Search Results

16

Jun

09

Lido & Lido: Millenium 2 e O silêncio da chuva

As leituras recentes são do gênero noir/policial: O silêncio da chuva, de Luiz Alfredo Garcia-Roza, e A menina que brincava com fogo, de Stieg Larssen. O primeiro é bem escrito, mas definitivamente não me fisgou. Achei os personagens rasos. É exatamente o oposto do que ocorre com os livros de Stieg Larssen, o sueco que escreveu a trilogia Millenium e morreu pouco antes de ver seus livros virarem best-sellers internacionais. Os protagonistas das histórias de Larsson são densos, complexos, contraditórios. Este segundo livro da série não chega a ser tão espetacular quanto o primeiro (Os homens que não amavam as mulheres, que já virou filme) e tem algumas cenas francamente inverossímeis, mas é daquele tipo de romance que prende a gente até a última página. O jornalista Mikael Blomkvist e a hacker Lisbeth Salander vivem mais uma vez uma aventura cheia de reviravoltas, em que ela é procurada pela polícia por triplo assassinato e ele tenta ajudá-la investigando pistas sobre uma quadrilha de tráfico de mulheres. E mais não conto, pra não tirar o prazer da sua leitura.
~
Agora resta aguardar a parte 3 de Millenium em português – e quem sabe a 4, que, segundo reportagem de Rue 59, foi hackeada do computador da viúva de Larssen.


28

Jul

11

Solidariedade à Noruega

A ausência de um comentário meu aqui antes sobre o massacre na Noruega não é indiferença, pelo contrário. É choque diante do horror além da compreensão. Tenho fortes e antigos laços de amizade com o povo norueguês. Hospitalidade, solidariedade, abertura pras diferenças, só consigo pensar em coisas boas quando lembro dos meus amigos vikings, dos amigos dos meus amigos e das pessoas com quem tive contato casual ao viajar pelo país e em outros cantos do mundo. Gente bonita, amante da paz, da natureza, das viagens e descobertas.

A riqueza que a Noruega conseguiu conquistar no século 20 graças à indústria petrolífera reverteu de fato pra redução das diferenças materiais entre os ricos e pobres (é o primeiro país no ranking mundial do IDH). Esse estado do bem-estar social, privilegiado por paisagens lindíssimas, poderia ter sido construído de maneira egoísta. Mas os noruegueses, cientes de suas responsabilidades, aplicaram parte da riqueza na melhoria da vida dos outros. Aberta à imigração, a Noruega tem sido um importante abrigo para refugiados políticos e econômicos, principalmente de países muçulmanos.

Não é um paraíso na terra, é certo. A inexistência de grandes dificuldades materiais termina levando as pessoas a se voltar para dilemas existenciais. Depressão e suicídio são recorrentes, em especial nos longos meses de inverno, em que a luz do sol vira artigo de luxo. O rígido controle do consumo de bebidas alcoólicas deriva de um histórico problema social com o alcoolismo – reforçado pela moral puritana da época em que as leis restritivas foram adotadas. Mesmo assim, a Noruega sempre foi considerada um oásis de segurança e placidez. É um dos lugares mais improváveis do mundo pra se levar um tiro.

O crime horrendo praticado pelo fundamentalista cristão de extrema direita – até o momento, tudo indica que agiu sozinho – quebrou a ilusão de que existem lugares intocados pela violência. No momento em que escrevo, as notícias que os jornais vão acrescentando para montar o quebra-cabeças do massacre são nauseantes, pela frieza como o crime foi planejado. Tenho lido diversos artigos que tentam “explicar” essa chacina, mas boa parte dos analistas tira conclusões rasas e contraditórias, como observa Christopher Hitchens em texto publicado pelo NY Times e traduzido pelo UOL (com dois erros de concordância no título).

A tragédia norueguesa é um alerta para a perigosa ascensão da extrema direita na Europa, que não pode mais ser ignorada. Recomendo a leitura deste artigo na New Yorker sobre as investigações feitas nos anos 90 pelo falecido jornalista sueco Stieg Larsson, autor da trilogia Millenium, que também aborda o assunto na ficção. Merece aplauso a declaração do primeiro-ministro norueguês de que a resposta ao atentado terrorista será uma intensificação da abertura e da democracia. Essa postura, digna de estadista, é uma das melhores homenagens que as 76 vítimas do maníaco poderiam receber.

p.s.: A personificação do mal na figura desse terrorista me fez recordar um romance marcante que li no ano passado: As Benevolentes, de Jonathan Littell, narrativa em primeira pessoa das experiências de um oficial nazista na frente russa e na administração de campos de concentração.


18

Sep

09

‘Lisbeth Salander debe vivir’ (Vargas Llosa)

Artigo de Mario Vargas Llosa em El País sobre a trilogia Millenium, do sueco Stieg Larsson:

Comencé a leer novelas a los 10 años y ahora tengo 73. En todo ese tiempo debo haber leído centenares, acaso millares de novelas, releído un buen número de ellas y algunas, además, las he estudiado y enseñado. Sin jactancia puedo decir que toda esta experiencia me ha hecho capaz de saber cuándo una novela es buena, mala o pésima y, también, que ella ha envenenado a menudo mi placer de lector al hacerme descubrir a poco de comenzar una novela sus costuras, incoherencias, fallas en los puntos de vista, la invención del narrador y del tiempo, todo aquello que el lector inocente (el “lector-hembra” lo llamaba Cortázar para escándalo de las feministas) no percibe, lo que le permite disfrutar más y mejor que el lector-crítico de la ilusión narrativa.

¿A qué viene este preámbulo? A que acabo de pasar unas semanas, con todas mis defensas críticas de lector arrasadas por la fuerza ciclónica de una historia, leyendo los tres voluminosos tomos de Millennium, unas 2.100 páginas, la trilogía de Stieg Larsson, con la felicidad y la excitación febril con que de niño y adolescente leí la serie de Dumas sobre los mosqueteros o las novelas de Dickens y de Victor Hugo, preguntándome a cada vuelta de página “¿Y ahora qué, qué va a pasar?” (…)


18

Sep

09

Drops da semana

Semana corridaça. Então, ao estilo twitter, vamos aos drops.
~
Recebi, via www.trocandolivros.com.br, Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa. Preciosidade.
~
Lendo a 3a. parte da trilogia Millenium, do sueco Stieg Larsson: A rainha do castelo de ar.
~
Artigo de Vargas Llosa em El País elogiando a trilogia Millenium: “Lisbeth Salander debe vivir”.
~
O escritor da vez em Grandes autores catarinenses, blog da Regininha, é Godofredo O. Neto.
~
Festival Internacional de Mágica em Floripa. Ganha quem fizer sumir o engarrafamento.
~
Revendo um ótimo e despretensioso filme romântico: Before Sunrise (Richard Linklater, 1995).
~
Contagem regressiva: faltam três dias para a Primavera. Chega de chuva e lama, quero praia.


15

Jun

09

Webleituras

A World of Risk for a New Brand of Journalist
“As the journalists Laura Ling and Euna Lee complete their third month of detainment in North Korea, it remains rather astonishing that they were there in the first place to report for a fledgling cable channel. But their path there may explain in part why they remain in custody”.
Brian Stelter, NY Times, sobre os perigos do jornalismo freelance.

Every news organisation should have a data store
“Is this a natural extension of the blogging culture of linking to your sources? I think it is. And the more journalists get used to publishing their work on the likes of Google Spreadsheets, the better journalism we will get”.
Paul Bradshaw, no Online Journalism Blog, sobre o uso de bancos de dados para contar histórias.

Banco Mundial rescinde contrato com a Bertin e exige dinheiro de volta: Amigos da Terra pede que o BNDES faça o mesmo
“Amigos da Terra – Amazônia Brasileira anuncia que, após três anos de acompanhamento, conseguiu confirmar, na noite de ontem [12.6], um importante objetivo de campanha: fazer com que a International Finance Corporation (IFC), braço para setor privado do Banco Mundial, voltasse atrás em sua decisão de financiar a expansão na Amazônia do frigorífico Bertin…”
Essa decisão deve ter muitas repercussões.

Exclusif : nous avons retrouvé le tome 4 de “Millénium”
“Cette fois, c’est certain : il existe bien un tome 4 de « Millénium ». Trois Suédois, fans du polar posthume de Stieg Larsson, sont parvenus à s’introduire dans l’ordinateur de l’auteur, alors entre les mains de sa compagne, Eva Gabrielsson”.
Reportagem de Rue 89 sobre a invasão, por hackers, do computador da viúva de Larsson e o vazamento do quarto volume que dá sequência à trilogia noir.


08

Jun

09

Os homens que não amavam as mulheres

Mikael Blomkvist é jornalista de economia em Estocolmo, quarentão, coproprietário da revista Millenium e especialista em reportagens investigativas sobre crimes financeiros. Lisbeth Salander é uma punk de vinte e poucos anos, exímia hacker, que trabalha como araponga freelancer. Esses dois personagens são protagonistas do primeiro livro da trilogia Millenium, do sueco Stieg Larsson. Os homens que não amavam as mulheres (Companhia das Letras, 2008) é um romance de suspense de qualidade excepcional. Suas 522 páginas conduzem o leitor por uma trama de investigação do desaparecimento de uma adolescente, integrante de uma dinastia industrial sueca, ocorrido em 1966. A missão, que transforma os dois personagens em aliados, é desvendar uma intrincada rede de conexões que envolvem violência contra mulheres, lavagem de dinheiro, conflitos familiares e bizarrices sexuais.

Questões éticas do jornalismo investigativo associadas aos meandros dos crimes financeiros e das novas tecnologias estão na pauta do romance. O principal dilema enfrentado pelo protagonista é: até que ponto uma informação socialmente relevante deve ser levada a público, quando se sabe que essa revelação pode prejudicar a vida de muitas pessoas? Outra questão que ele enfrenta é sobre o uso de práticas ilegais pra levantar informações que vão embasar uma reportagem sobre um criminoso. Lamentavelmente, a trilogia não vai ter continuação. Larsson, um influente jornalista e ativista político sueco, morreu de ataque cardíaco em 2004 aos 50 anos, pouco depois de entregar os originais aos seus editores. A segunda parte da trilogia, A menina que brincava com fogo, foi lançada em português em abril.