25

Feb

11

E as sereias

Ontem foi o primeiro dia do Miguel na escola de inglês. Um pequeno passo pra um menino de oito anos, um grande passo pra humanidade. Ele gostou bastante. Vários colegas da escola estão na mesma turma. “Brincamos de desenhar monstros e de jogar videogame, mas não podia escolher o jogo”, contou. O estudo sistemático começa num bom momento, em que ele ainda tá com a cuca fresca, já se alfabetizou na língua mãe (e pai), tá motivado e consciente da importância de aprender a língua internacional.

Quando Eirik e Hélène, nossos amigos da Noruega, nos visitaram em dezembro, conversamos muito sobre o aprendizado de idiomas. Seus três filhos são bilíngues “de berço”, pois o pai é norueguês e a mãe, francesa. Eles pesquisaram bastante o assunto, pra ver como educavam melhor as crianças. E adotaram o método de cada um falar com os filhos em sua língua materna. Assim, os pequenos cresceram falando naturalmente as duas línguas sem esforço.

Eirik comentou uma coisa interessante que eu já tinha ouvido falar: até 10 ou 11 anos de idade, a gente aprende línguas estrangeiras que é uma beleza, a coisa flui naturalmente. Depois, alguma coisa acontece no nosso cérebro e as coisas vão se tornando cada vez mais difíceis. Quanto mais cedo, melhor. No caso do Miguel, o contato com o inglês vinha desde a pré-escola (sem falar nos videogames, youtube etc.), mas pra colocá-lo num curso a gente esperou a alfabetização em português estar consolidada. Os especialistas recomendam essa espera pra não bagunçar o processo de letramento, embora o Eirik discorde (alguém aí com conhecimento de causa quer comentar?).

Enfim, tou bem feliz. Estudar inglês me abriu as porteiras do mundo: viagens, amigos, livros, cinema, trabalho. Comecei “tarde”, aos 12 anos. Is this a book? perguntava o teacher. O pessoal respondia, Yes, it is – e eu entendia “E as sereias”. Hoje me dou conta do sacrifício enorme que meus pais fizeram pra pagar por essas aulas. Valeu cada minuto. Cedo ou tarde, sempre é tempo pra começar, né? Nelson Rodrigues dizia que o adulto leva a criança enterrada em si como um sapo de macumba. Então, em algum lugar deve tar também a capacidade de aprender até maravisto e lagoaen, as duas línguas que o Bruno inventou.

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3 Responses:

  1. Em 28/02/11, 13:36, Dauro Veras disse:

    Grande Silvio! Abraços ilhéus. Volte sempre. Agora seus comentários estão pré-aprovados pelo WP :)

  2. Em 28/02/11, 13:28, Silvio disse:

    Dauro, como é bom te ler; passei aqui por acaso, há uma meia hora, e só vou sair agora que já li bastante; como é bom ler um bom texto; espero que teu pai esteja melhor; abração pantaneiro

  3. Em 26/02/11, 09:21, Fabricio Boppré disse:

    “Adultos são crianças obsoletas”, já disse alguém num invejável relâmpago de inspiração.


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