20
Apr12
Eu, produto
“Eu não estou preocupado com a política de privacidade do Facebook, porque não coloco dados que não quero que se tornem públicos… Eu não me importo que os anunciantes saibam esses dados. Algumas vezes é útil, porque eu recebo anúncios que servem para mim”. Declaração de Jon “Maddog” Hall, principal responsável pelo desenvolvimento do Linux, na ótima reportagem de capa da revista Retrato do Brasil sobre o FB. Faz sentido. E não é contraditório com o que diz o escritor e pesquisador Michael Bawens, que publica no site da Al Jazeera: “Se é grátis, então você é o produto que está sendo vendido”.
p.s.: Aí em cima, leia-se “faz sentido em termos”. Nem tudo faz sentido. E buscar a simplificação da complexidade nem sempre ajuda a gente a entender as coisas. Tem uns complementos aí nos comentários.
O assunto é bom. Permitam-me pensar um pouco em voz alta.
Pois é. Não existe almoço grátis. A pesquisa feita no Google, a compra feita na Amazon ou em outro lugar, com cartão de crédito, a movimentação no tuíter e no FB, o cadastro na companhia aérea ou na rede de hotéis, montam um perfil de “usuário” semelhante àquele que, nas cidades pequenas, o dono da venda ou da farmácia fazia intuitivamente da sua vizinhança, da sua freguesia. A diferença é que agora quem nos “vigia” são estranhos, com propósitos mais estranhos ainda, cruzando informações “inocentes” de vários bancos de dados, para conhecer-nos melhor do que nós mesmo nos conhecemos. Para sorte nossa, boa parte dessa informação, por causa do tamanho dessas bases de dados, acaba ficando anônima, agrupada em perfis genéricos por classe e categoria de consumo ou utilização.
Quanto ao que colocamos na rede: como fui jornalista a vida inteira, escrevo sempre pensando na publicação. Às vezes até em e-mails pessoais, para filhos e amigos, tomo cuidados que podem parecer exagerados. Mas é que, por vício profissional, sempre imagino que estou falando em público. E trato tuíter, FB, blog, coluna de jornal, e-mail, como o que de fato são: meios de comunicação abertos, cujo conteúdo pode ser replicado, amplificado, armazenado e redistribuído, sem que tenhamos qualquer controle sobre isso. A rede não é para amadores. Quer dizer, tem muitos amadores se expondo na rede, alegremente. Mas, para esses, os riscos são maiores. E expor-se ao ridículo é o menor deles.
Liu, vou acrescentar: faz sentido *em termos*. Veja o que comentei no FB em seguimento a esse post. Tudo a ver com o seu comentário.
Vale refletir com calma sobre isso, né Rodrigo, Joice e Daisy? Eu acho que há nuances importantes a destacar que vão além das falas de ambos os pesquisadores. A maioria das pessoas, inclusive as poucas que, como Hall e Bawens, estão conscientes do peso das informações que fornecem ao FB, não se dão conta de que mesmo dados aparentemente irrelevantes podem ter grande valor, dependendo do uso. Uma rápida lida na linha do tempo de alguém que você acabou de conhecer, p.ex., pode dar ferramentas importantes pra você avaliar essa pessoa e tomar decisões, seja do ponto de vista afetivo ou de business. Outro ponto chave é o direito de acesso do usuário às informações que ele próprio fornece, e a portabilidade delas, como assinalou Tim Berners-Lee. Hoje isso não é possível nas grandes redes sociais, que na prática se “apropriam” de tudo o que publicamos.
Em outras palavras: talvez a gente dê menos valor às informações que compartilha do que elas de fato têm. O olho clínico de jornalista sempre me faz pensar nisso quando publico em redes sociais, mesmo que miudezas. O peso da palavra, queira-se ou não, é outro, por causa da credibilidade conquistada nos anos de estrada. Há também aquelas coisas básicas que todo mundo devia saber. Se você conta que vai viajar hoje e só retorna semana que vem, dá um dado precioso pro planejamento logístico do ladrão da sua casa. Sem noia, mas tem que cuidar.
Não faz sentido não. Visto que você tem que disponibilizar um e-mail pra criar a conta e o anunciante terá o seu e-mail quando um amigo seu resolver dar like numa marca ou aceitar um aplicativo.
Disponibilizar seus dados para seus amigos não quer dizer que eles podem (e vão) repassar em cada formulário de sorteio de loja de esquina… ou tô errada?