Antonio Lopes, editora Conrad). Por exemplo, ele já foi exímio dançarino de cha-cha-cha.

Fui atrás de mais informações na Wikipedia e um link foi me levando a outro. Em 1993 o filho dele, o também ator Brandon Lee, morreu num acidente bizarro, atingido por um tiro que era pra ser de festim durante as filmagens de O corvo. Pouco antes de sua morte, Brandon Lee havia incluído no convite de seu casamento uma citação do escritor Paul Bowles (autor de The Sheltering Sky – O céu que nos protege, que foi adaptado pro cinema por Bertolucci). A citação está gravada no seu túmulo, o que levou muitos fãs a atribuírem-na ao ator:

“Because we don’t know when we will die, we get to think of life as an inexhaustible well. And yet everything happens only a certain number of times, and a very small number really. How many more times will you remember a certain afternoon of your childhood, an afternoon that is so deeply a part of your being that you can’t even conceive of your life without it? Perhaps four, or five times more? Perhaps not even that. How many more times will you watch the full moon rise? Perhaps twenty. And yet it all seems limitless…”

[Minha tradução fast-food:

Por não sabermos quando vamos morrer, tendemos a pensar na vida como um bem inesgotável. Mas cada coisa acontece apenas um certo número de vezes, na verdade um pequeno número. Quantas vezes mais você vai lembrar de uma certa tarde da sua infância, uma tarde que pertence tão profundamente ao seu ser que você não consegue conceber sua vida sem ela? Talvez quatro ou cinco vezes mais? Talvez nem mesmo isso. Quantas vezes mais você vai ver a lua cheia nascer? Talvez vinte. E ainda assim tudo parece sem limites…” ]

p.s.: Se este post tivesse trilha sonora, seria Um Índio, de Caetano.

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25

Feb

09

A política do rebelde

Do baú, uma resenha que escrevi para a Rocco em 2001 sobre A política do rebelde – tratado de resistência e insubmissão, de Michel Onfray:

A veia anarquista que originou A política do rebelde lhe surgiu na infância, conta o filósofo francês Michel Onfray. Sua experiência de humilhações em um colégio interno e, na adolescência, o trabalho insalubre numa fábrica de queijos forjaram-lhe um visceral espírito libertário: “A autoridade me é insuportável, a dependência, intolerável, a submissão, impossível”, deixa claro no início do livro. Seu texto celebra a busca do prazer como filosofia de combate. Uma filosofia pela plenitude da vida, contrária à armadilha do ascetismo e atenta ao fato de que tudo irá desaparecer. (…)

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25

Feb

09

Frase da vez, hoje e sempre: wasted time

Esta aqui bem que podia ser um mantra pra mim. Peguei no blog zenhabits:

“The time you enjoy wasting is not wasted time.” – Bertrand Russell

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17

Feb

09

Anotação de leitura: "tempo livre"

Alex Castro, no blog Liberal, Libertário, Libertino, cita Adorno:

As pessoas realmente livres não têm “tempo livre” porque não têm “tempo preso”: estão sempre trabalhando em seus próprios projetos pessoais.

São preciosas essas reflexões do filósofo alemão sobre tempo livre e, por extensão, à servidão voluntária à qual a maioria das pessoas se submete. A existência do sábado e do domingo como oposição prazerosa a cinco dias “úteis”, e de um mês de férias a cada ano “produtivo”, às vezes chega a parecer tão natural que nem lembramos disso como invenção humana.

Admiro quem consegue romper com essa lógica e valoriza o próprio tempo de maneira a lhe dar sentido. Alguns com mais equilíbrio, combinando diversão e trabalho com arte e engenho. Outros de maneira atabalhoada ou instintiva, em que a simples negação do sistema os livra de um fardo insuportável, mas os coloca em situação vulnerável, tendo de bater de frente com a sociedade que abomina os “losers”.

Esse assunto me lembra um livro de Somerset Maugham, O fio da navalha. Larry, o protagonista, resolveu viver a vida conforme seu desejo de realização plena, e não a vida que estava moldada pra ele pelo seu meio social. O tema da impermanência também se faz presente:

Mesmo que ao meio-dia a rosa perca a beleza que teve na madrugada, sua beleza naquele momento foi real. Nada no mundo é permanente, e somos tolos em desejar que uma coisa perdure, mas mais tolos ainda seríamos se não a apreciássemos enquanto a temos. Se a mutabilidade é da essência da existência, nada mais natural do que fazer dela a premissa da nossa filosofia.

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10

Feb

09

Anotação de leitura: contradição do ateísmo

“A descrença é uma jogada num jogo cujas regras são estabelecidas pelos que crêem. Negar a existência de Deus é aceitar as categorias do monoteísmo. Quando essas categorias caem em desuso, a descrença torna-se desinteressante e, em pouco tempo, sem sentido. … O ateísmo é um fruto tardio da paixão cristã pela verdade. Nenhum pagão está pronto para sacrificar o prazer da vida em troca da mera verdade. Prezam a ilusão artificial, não a realidade despida de enfeites. Entre os gregos, a meta da filosofia era a felicidade ou a salvação, não a verdade. A adoração da verdade é um culto cristão”. …

John Gray, citado por Carlos Magalhães em Imaginação Sociológica.

Eu tava justamente pensando nisso outro dia, em outros termos: pra ser ateu é preciso ter muita fé.

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